Quatro representantes do Fórum de Entidades do Campo e da Cidade do Alto Vale do Itajaí visitaram o acampamento das famílias sem terra na quarta-feira, 21. Famílias que chegaram no domingo, 18, na comunidade de Serra Mirador, no limite entre Rio do Campo e Salete.
As terras pertenciam a uma empresa madeireira de Salete que faliu. Atualmente pertence à União e já aconteceram dois leilões, sem aparecer interessados. A área em litígio tem em torno de 100 hectares. Desde 2015 entrou em processo judicial para o pagamento do passivo trabalhista. Nesse mesmo ano foi derrubado o pinus americano e, desde então, as terras estão paradas.
Comerciante de Salete torce para que agora os trabalhadores da cidade recebam as pendências trabalhistas para movimentar o comércio local, que perdeu muito com o fechamento do zoológico Cattoni Tur.
Entre as 27 famílias que estão reivindicando essa terra para plantar, 11 crianças, quatro idosos e 27 mulheres. Os adultos estão organizados por setor de saúde, educação, alimentação e infraestrutura.
No domingo, por volta das 7 horas, as famílias chegaram ao local. Houve muitos comentários negativos no município, mas a opinião pública logo mudou, à medida que foram circulando informações sobre as famílias e também por ser uma área em execução judicial, pertencente à União, para resolver dívida trabalhista.
A primeira decisão
O Código Ambiental de Santa Catarina prevê que seja preservada a vegetação numa faixa de 15 metros nas duas margens de córegos. A decisão deles foi de preservar 30, o dobro, de acordo com o Código Ambiental Brasileiro. Isso é muito importante para a criação e manutenção dos corredores ecológicos para preservar a flora e a fauna e cuidar bem da água.
Solidariedade
De acordo com os coordenadores do acampamento, Márcio e Ricleia, os agricultores da comunidade estão ajudando os acampados. Água é levada por um vizinho, em caixa transportada por trator. Madeireira instalada nas proximidades fez permuta e trocou sarrafos por dias de trabalho. As crianças já se beneficiam com o transporte escolar da comunidade e estão matriculadas e estudando.
Os representantes do Fórum de Entidades voltaram com a missão de organizar coleta de alimentos, roupas, colchões, cobertores, travesseiros e calçados para doar às famílias. Os coordenadores do acampamento, Ricleia e Márcio, também explicaram que nas imediações do acampamento tem um poço, mas que a água é um pouco suja. Filtros de barro seria a solução.
“Vamos fazer uma roça de alho, o tempero mais cheiroso da cozinha, para também vender e ter uma renda”, explicou Márcio.
A Reforma Agrária, o acesso à terra, a produção de alimentos saudáveis, fazem parte de uma política pública importante para a segurança alimentar e nutricional de um país que pensa no presente e no futuro. Política que fortalece a Agricultura Familiar, em benefício do conjunto da sociedade.
O acampamento foi batizado de Marielle Franco, em homenagem à vereadora brutalmente assassinada no dia 14 de março, no Rio de Janeiro (RJ).