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A Serra Catarinense mostra, cada vez mais, sua vocação para o cultivo de uvas viníferas italianas. Apesar de ainda ocuparem uma parte pequena do vinhedo, que soma quase 300 hectares e é majoritariamente composto por uvas francesas, as castas italianas estão revelando grande capacidade de adaptação aos terrenos de altitude. E têm gerado vinhos intensos, estruturados, que mesclam a tipicidade da variedade com as características próprias dos terroirs elevados. A Sangiovese e a Montepulciano estão perfeitamente adaptadas às altitudes e os plantios crescem. Outras variedades, como as tintas Refosco, Rebo e Pignolo, e brancas como a Garganega, Vermentino e Ribolla Gialla estão gerando vinhos surpreendentes.
Os pioneiros
“A Serra Catarinense está se destacando pelas uvas italianas”, afirma o produtor Saul Bianco. Em 2008 ele começou a formar, no município de São Joaquim, um vinhedo de cinco hectares apenas com castas italianas. Começou com sete variedades. Hoje são onze. Em 2014, lançou os primeiros vinhos da Leone di Venezia, uma bela vinícola com arquitetura inspirada nos edifícios do arquiteto veneziano Andrea Palladio. Com 15 rótulos e uma produção anual de 24 mil garrafas, Bianco não dá conta de abastecer o mercado. “Valeu a pena investir em uvas italianas. Os vinhos apresentam um diferencial de qualidade”, acrescenta o pioneiro.
O produtor Humberto Conti seguiu os passos de Bianco. Em 2009, ele adquiriu uma propriedade, também em São Joaquim, onde começou a formar um vinhedo de seis hectares, com doze variedades italianas. Hoje, com doze rótulos e uma produção anual de 35 mil garrafas, Conti vê seus vinhos esgotaram, safra a safra. “Nossa opção pelas uvas italianas foi certa. Hoje, vários produtores estão plantando essas variedades”, comenta.
As uvas vencedoras
Tanto Bianco como Conti salientam que nem todas as variedades italianas se adaptaram bem às altitudes. Mas a grande maioria vai muito bem. Eles citam as brancas Garganega, Gewürztraminer, Vermentino, Grechetto, Verdello, Ribolla Gialla e a Malvasia como bem adaptadas aos terroirs de altitude. E as tintas Sangiovese, Montepulciano, Refosco, Aglianico, Rebo, Pignolo, Primitivo, Pinot Nero, Corvina, Rondinella e Molinara.
Dados da Vinhos de Altitude Produtores Associados, que constam no livro técnico organizado pelos pesquisadores da Epagri Cristina Pandolfo e Luiz Fernando de Novaes Vianna para a obtenção da Indicação de Procedência (IP) Vinhos de Altitude de Santa Catarina, mostram que, em 2019, a área plantada de Montepulciano era 10 vezes maior que em 2009. E a área cultivada de Sangiovese dobrou no mesmo período. “A Montepulciano e a Sangiovese parece que nasceram para a serra”, afirma Humberto Conti.
Vinícolas de altitude como a Quinta da Neve, Suzin, Villa Francioni, Vinícola d’Alture, Tenuta Bergamaschi, Serra do Sol, Abreu Garcia, Santa Augusta, Fattoria São Joaquim, Vinícola Zanela Back, Alto da Invernadinha, Taipa Mayer, Thera, Casa Vivalti, algumas delas que começaram a produzir vinhos apenas uvas francesas, investem hoje em uvas italianas. A San Michele, de Rodeio, e a Vinícola Panceri, do Meio Oeste, também plantam e fazem vinhos com uvas italianas. Se considerar a Moscato, utilizada para a produção de espumantes doces, o número de vinícolas cresce.
Outros produtores
“Estou muito satisfeito com a Sangiovese. Ele gera um vinho com acidez suculenta. E se expressa muito bem aqui por causa do frio”, afirma José Eduardo Bassetti, da Villaggio Bassetti, de São Joaquim. Ele plantou a uva em 2009 e elabora o varietal Roberto com ela. Contente com os resultados, Bassetti se prepara para cultivar a Montepulciano. “Pelo que tenho visto, essa uva consegue aqui uma maturação completa aqui”, comenta.
“A Rebo tem se adaptado muito bem à nossa região. É uma casta produtiva e resistente”, comenta Everson Suzin, da Vinícola Suzin, de São Joaquim. Ele enxertou a Rebo sobre 1/2 hectare de raízes de Cabernet Sauvignon em 2017. Colheu e fez seu primeiro vinho com a uva já no ano seguinte. Em 2020, enxertou 1/2 hectare de Montepulciano sobre raízes (cavalos) também de Cabernet Sauvignon. E o varietal da casta está a caminho.
Suzin, que começou a produção apenas com uvas francesas, reconhece a bom desenvolvimento das castas italianas nas altitudes catarinenses. Mas diz o mesmo das francesas. “Tanto uma como a outra estão muito bem adaptadas à nossa região”, comemora.
Provei alguns vinhos de castas italianas. Veja as notas de prova.
Villaggio Bassetti Roberto 2017
100% Sangiovese. Passagem de dois anos por barricas de carvalho de 2º, 3º e 4º usos. Cor vermelho rubi. Aromas de frutas vermelhas maduras, cerejas, framboesas, notas de especiarias, toque de musgo. Acidez frutada e deliciosa, corpo agradável, taninos redondos.
Leone di Venezia Montepulciano 2019
100% Montepulciano. Quatorze meses em barricas de carvalho. Cor rubi com reflexos púrpuras. Aromas de frutas vermelhas e negras, notas de especiarias doces, chocolate, coco, ainda fechado nos aromas. Acidez muito boa, encorpado, taninos finos, harmônico.
Villaggio Conti Pignolo 2019
100% Pignolo. Estágio de dezoito meses em barricas de carvalho francês. Cor púrpura. Aromas de frutas vermelhas, ameixa, framboesa, cereja. Notas de especiarias, baunilha, chocolate, alcaçuz. Toques tostados. Acidez deliciosa, longo, intenso, taninos finos.
Suzin Rebo Pequenas Parcelas 2018
100% Rebo. Estágio de 24 meses em barricas novas de carvalho francês e americano. Aromas de frutas negras em compota, amora, mirtilo; Notas de especiarias doces, baunilha, coco, chocolate, toques tostados. Acidez agradável no paladar, encorpado, taninos presentes e finos, final longo.