Rui Car
24/05/2024 15h29

SC tem salto no número de mortes por leptospirose em 2023; entenda

Em três anos, Estado teve um aumento de 400% no número de mortes e em 119% na quantidade de infecções causadas pela doença

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Foto: Banco de dados

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Em três anos, Santa Catarina aumentou em 400% o número de mortes e em 119% a quantidade de infecções causadas pela leptospirose. Dados da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) mostram que, em 2020, foram registrados três óbitos e 144 casos da doença, contra 15 óbitos e 316 casos confirmados em 2023.

 

A leptospirose é uma doença transmitida a partir da exposição direta ou indireta à urina de animais, principalmente de ratos, infectados pela bactéria Leptospira e é comum que aumentem as notificações após períodos de enchentes. No Rio Grande do Sul, por exemplo, que vem sendo assolado pelas chuvas, já foram confirmadas quatro mortes pela doença.

 

Isso porque, quando ocorrem temporais, a água da chuva entra em contato com esgoto e poças, por exemplo, e acabam ficando contaminadas por bactérias que podem causar diversas infecções. Além da leptospirose, Ricardo Mazzon, professor de microbiologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), cita que os vírus também podem causar doenças gastrointestinais de grande relevância, como Escherichia coli, salmonela e, também, a hepatite A, por exemplo.

 

O especialista explica, no entanto, que não há dados oficiais que citem essas doenças e a relacionem com as chuvas já que, para isso, precisam ser realizados diagnósticos que identifiquem e notifiquem esses agentes etiológicos.

 

“De todas essas [enfermidades], apenas a leptospirose é uma doença compulsória, que a gente consegue fazer um levantamento em termos de incidência e prevalência“, explica Mazzon.

 

O professor também cita a dengue, que apesar da transmissão não estar diretamente ligada à água, em períodos chuvosos é comum que se formem poças, que podem ser criadouros do mosquito Aedes aegypt.

 

Além das características do momento de pluviosidade, essas enchentes basicamente acabam funcionando como métodos de disseminação dessas doenças e, por isso, algumas se tornam mais prevalentes durante o período de chuvas. A chuva em si não é um meio de disseminação de doença, mas as consequências é que são, tanto que a maior parte dessas doenças têm uma distribuição sazonal“, informa.

 

Confira os números:

 

2020

Casos: 144

Mortes: 3

 

2021

Casos: 153

Mortes: 10

 

2022

Casos: 193

Mortes: 14

 

2023

Casos: 316

Mortes: 15

 

2024*

Casos: 87

Mortes: 5

 

*Dados até 13/05/2024

 

Número de confirmações pode ser ainda maior

 

Entre os números de 2020 e 2023 há um alta relevante nos casos e mortes relacionados a leptospirose. De acordo com o professor Ricardo Mazzon, os dados de 2020 e 2021, por exemplo, podem não representar a realidade.

 

Ele lembra que neste período a população vivia em isolamento social, ocasionado pela pandemia da Covid-19, e nesses dois anos, portanto, as pessoas circularam menos e, consequentemente, se expuseram menos a essas doenças. Em 2019, cita, foram 288 casos, e nos três anos seguintes, as confirmações ficaram abaixo dessa média.

 

Todavia, a gente pode sempre esperar que quando tem anos com maiores pluviosidades, especialmente nos anos que tem incidência de El Niño, é comum a gente ver maior incidência desses casos de doenças que são associadas com enchentes“, complementa.

 

De qualquer forma, ressalta que os dados da Dive e do Ministério da Saúde são baseados em diagnósticos hospitalares, ou seja, de pessoas que buscaram atendimento após a doença. Ele cita que a maior parte dos sintomas de leptospirose são brandos e se mostram parecidos com os de uma gripe forte.

 

O que se acredita é que haja um número de casos muito maior do que esses de leptospirose que são notificados, porque esses representam o paciente que já chega mais debilitado no ambiente hospitalar e passa pelo diagnóstico e identificação do agente etiológico, que confirma o diagnóstico. Quando isso acontece, o médico é obrigado a notificar o sistema de saúde, porque a leptospirose é um agravo de notificação compulsória“, diz.

 

Papel da sociedade e do poder público

 

De maneira individual, a prevenção à leptospirose pode ser baseada em cuidados. Ricardo Mazzon destaca a importância de se evitar contato com áreas alagadas, lama, esgoto e fossa logo após uma enchente.

 

Além disso, cita que, embora a bactéria que causa a doença não seja capaz de passar pela pele íntegra, há estudos que comprovam que se a pessoa que fica por muito tempo em contato com a água das chuvas, as partes do corpo que estão submersas, com o tempo, acabam perdendo a proteção da barreira da pele e, com isso, aumentam as chances da bactéria conseguir entrar.

 

Mas todas as mucosas e qualquer tipo de ferida, por menor que ela seja, é uma porta de entrada, então a pessoa fica suscetível à infecção pela bactéria, chamada leptospira, e pode vir a ter a leptospirose“, explica.

 

O professor também reforça a importância de limpar e desinfetar adequadamente objetos e outros artigos que tiveram contato com a água das enchentes.

 

Por outro lado, cita que o papel do poder público é fazer políticas de redução de danos, como melhorar os sistemas de drenagem para evitar os quadros de enchente; e coleta de lixo com a maior frequência possível, para evitar que esses resíduos se acumulem em dias de chuva e entupam a boca de lobo, ou que, se colocados na rua, sirvam de alimento para roedores.

 

Sintomas da Leptospirose

 

Antes de mais nada, o período de incubação da bactéria Leptospira tende a ser de sete a 14 dias depois da exposição. Por isso, os sintomas dificilmente vão aparecer logo após o contato com a bactéria. De forma geral, a doença pode ter duas fases: a precoce e a tardia, sendo que cada uma tem sintomas específicos.

 

Fase precoce

 

 – Febre

 – Dor de cabeça

 – Dor muscular, principalmente nas panturrilhas

 – Falta de apetite

 – Náuseas/vômitos

 

Fase tardia

 

 – Síndrome de Weil: tríade de icterícia, insuficiência renal e hemorragias

 

 – Síndrome de hemorragia pulmonar: lesão pulmonar aguda e sangramento maciço

 

 – Comprometimento pulmonar: tosse seca, dispneia, expectoração hemoptoica

 

 – Síndrome da angustia respiratória aguda: SARA

 

 – Manifestações hemorrágicas: pulmonar, pele, mucosas, órgãos e sistema nervoso central

 

 – A Secretaria de Saúde do estado do Paraná aponta que cerca de 15% dos casos de Leptospirose evoluem para a fase tardia, e é nesse momento que o risco de morte é maior.

 

Fonte: Sabrina Quariniri / Diário Catarinense / NSC Total
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