Rui Car
15/04/2022 16h48

Semana Santa desperta tradições e celebrações entre fiéis; conheça a história

Além das cerimônias religiosas, período é marcado pela reunião das famílias

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Semana Santa, uma das celebrações mais importantes para os católicos, mobiliza fiéis em todo o mundo em homenagens, orações, meditações, retiros e muita devoção. No Brasil, a data é marcada também por tradições simbólicas que envolvem, além de muita fé, a reunião das famílias.

 

Em entrevista à CNN, o mestre em Teologia pela PUC e em Ciências da Comunicação pela USP Francisco Emílio Surian, coordenador do curso de Teologia para Leigos do Instituto de Teologia da Universidade Católica de Santos, falou sobre a importância histórica destes dias.

 

A Semana Santa é o encontro com o Jesus histórico e o Cristo da Fé. É a “Semana Maior”. Nessa semana acompanhamos os últimos dias de vida de Jesus de Nazaré na Terra e sua violenta morte na cruz por desejo dos poderosos daquela época”, diz. “Estamos diante do escândalo da cruz e da vitória da Ressurreição do Cristo da Fé”, relembra o teólogo.

 

Para o professor, essa é uma semana de conversão: tempo de pensar, rever a vida, mudar de rumo, reencontrar os propósitos e ações que conduzem para a construção de um mundo melhor, mais humano. “É a semana para lembrarmos que somos chamados a partilhar o pão, a acolher o imigrante, a cuidar do outro, da natureza e da vida”, disse.

 

Tradições populares

 

Para os católicos, a Semana Santa traz também diversas expressões populares, como a Procissão do Encontro, conforme explica o professor.

 

“De um lado, sai a imagem de “Nossa Senhora das Dores”. De outro, sai a imagem do “Senhor dos Passos”. A imagem do Jesus com a cruz nas costas e coroa de espinhos, que nos lembra sua caminhada entre a sua condenação e a crucificação. A certa altura da procissão Jesus e sua Mãe se encontram”, diz.

 

Outra celebração muito popular é a Via Sacra, que está presente em todas as igrejas.

 

A celebração da Via Sacra não é feita apenas na Semana Santa. Durante todo o ano, fiéis refletem este momento de grande importância para a fé. Na Semana Santa, a Via Sacra também é feita nas ruas, algumas vezes encenada, e em cada uma das estações as cenas da vida de Jesus são revividas por atores populares”, afirma o estudioso.

 

Outro momento de celebração popular é a Procissão do Senhor Morto. “Nosso povo tem verdadeira empatia por esta celebração”, diz Surian.

 

Na Sexta-Feira Santa, a imagem do Senhor Morto, deitado num esquife, é conduzida pelas ruas entre cantos, orações e velas acesas. Em muitos lugares, essa é a maior procissão da Semana Santa. Nosso povo sofrido entra em verdadeira sintonia com o sofrimento do Senhor”.

 

Ele acrescenta ainda outras formas de expressão popular como músicas, cantos, esculturas, pinturas e outras expressões da nossa cultura inspirada nos fatos lembrados na Semana Santa, como a encenação teatral da Morte e Ressurreição de Jesus.

 

Simbologia do Coelho da Páscoa

 

Para a Páscoa, é tradição a presença das imagens do “Coelho da Páscoa” e os “ovos de chocolate”. No Hemisfério Norte, a Páscoa acontece no início da primavera, enquanto no Hemisfério Sul estamos entrando no outono.

 

São experiências diferentes da vivência do ciclo da natureza. No Norte, a “vida reinicia” (após um longo e rigoroso inverno), e o coelho é um dos primeiros animais a sair da toca. É a vida que recomeça! Por isso a referência ao coelho. Em lugares onde a neve é abundante, a experiência da morte de toda a natureza é quebrada pela vida quando os coelhos saem das tocas em busca de comida”, explica o teólogo.

 

Tradição dos ovos de chocolate

 

A tradição dos ovos parece ser mais antiga que o próprio Cristianismo, conforme explica o entrevistado, que diz que os ovos, como símbolo da vida, já seriam trocados como presentes entre os pagãos.

 

Os cristãos assumiram essa tradição como referência à vida nova da Ressurreição de Jesus. Só bem mais tarde, pelo século 18, na França, o chocolate começa a ser usado nos ovos de Páscoa. Desde então une-se a mensagem da Ressurreição, a beleza dos ovos coloridos, e a gostosura do chocolate”, diz.

 

Loja vende ovos de chocolate para a Páscoa
Loja vende ovos de chocolate para a Páscoa (Foto: Evandro Leal / Enquadrar / Estadão Conteúdo)

Cronologia religiosa

 

As celebrações católicas da Semana Santa têm início no domingo anterior à Sexta-Feira Santa; o chamado Domingo de Ramos, explica o teólogo Francisco Emílio Surian.

 

Inicia no Domingo de Ramos. Jesus chega em Jerusalém aclamado. A entrada triunfal em Jerusalém é o início de um percurso histórico da vida de Jesus que será marcado por algumas das passagens mais impressionantes do Evangelho”.

 

Semana Santa não é feriado nem folclore. Semana Santa é a principal semana de celebração da fé no Deus Vivo que se fez homem, morreu na cruz e ressuscitou para a glória da vida!”, afirma Surian.

 

Jesus que prega o Reino de Deus. A Ceia com os discípulos, onde o pão e vinho são repartidos como expressão da Nova Aliança; a angústia no monte das Oliveiras; a traição de Judas; o Jesus torturado, a coroa de espinhos; a negação de Pedro; Pilatos que lava as mãos; Jesus que carrega sua cruz, cravos, martelos; Jesus crucificado entre ladrões; o Sol que para de brilhar; o forte grito de Jesus na hora de sua morterelata.

 

O professor diz que o Jesus que viveu entre nós foi torturado e morto porque colocava a vida acima da lei. Pois entendia que partilhar é mais importante do que acumular,  que a vida do pobre era importante. “Por tudo isso, a Semana Santa é um percurso de conversão para a vida, e vida em plenitude para todos e para toda a natureza”, afirma Surian.

 

O corpo ensanguentado nos braços de sua mãe, Maria. O corpo no túmulo. Três dias de desespero, dispersão e dor. As mulheres que se preocupam em cuidar do corpo de Jesus. O túmulo vazio. O anúncio da Ressurreição”, relata.

 

Semana Santa nas igrejas

 

Na quinta-feira ocorrem dois grandes momentos de celebração entre os católicos. Pela manhã, o bispo diocesano reúne-se com seu clero e é celebrada a memória da Instituição do Ministério Sacerdotal.

 

Nesta celebração, os padres renovam suas promessas sacerdotais. Também nesta celebração são abençoados os Santos óleos: do Crisma, dos Catecúmenos e dos Enfermos. Estes são os óleos que serão usados nas paróquias durante o ano. No período da tarde, quando também se destaca a Instituição da Eucaristia, é lembrado que os discípulos estão à mesa com Jesus comendo a Páscoa, quando Jesus passa a lavar os pés de seus discípulos”, explica o estudioso.

 

Contemplação da morte de Jesus

 

Com a celebração da Ceia do Senhor, inicia-se o Tríduo Pascal. Na Sexta-Feira Santa não se faz a celebração eucarística. Ou seja, não se celebra missa em nenhum lugar do mundo.

 

É realizada uma celebração, onde contempla-se a morte de Jesus na cruz. Na sexta-feira, toda a Igreja vivencia a morte de Jesus. Seus últimos momentos ainda de carinho com sua mãe, dedicando-a ao cuidado do discípulo amado. O dia da Paixão do Senhor termina com a experiência da dor, do grito “Tudo está consumado”. Jesus morto é colocado às pressas num túmulo novo. Para todos que viviam a história no tempo de Jesus, esse foi o momento da desilusão, do fim da esperança”, explica o professor.

 

Francisco Surian acrescenta ainda que continuamos a vivenciar esta experiência com os altares desnudos. “O silêncio que recai em toda a Igreja desde a celebração da Paixão até o sábado à noite. O dia de sábado é tempo de meditação.”

 

A experiência da morte de Jesus aprofunda-se na morte de tantos inocentes mortos pela injustiça humana, pela fome, pela guerra, pelos conflitos por disputa de terra, pela pandemia, pela má administração das verbas públicas que poderiam ter salvado milhares de vidas. A morte de Jesus também foi violenta e injusta”, frisa Surian.

 

O professor afirma também que após essa profunda experiência da dor da perda e da morte, no sábado ocorre a Vigília Pascal.

 

A celebração da Luz. A celebração do fogo novo. A ressurreição de Jesus é Luz que vence a escuridão da noite. Esta é uma das mais belas celebrações de toda a Semana Santa. Repleta de símbolos da vida, traz um grande sentido histórico”, diz.

 

Ele ressalta que o Tríduo Pascal inicia na Celebração Eucarística da quinta-feira (tarde ou noite) e termina apenas no sábado, na celebração da noite, da Vigília Pascal. Por isso a celebração da quinta-feira não tem bênção final. Ela segue na sexta-feira, na celebração da Cruz, e terminará com a Bênção final da celebração da Ressurreição da noite do Sábado de Aleluia.

 

Fonte: Anna Gabriela Costa / CNN
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