Rui Car
08/10/2021 11h09 - Atualizado em 08/10/2021 11h25

“Vômito” de baleia milionário pode ter sido encontrado em praia de SC

Pesquisador que analisou inicialmente a substância afirma que "é possível que seja" o âmbar cinza, mas é necessário análises mais profundas

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Um morador de Itajaí, no Litoral Norte de Santa Catarina, acredita ter encontrado âmbar cinza, conhecido como “‘vômito de baleia”, na praia de Cabeçudas. A substância, rara e valiosa, já deixou três pessoas milionárias na Tailândia.

 

O homem, que prefere não se identificar, contou que pratica detectorismo como hobby, prática de encontrar objetos com o auxílio de detector de metais, e que encontrou o material há alguns meses.

 

O mar estava bem agitado, tinha ressaca, e eu estava bem perto das ondas. Do nada o mar jogou a pedra praticamente nos meus pés. Era uma pedra diferente, mais leve, e na hora pensei que poderia ser o vômito de baleia”, disse o rapaz.

 

A substância expelida pela baleia cachalote é muito valorizada e utilizada por fabricantes de perfumes caros, como os franceses. É chamada âmbar cinza, um poderoso fixador para as essências mais caras do mundo. Pela raridade, os valores pagos a quem encontra o tesouro são altos.

 

Curador do museu de oceanografia da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), em Itajaí, Julles Soto afirma que apesar de difícil, é possível encontrar a substância expelida pelas baleias cachalotes.

 

É pouco provável, mas não é impossível. Como nós temos uma plataforma continental bem larga, os cachalotes são frequentes na costa catarinense, só que bem ao largo, além de 200 km da costa, aí que elas [cachalotes] começam a aparecer. É uma rota de imigração deles aqui. Já aconteceu um encalhe de cachalotes em Balneário Camboriú“, explicou o curador.

 

O morador de Itajaí chegou a levar a substância para análise do pesquisador da Univali, André Barretos, que acredita ser o âmbar cinza, também chamado de ambergris.

 

Pesquisador da Univali diz que é possível ser o âmbar cinza, “vômito” valioso de baleia, mas é necessário mais pesquisas – Foto: Arquivo Pessoal/ND

Pesquisador da Univali diz que é possível ser o âmbar cinza, “vômito” valioso de baleia, mas é necessário mais pesquisas (Foto: Arquivo Pessoal)

Ele trouxe esse material aqui no laboratório. Inicialmente, achei que poderia ser mesmo ambergris (que não é um vômito, apesar de todos falarem assim), eu só conhecia a substância por trabalhos e reportagens, nunca tinha visto ao vivo. É possível que seja, mas precisaria de uma análise por alguém que tivesse mais experiência para ter certeza”, destacou o pesquisador.

 

O possível sortudo afirmou que não quis prosseguir com as análises por medo de perder a pedra. Ele teve contato com as possibilidades de encontrar o vômito de baleia em Itajaí, através de uma reportagem do ND+ sobre as chances de se encontrar a substância no Estado.

 

Quais as chances da substância fazer um milionário em SC?

 

De acordo com o professor de Ecologia e Zoologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Paulo Simões Lopes, até existem baleias cachalotes – responsáveis por expelir o âmbar cinza – na costa brasileira, mas há um fator geográfico que tem grande influência no assunto.

 

Em primeiro lugar, temos que entender o motivo de um vômito ser tão valioso assim. Os casos na Tailândia deixaram um catador de lixo, depois um grupo de pescadores de tainha, e por fim uma dona de casa milionários. A última, Siriporn Niamrin, de 49 anos, ficou com um valor de aproximadamente R$ 1,5 milhão.

 

Pescador encontrou peça boiando na praia – Foto: Daily Mail Vlog/Reprodução/ND

Pescador encontrou peça boiando na praia (Foto: Daily Mail Vlog / Reprodução)

Não é exatamente um vômito, é um produto do intestino desses bichos, chamado âmbar cinza”, esclarece Paulo Simões Lopes.

 

O âmbar cinza é produzido pelas baleias cachalotes. Simões explica que isso acontece porque esse animal se alimenta de lulas gigantes, que proporcionam a criação da substância.

 

Essas lulas têm um biquinho, e na digestão da cachalote sobra a estrutura daquilo, que não é totalmente digerido”.

 

O professor Paulo Simões Lopes afirma que, durante sua experiência na área, já viu muitas baleias cachalote na costa brasileira.

 

No entanto, a substância valiosa é muito rara de ser encontrada nas praias do país e de Santa Catarina. Isso se deve a uma condição geográfica.

 

Em toda aquela costa entre a Tailândia e o Japão, existe uma costa abissal, o oceano é muito fundo pertinho da praia, ele desce verticalmente. E as baleias cachalotes gostam desse oceano fundo, então por lá elas acabam transitando muito perto da areia. Dessa forma, quando o âmbar cinza flutua, ele acaba, por vezes, indo parar na praia”, salienta Simões.

 

No nosso caso, a formação é diferente, como completa o professor.

 

Aqui onde estamos, é muito mais difícil essa substância aparecer. Isso porque elas ficam a uma distância de mais de 180 km da costa, não tem baleias cachalotes mais perto. É uma viagem grande, o que torna essa chegada muito mais difícil”, conclui.

 

Os “ganhadores da loteria” na Tailândia

 

O caso mais recente foi da dona de casa Siriporn Niamrin, de 49 anos. Ela encontrou um grande bloco de vômito de baleia na província de Nakhon Si Thammarat, na Tailândia.

 

Vômito de baleia faz de uma dona de casa milionária – Foto: Reprodução

Vômito de baleia faz de uma dona de casa milionária (Foto: Reprodução)

Foi sorte encontrar uma peça tão grande. Espero que me traga dinheiro. Estou mantendo-o seguro em minha casa e pedi ao conselho local uma visita para verificá-lo”, disse Siriporn ao The Sun.

 

Em 2019, o sortudo da vez foi um catador de lixo, que encontrou o vômito enquanto “garimpava a praia”.

 

Catador de lixo mostra a fonte de sua fortuna – Foto: Reprodução

Catador de lixo mostra a fonte de sua fortuna (Foto: Reprodução)

Já no início de 2021, um grupo de pescadores de tainha percebeu uma forma branca no meio das ondas, em direção à praia, enquanto empurrava o barco para a doca. Chalermchai Mahapan encontrou um pedaço de vômito de baleia, avaliado em até R$ 1,2 milhão.

 


Por: Grazielle Guimarães / ND+

 
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