Várias das conversas entre o prefeito Clésio Salvaro (PSDB) e o presidente do Criciúma, Anselmo Freitas, contam com uma pauta repetida nos últimos meses: a possibilidade de o Estádio Heriberto Hülse mudar de local. Os dois são próximos, possuem uma relação que já contabilizou parcerias em outros campos e não será surpresa se o assunto evoluir.
Mas não é uma temática nova. O ex-presidente Antenor Angeloni, figura histórica do Criciúma, já levantou a discussão algumas vezes, mas nunca em sintonia com o poder público municipal. Durante o seu mais recente mandato, de 2010 a 2015 (ele foi presidente quatro vezes), Angeloni sondou possibilidades.
Agora, o prefeito Salvaro vai além. Sugere que o entorno do Centro de Treinamento (CT) do Criciúma, que inclusive leva o nome de Antenor Angeloni e foi inaugurado em maio de 2018, receba o novo estádio. “Quem sabe, um dia, o estádio possa ir para lá. Tem terras, tem espaço ali“, observou, em recente entrevista.
O atual presidente do Criciúma reconhece as conversas com Salvaro. “Falamos disso algumas vezes sim. No começo do ano, a gente pediu e o prefeito agilizou o asfaltamento do acesso ao CT, ficou muito bom lá – lembrou Anselmo. Se vamos mudar o estádio de local já? Não sei. Mas é importante discutir isso. O nosso estádio tem muita vida útil ainda“, pontuou.
Um dos trunfos para ajudar a convencer o Criciúma a investir em um estádio na área do seu CT é a nova obra que está sendo lançada pela prefeitura, e que facilitará o acesso à estrutura que o Tigre mantém no Bairro Cristo Redentor. “Estamos construindo um viaduto sobre a Via Rápida“, anunciou Salvaro.
A Via Rápida é a rodovia inaugurada pelo Governo do Estado em dezembro de 2017 e que passa próximo do CT do Criciúma. Trata-se de um acesso a Criciúma via Içara. Com ela, algumas antigas ligações entre os bairros do entorno foram bloqueadas, como é o caso da Rua Vergínio Conti, que ganhará o viaduto ligando suas extremidades, sobre a nova rodovia. “A Via Rápida dividiu a cidade por ali. Esse viaduto será muito bom pois vai criar um ótimo acesso ao nosso CT“, concordou o presidente Anselmo.
Arquiteto aponta sugestões no mesmo local
O estádio Heriberto Hülse é um patrimônio valiosíssimo. E não são poucos os torcedores que, no passar dos tempos, já sugeriram diversas formas de melhor aproveitamento do espaço. O arquiteto Gustavo de Lucca compartilhou recentemente, nas suas redes sociais, o conteúdo do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que apresentou quando graduou-se há uma década, na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), sob o título “Espaço do Encontro: requalificação urbana do estádio Heriberto Hülse e entorno”.
“Discutia, a partir do projeto, que a área ao sul da Avenida Centenário, caracterizada por bairros adensados e pela presença marcante do estádio do Criciúma, poderia ser mais bem qualificada. O estádio, afinal, tem um papel importante no bairro e na cidade, mas poderia abrigar usos complementares, como academia, lojas, cinema, museu, que ajudariam a dar vida ao espaço público“, apontou.
Para Gustavo, uma reformulação no estádio, mantendo a atual localização, “serviria como um espaço do encontro, da vida urbana, conectado por vias qualificadas, sobretudo no eixo que o liga ao terminal de ônibus e ao centro da cidade”. “Esse equilíbrio torna a cidade mais atrativa e melhor pra se viver“, completou.
Na mesma época, em 2011, um projeto de revitalização do estádio foi apresentado pelo escritório do arquiteto Norberto Zaniboni ao Conselho Deliberativo do Criciúma.
A história
O estádio Heriberto Hülse foi inaugurado em 16 de outubro de 1955, em um amistoso do Comerciário contra o Imbituba, vencido pelo time visitante por 1 a 0. O primeiro grande jogo por disputa nacional que ali ocorreu foi em 8 de dezembro de 1968. Em jogo da semifinal da Taça Brasil, o Metropol de Criciúma ganhou do Botafogo do Rio de Janeiro por 1 a 0 mas acabou, posteriormente, eliminado da disputa. O Comerciário, então grande rival do Metropol, emprestou o estádio para a importante partida.
Também em 1968, o Comerciário foi campeão estadual mandando suas partidas no Heriberto Hülse, mas a finalíssima não ocorreu em Criciúma, mas sim em Florianópolis. Nos anos 70, o estádio resistiu à crise do futebol criciumense, com o licenciamento do Comerciário a partir de 1970. Por alguns anos, abrigou partidas da Liga Atlética da Região Mineira, competição amadora da região de Criciúma.
O Comerciário voltou ao futebol profissional em 1977, terminando o Campeonato Catarinense em terceiro lugar. Mudou o nome para Criciúma Esporte Clube em 78 e, desde então, o estádio Heriberto Hülse foi o grande palco da consolidação e do crescimento do futebol criciumense. No auge do Joinville na primeira metade dos anos 80, o Criciúma se consolidou como a segunda força estadual, ganhando o Catarinense em 1986 em casa.
O Tigre repetiu a dose em 1989, 90 e 91, ano em que faturou, também no Heriberto Hülse, a Copa do Brasil, em uma decisão com mais de 20 mil torcedores contra o Grêmio. O estádio entrou em obras, tendo sua capacidade ampliada para 25 mil torcedores visando a Copa Libertadores de 1992. Ganhou fosso (que existe até hoje) no entorno do gramado e anel completo de arquibancadas.
O Heriberto Hülse foi sendo aprimorado, chegando ao ponto de ter todos os seus lugares cobertos. Anotou o maior público da sua história em 6 de agosto de 1995, na decisão do Catarinense contra a Chapecoense. E o Tigre foi campeão, ganhando por 1 a 0. Aqueles 31.123 torcedores protagonizaram o maior público da história do futebol de Santa Catarina.
Também em seu estádio o Criciúma ganhou a Série B do Brasileiro, em 2002, e a Série C, em 2006, além de conquistar o acesso à Série B em 2010 com mais de 19 mil torcedores presentes. Em 2021, comemorou uma nova ida à Série B com a torcida tomando conta do gramado, depois da vaga garantida em uma vitória sobre o Paysandu em Belém do Pará.