Rui Car
27/12/2021 12h01 - Atualizado em 27/12/2021 12h02

Prefeito puxa discussão sobre novo estádio em Criciúma

Para o prefeito, Criciúma poderia fazer estádio no CT

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O estádio Heriberto Hülse é um orgulho da torcida do Tigre (Foto: Drones Sul / Divulgação)

O estádio Heriberto Hülse é um orgulho da torcida do Tigre (Foto: Drones Sul / Divulgação)

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Várias das conversas entre o prefeito Clésio Salvaro (PSDB) e o presidente do Criciúma, Anselmo Freitas, contam com uma pauta repetida nos últimos meses: a possibilidade de o Estádio Heriberto Hülse mudar de local. Os dois são próximos, possuem uma relação que já contabilizou parcerias em outros campos e não será surpresa se o assunto evoluir.

 

Mas não é uma temática nova. O ex-presidente Antenor Angeloni, figura histórica do Criciúma, já levantou a discussão algumas vezes, mas nunca em sintonia com o poder público municipal. Durante o seu mais recente mandato, de 2010 a 2015 (ele foi presidente quatro vezes), Angeloni sondou possibilidades.

 

Agora, o prefeito Salvaro vai além. Sugere que o entorno do Centro de Treinamento (CT) do Criciúma, que inclusive leva o nome de Antenor Angeloni e foi inaugurado em maio de 2018, receba o novo estádio. “Quem sabe, um dia, o estádio possa ir para lá. Tem terras, tem espaço ali“, observou, em recente entrevista.

 

Para o prefeito, Criciúma poderia fazer estádio no CT

Para o prefeito, Criciúma poderia fazer estádio no CT (Foto: Adriano de Souza / Criciúma EC)


O CT localiza-se em uma área periférica e carente de Criciúma, no Bairro Cristo Redentor, distante 5,9 quilômetros do estádio. O Heriberto Hülse, por sua vez, está desde 1955 estabelecido em uma área hoje nobre de Criciúma, no Bairro Comerciário. O bairro, por sinal, leva o nome do primeiro proprietário do espaço, o Comerciário Esporte Clube, fundado em 1947 e que em 1978 trocou de nome para Criciúma Esporte Clube, por ação do seu então presidente, que era Antenor Angeloni.

 

A gente fez um estudo uma vez – reconheceu Angeloni, em um bate-papo conosco em outubro de 2020, quando indagado sobre o projeto que levantou, de tirar o Heriberto Hülse do espaço atual, em área de valor milionário, para uma região mais distante do Centro, atendendo tendências mais recentes do futebol, de tirar os estádios dos núcleos centrais das cidades. O Avaí fez isso, o Grêmio também“, lembrou o prefeito Salvaro, para citar dois exemplos. 

 

Há uma década, Angeloni chegou a cogitar outra área para o Criciúma

Há uma década, Angeloni chegou a cogitar outra área para o Criciúma (Foto: Maurício Vieira / Agência RBS)


Quando fez o estudo, no começo da década passada, Angeloni cogitou uma área no Bairro Primeira Linha, nos arredores do acesso de Criciúma à BR-101 pela Rodovia Luiz Rosso. O assunto não prosperou.

 

O atual presidente do Criciúma reconhece as conversas com Salvaro. “Falamos disso algumas vezes sim. No começo do ano, a gente pediu e o prefeito agilizou o asfaltamento do acesso ao CT, ficou muito bom lá – lembrou Anselmo. Se vamos mudar o estádio de local já? Não sei. Mas é importante discutir isso. O nosso estádio tem muita vida útil ainda“, pontuou.

 

Um dos trunfos para ajudar a convencer o Criciúma a investir em um estádio na área do seu CT é a nova obra que está sendo lançada pela prefeitura, e que facilitará o acesso à estrutura que o Tigre mantém no Bairro Cristo Redentor. “Estamos construindo um viaduto sobre a Via Rápida“, anunciou Salvaro.

 

A Via Rápida é a rodovia inaugurada pelo Governo do Estado em dezembro de 2017 e que passa próximo do CT do Criciúma. Trata-se de um acesso a Criciúma via Içara. Com ela, algumas antigas ligações entre os bairros do entorno foram bloqueadas, como é o caso da Rua Vergínio Conti, que ganhará o viaduto ligando suas extremidades, sobre a nova rodovia. “A Via Rápida dividiu a cidade por ali. Esse viaduto será muito bom pois vai criar um ótimo acesso ao nosso CT“, concordou o presidente Anselmo.

 

Presidente Anselmo confirma que vem debatendo futuro do estádio

Presidente Anselmo confirma que vem debatendo futuro do estádio (Foto: Celso da Luz / Criciúma EC)

Em contrapartida, Salvaro já elencou ao dirigente do Criciúma os planos que tem para ao menos parte da área hoje ocupada pelo estádio Heriberto Hülse. – O Comerciário é um bairro grande, importante, e que não tem uma praça para a sua população – sublinhou. O prefeito cita esse como um possível destino para o Ginásio Colombo Machado Salles, uma dependência anexa ao estádio do Criciúma e que se encontra em precário estado, podendo se tornar a praça desejada por Salvaro.

 

O presidente do Criciúma usa outros exemplos de Santa Catarina para dar pistas sobre o que planeja para o futuro do estádio. “Em Chapecó, a Arena Chapecó tem a sua manutenção feita pela prefeitura. Em Joinville, acontece o mesmo. Não queremos dinheiro da prefeitura no Criciúma. O Criciúma precisa ter sua vida própria. Mas esse tipo de parceria é possível. O Criciúma leva o nome da cidade para todo o país. Podemos estreitar essas parcerias“, emendou.

 

Salvaro com Angeloni na inauguração do CT em 2018

Salvaro com Angeloni na inauguração do CT em 2018 (Foto: Divulgação)


Arquiteto aponta sugestões no mesmo local

 

O estádio Heriberto Hülse é um patrimônio valiosíssimo. E não são poucos os torcedores que, no passar dos tempos, já sugeriram diversas formas de melhor aproveitamento do espaço. O arquiteto Gustavo de Lucca compartilhou recentemente, nas suas redes sociais, o conteúdo do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que apresentou quando graduou-se há uma década, na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), sob o título “Espaço do Encontro: requalificação urbana do estádio Heriberto Hülse e entorno”.

 

Discutia, a partir do projeto, que a área ao sul da Avenida Centenário, caracterizada por bairros adensados e pela presença marcante do estádio do Criciúma, poderia ser mais bem qualificada. O estádio, afinal, tem um papel importante no bairro e na cidade, mas poderia abrigar usos complementares, como academia, lojas, cinema, museu, que ajudariam a dar vida ao espaço público“, apontou. 

 

Parte do projeto do arquiteto Gustavo de Lucca

Parte do projeto do arquiteto Gustavo de Lucca (Foto: Reprodução)

Para Gustavo, uma reformulação no estádio, mantendo a atual localização, “serviria como um espaço do encontro, da vida urbana, conectado por vias qualificadas, sobretudo no eixo que o liga ao terminal de ônibus e ao centro da cidade”. “Esse equilíbrio torna a cidade mais atrativa e melhor pra se viver“, completou.

Na mesma época, em 2011, um projeto de revitalização do estádio foi apresentado pelo escritório do arquiteto Norberto Zaniboni ao Conselho Deliberativo do Criciúma. 

 

A história

 

O estádio Heriberto Hülse foi inaugurado em 16 de outubro de 1955, em um amistoso do Comerciário contra o Imbituba, vencido pelo time visitante por 1 a 0. O primeiro grande jogo por disputa nacional que ali ocorreu foi em 8 de dezembro de 1968. Em jogo da semifinal da Taça Brasil, o Metropol de Criciúma ganhou do Botafogo do Rio de Janeiro por 1 a 0 mas acabou, posteriormente, eliminado da disputa. O Comerciário, então grande rival do Metropol, emprestou o estádio para a importante partida.

 

Também em 1968, o Comerciário foi campeão estadual mandando suas partidas no Heriberto Hülse, mas a finalíssima não ocorreu em Criciúma, mas sim em Florianópolis. Nos anos 70, o estádio resistiu à crise do futebol criciumense, com o licenciamento do Comerciário a partir de 1970. Por alguns anos, abrigou partidas da Liga Atlética da Região Mineira, competição amadora da região de Criciúma.

 
Estádio Heriberto Hülse em 1974

Estádio Heriberto Hülse em 1974 (Foto: Arquivo Municipal Pedro Milanez)


O Comerciário voltou ao futebol profissional em 1977, terminando o Campeonato Catarinense em terceiro lugar. Mudou o nome para Criciúma Esporte Clube em 78 e, desde então, o estádio Heriberto Hülse foi o grande palco da consolidação e do crescimento do futebol criciumense. No auge do Joinville na primeira metade dos anos 80, o Criciúma se consolidou como a segunda força estadual, ganhando o Catarinense em 1986 em casa.

 

O Tigre repetiu a dose em 1989, 90 e 91, ano em que faturou, também no Heriberto Hülse, a Copa do Brasil, em uma decisão com mais de 20 mil torcedores contra o Grêmio. O estádio entrou em obras, tendo sua capacidade ampliada para 25 mil torcedores visando a Copa Libertadores de 1992. Ganhou fosso (que existe até hoje) no entorno do gramado e anel completo de arquibancadas. 

 

Heriberto Hülse em obras para a Libertadores de 92

Heriberto Hülse em obras para a Libertadores de 92 (Foto: Arquivo Municipal Pedro Milanez)


O Heriberto Hülse foi sendo aprimorado, chegando ao ponto de ter todos os seus lugares cobertos. Anotou o maior público da sua história em 6 de agosto de 1995, na decisão do Catarinense contra a Chapecoense. E o Tigre foi campeão, ganhando por 1 a 0. Aqueles 31.123 torcedores protagonizaram o maior público da história do futebol de Santa Catarina.

 

Também em seu estádio o Criciúma ganhou a Série B do Brasileiro, em 2002, e a Série C, em 2006, além de conquistar o acesso à Série B em 2010 com mais de 19 mil torcedores presentes. Em 2021, comemorou uma nova ida à Série B com a torcida tomando conta do gramado, depois da vaga garantida em uma vitória sobre o Paysandu em Belém do Pará.

 

Há pouco mais de 1 mês, torcida tomava estádio para comemorar volta à Série B

Há pouco mais de 1 mês, torcida tomava estádio para comemorar volta à Série B (Foto: Vitor Filomeno / 4oito)


Fonte: Denis Luciano / NSC Total
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