Rui Car
23/10/2021 11h21 - Atualizado em 23/10/2021 11h22

O bom e velho fogão a lenha volta a ser alternativa após alta no gás de cozinha em SC

Com valores em alta, essa voltou a ser a realidade de muitos catarinenses

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O aumento no preço do gás de cozinha tem sido motivo de preocupação para muitos brasileiros nos últimos meses. Em Santa Catarina, o valor médio de um botijão ao longo do mês passado foi o mais caro do Sul do país: R$ 104,64, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) – o Rio Grande do Sul registrou preço médio de R$ 97,45 e o Paraná, R$ 100,68. A situação em Santa Catarina tem levado moradores a recorrerem ao fogão a lenha para economizar.

Vera Lucia dos Santos, moradora de Florianópolis, precisou fazer essa improvisação. Sem escolha, com um salário de R$ 750, a aposentada de 62 anos não conseguiu mais comprar o utensílio após o preço pular para acima de R$ 100. O último botijão que comprou foi no valor de R$ 98, de acordo com ela.

 

Sem condições de manter a compra mensal, Vera adquiriu um fogão a lenha usado. A aposentada conta que pagou R$ 200 pelo móvel, porém, sente dificuldade em encontrar lenha para conseguir cozinhar.

 

Tem um lixão perto da minha casa, pego [a lenha] deste local“, revela.

 

Moradora do bairro Monte Cristo, há dias em que Vera não consegue lenha e fica sem ter como cozinhar.

Tem dias que não consigo. Passo fome“, comenta ela, que mora sozinha em Florianópolis.

 

Há cerca de um mês, a casa de Vera pegou fogo. O laudo dos bombeiros não encontrou a causa. Vera perdeu quase tudo, inclusive o fogão a gás, que estava inativo.

 

Estou passando por muitas dificuldades. Eu perdi o fogão a gás, a geladeira, cama, guarda roupa, roupas de cama. Preciso de ajuda“, diz.

 

Sem descobrir o que teria causado o incêndio, Vera acredita que não tenha relação com o fogão a lenha.

 

Vera Lucia dos Santos tem 62 anos e é moradora do bairro Monte Cristo

Vera Lucia dos Santos tem 62 anos e é moradora do bairro Monte Cristo (Foto: Arquivo Pessoal)


Preço médio do gás de cozinha passa de R$ 100 em SC

 

Na última semana – período de 10 a 16 de outubro -, o custo médio do gás de cozinha chegou a R$ 109,57 para os catarinenses, segundo levantamento da ANP. O botijão analisado é o de 13 kg. O preço mais alto, entre as cidades de SC pesquisadas, foi registrado em Blumenau: R$ 120, em média.

Desde janeiro, o preço médio do botijão de gás sofreu um aumento de 26% no Estado. No início de 2021, o valor pago, em média, pelo consumidor era de R$ 83, quase R$ 22 a menos do que em setembro.

 

O aumento desde janeiro do ano passado até setembro deste ano foi de 47%. No início do ano passado, o gás custava em média R$ 71. 

 

Veja o preço médio do botijão de gás em Santa Catarina a cada mês de 2021

Veja o preço médio do botijão de gás em Santa Catarina a cada mês de 2021 (Foto: Arte NSC Total)


Preço médio do gás de cozinha nas cidades catarinenses pesquisadas  

  • Blumenau: R$ 120
  • Chapecó: R$ 117
  • São José: R$ 115
  • Caçador: R$ 115
  • Florianópolis: R$ 113,99
  • Palhoça: R$113,50
  • Brusque: R$ 112,67
  • Biguacu: R$ 111
  • Joinville: 108,80
  • Videira: R$ 107,40
  • Jaraguá do Sul: R$ 105,36
  • Mafra: R$102,50
  • Araranguá: R$ 102,25
  • Concórdia: R$ 100,75
  • Laguna: R$ 99

Os dados acima são referentes a última semana – 10 a 16 de outubro -, divulgados pela ANP.

 

Impacto na venda de botijões de gás

 

A alta dos preços do gás de cozinha fez com que as revendedoras catarinenses tivessem uma queda de 8% na venda do botijão de janeiro a agosto deste ano em comparação ao mesmo período de 2020, de acordo com as informações do Sindicato dos revendedores de gás (Sinregas). 

 

Botijão de gás em SC já chega a R$ 120 em algumas cidades

Botijão de gás em SC já chega a R$ 120 em algumas cidades (Foto: Rafaela Martins)


No ano passado, a venda total em Santa Catarina até agosto foi de 19.889.999 botijões. Já em 2021, os números caíram, e o Estado registrou 18.235.806 no período. O consumo segue em queda, segundo o presidente do Sinregas, Jorge Magalhães de Oliveira. 

 

Essas trocas [pelo fogão a lenha] são muitas vezes improvisadas, o que, ao nosso ver, coloca em risco a saúde das famílias, além do risco de incêndio em casas. Muitas vezes, as pessoas não têm um ambiente adequado para a queima de madeira“, explicou Oliveira.

 

Cuidados que o uso de fogão a lenha exige

 

De acordo com o Major Bruno Azevedo Lisbôa, do Corpo de Bombeiros de Florianópolis, manter um fogão a lenha em casa é tão perigoso quanto o fogão a gás. A diferença, no entanto, é a possibilidade maior de incêndio causada pelo fogão a lenha.

​​

O botijão pode vir a explodir e causar grandes estragos também, mas dificilmente um incêndio, conforme explica o bombeiro:

 

No caso do fogão a lenha, é preciso afastar produtos e materiais inflamáveis de perto. Além de ter sempre alguém monitorando o fogo, porque a chama pode aumentar, cair parte da madeira e ocasionar grandes problemas“.

 

Custo do gás de cozinha em comparação ao salário mínimo

 

Atualmente, o botijão de gás ocupa quase 10% da renda do brasileiro que ganha um salário mínimo por mês. Em janeiro deste ano, essa porcentagem era de 7%. O valor do salário mínimo é de R$ 1.100 desde o dia 1º de janeiro de 2021, quando sofreu a última atualização. 

 

No caso de Vera Lucia, moradora de Florianópolis, o valor médio de um botijão de gás em Santa Catarina no último mês – R$ 104,64 – ocupa cerca de 14% da sua renda.

 

Segundo o professor de Economia da Udesc, Adriano de Amarante, a incerteza política do país faz com que o gás aumente cada vez mais. O especialista explica que o preço da refinaria é calculado em cima do dólar.

 

O risco em que o país se encontra tem efeito sobre o dólar, ou no caso, uma desvalorização do real. Isso tem um grande impacto no valor das refinarias da Petrobras“, diz.

 

Segundo o professor, se o Brasil estivesse em um momento considerado normal, o aumento no preço do gás não passaria de 20%.

O aumento foi bem significativo, e a tendência é ainda ficar mais caro“, explica.

 

Os preços só devem baixar caso aumente a oferta, de acordo com Amarante. A condição, no entanto, não deve acontecer nos próximos meses, conforme explica.

 

Se o mercado não compra, a Petrobras não produz. As distribuidoras não envasam e as revendedoras não vendem aos consumidores“, completa o presidente do Sindicato dos revendedores de gás, Jorge Magalhães de Oliveira.

 

O que impacta no preço do gás

 

O preço do gás, conforme explicado pelo especialista Adriano de Amarante, varia de acordo com a cotação do dólar. O valor pago pelo consumidor final é a soma de diversos preços: o que é cobrado na refinaria, impostos federais e a cobrança de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) – que varia de acordo com o Estado, já que é um imposto estadual.

 

Além disso, ainda é colocado o valor das distribuidoras e revendedoras. Confira:

 

Os dados são do mês de agosto disponibilizados pela ANP

Por: Diane Bikel / Diário Catarinense / NSC Total 

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