Conectar, esse é o principal ofício de uma ponte. Conectar um bairro ao outro, uma cidade a outra ou, até mesmo, países. Mas, existe uma ponte específica em Rio do Sul que é capaz de ligar toda uma população à arte e à cultura.
A Ponte Curt Hering, onde está o Espaço Cultural Moysés Boni, conhecido como Teatro Embaixo da Ponte, está localizada no centro da cidade. Desde a década de 1930, a construção é importante para o desenvolvimento regional, mas, a partir de 2012, passou também a ser peça-chave para arte riosulense. A ideia de montar um teatro no local surgiu de iniciativa do Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (Unidavi), após incorporar o terreno de uma empresa. O objetivo era fomentar a arte.
Willian Sieverdt, diretor da Trip Teatro, um dos grupos com mais apresentações debaixo da ponte, e voluntário do Centro de Pesquisa e Produção de Teatro de Animação (CPPTA), contou sobre a conexão da população de Rio do Sul com o lugar. Ele narra que, nesses dez anos, foram cerca de 600 apresentações de espetáculos dos mais variados, com pessoas de diversos Estados e países.
Responsável por engajar a cena teatral debaixo da ponte, Sieverdt diz que os espetáculos que atraem centenas de pessoas são, em grande parte, gratuitos. O espaço, com cerca de 200 lugares, recebeu, ao longo de uma década, mais de 25 mil espectadores.
“A maioria desses eventos recebe auxílio de leis de incentivo à cultura municipais e estaduais. Temos apoio de alguns empresários locais e do Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí, que é quem mantém o parque onde o espaço está inserido, junto a um museu e um Centro de Cultura Indígena“, afirma Sieverdt.
“Se a gente for pensar no que existe embaixo das pontes pelo mundo, geralmente é desigualdade, sujeira. Ali tem arte“, explica Thiago Becker, fundador de outro grupo teatral da cidade, a Cia Cobaia. “Apresentar-se ali é especial. Como o teatro é pequeno, as pessoas precisam ficar bem próximas e elas recebem o espetáculo de uma forma mais potente.”
Apesar de chamar a atenção à primeira vista pelo ineditismo do vão de uma ponte como palco, os artistas afirmam que o local é apropriado tecnicamente para receber apresentações diversas. Por contar com uma grossa camada de concreto por cima, bases fortes, e árvores ao redor, a acústica não é comprometida. Os ruídos da cidade pouco interferem nos espetáculos. A iluminação, preparada especialmente para o espaço, é isolada por fechamentos laterais. Debaixo da ponte, há, ainda, camarins e cômodos.
Apesar de frequentes problemas na cidade, por conta de enchentes, e a proximidade com um rio, o espaço nunca foi afetado severamente pelas águas. O teatro conta com madeiras nobres em sua estrutura, além de a arquitetura ser versátil e planejada. “Já aconteceu de chegar água, mas a madeira é resistente. Depois que a enchente baixou, após uma caprichada limpeza, e um tempo secando ao sol, estava tudo novo“, recorda Sieverdt.
Em razão da pandemia, o espaço passou um tempo sem receber visitas. Assim, a ponte que já foi finalista do Prêmio Brasil Criativo na categoria arquitetura, em 2019, teve de, involuntariamente, voltar a servir apenas como caminho de passagem por cima dela.
Agora, novos encontros estão planejados, além de o espaço já receber visitas. Para companhias que desejam se apresentar ali, não são cobradas taxas nem aluguel para apresentações, apenas colaboração para a limpeza, por ser um espaço público.
Espetáculos estão sendo marcados para os próximos meses. O diretor admite ainda que, por conta das dificuldades e incertezas dos últimos tempos, não conseguiu mobilizar uma programação especial para o aniversário de dez anos do teatro, o que deve ocorrer em breve.
Fonte: Uesley Durães / Terra