Rui Car
28/02/2017 09h55 - Atualizado em 28/02/2017 08h12

Aquecimento global e nacionalismo podem causar guerras comerciais pelos estoques de peixes nos oceanos

Uma cooperação internacional seria necessária

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A dupla ameaça do aquecimento global e do nacionalismo crescente, pode levar ao início de conflitos pelos estoques de peixes – como a famosa Guerra do Bacalhau entre o Reino Unido e a Islândia – que podem ameaçar o fornecimento global de alimentos e “dizimar” ecossistemas marinhos, de acordo com alertas de especialistas.

 

Falando na reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência em Boston, Estados Unidos, na última quinta-feira, um painel de especialistas afirmou que com a gestão correta e a cooperação internacional, o número de peixes no mar e a quantidade pescada por frotas pesqueiras poderiam aumentar ao longo das próximas décadas.

 

No entanto, eles alertaram que o aumento das temperaturas está fazendo com que muitas espécies se desloquem para outras partes dos oceanos, o que pode ameaçar as economias de alguns países, e o acesso aos alimentos.

 

Este fator, combinado com o crescimento do sentimento de nacionalismo, pode fazer com que uma nova era de “guerra por peixes” tenha início, com países competindo pelos estoques disponíveis.

 

Embora países individuais venham a surgir como vencedores de um conflito, o subsequente “vale tudo” – em que as frotas pescam a maior quantidade de peixe que conseguem por medo de que eles sejam pescados pelos barcos de um país rival – seja devastador para os estoques destes animais.

 

Durante a Guerra do Bacalhau entre o Reino Unido e a Islândia, de 1950 a 1970, as canhoneiras britânicas eram enviadas para afastar barcos islandeses em águas disputadas.

 

No final, os dois países entraram num acordo e a Islândia pôde pescar qualquer peixe dentro do seu limite territorial de 320 quilômetros, uma solução vista como uma vitória para Reykjavík.

 

Uma guerra comercial mais recente, motivada pela pesca da cavalinha no Atlântico Norte, teve início em 2010 entre a União Europeia e a Islândia, Noruega, e as Ilhas Faroé.

 

Michael Harte, professor de geografia marinha da Universidade do Estado do Oregon, nos Estados Unidos, disse que andou analisando os possíveis “vencedores e perdedores” no que diz respeito ao impacto do aquecimento global sobre a pesca.

 

“Se nós conseguirmos fazer isso da maneira correta, a pesca mundial pode ficar melhor do que é hoje,” disse ele.

 

“Mas se falharmos e não encontrarmos a melhor solução, os perdedores serão as pessoas … que dependem da pesca para a alimentação e renda”.

 

“E elas não têm muitas outras alternativas. Se os peixes forem embora, elas terão muitos problemas”.

 

“Se nós não acertamos … potencialmente podemos voltar a ver guerras pelos peixes, estoques explorados ao máximo e colapsados, ecossistemas marinhos dizimados, e talvez o desperdício de um importante recurso econômico e alimentar”.

 

Para gerenciar os estoques de forma eficaz, e prevenir que o aquecimento global reduza os estoques de peixes, uma cooperação internacional seria necessária.

 

Ian Johnston
The Independent

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