Rui Car
19/07/2017 11h37 - Atualizado em 19/07/2017 08h37

Artistas gospel cobram cachês por culpa das próprias igrejas, diz pastor: “Criaram mercenários”

"Virou mercado. Isso é fácil de se ver"

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O meio evangélico viu, décadas atrás, o surgimento de algo que se convencionou denominar “mercado gospel”, que gerou a ideia de artistas cristãos profissionais, que vivem apenas da música e de suas apresentações. E a culpa disso, na visão do pastor batista Neil Barreto, é das próprias igrejas.

 

Uma reflexão crítica feita pelo pastor há quase quatro anos, durante a Conferência Missão na Íntegra 2013, tornou-se popular mais recentemente, com um trecho de sua palestra se tornando viral nas redes sociais.

 

Barreto, que é conhecido por sua visão e declarações polêmicas – como a defesa da descriminalização da maconha, por exemplo – disse que as igrejas evangélicas, “de um modo geral”, se tornaram um negócio familiar, que “vai passando de pai para filho”.

 

“Virou mercado. Isso é fácil de se ver, a não ser que não se queira. Na igreja de mercado o objetivo é o lucro. Dinheiro não é o meio, é o fim”, comentou. “Não foi assim sempre. Houve um tempo em que a gente pregava e adorava sem pensar no dinheiro. A gente pregava porque era pregador da palavra e a gente cantava porque era adorador”, disse.

 

Essa observação veio acompanhada da ilustração de que o meio evangélico hoje sustenta prestadores de serviços, cantores e pregadores. “Hoje […] quando a gente recebe convite, vem a pergunta: quanto você cobra para pregar? A cultura mudou. É uma realidade, faz parte do pacote”, lamentou.

 

Os bastidores da organização de um evento em uma igreja são complexos. Muitos artistas, quando são abordados para participarem de um evento, enviam um formulário com perguntas sobre o local, estrutura, público estimado para o dia, entre outros detalhes. “Depois que você diz quanto vai dar de oferta, ele diz se vai aceitar seu convite ou não”, resumiu Barreto.

 

“Por que existe um questionário? ‘Minha agenda vai estar livre ou não dependendo da sua oferta’, ‘porque pode ser que no mesmo dia tenha um questionário com uma oferta maior’. São R$ 7 mil para pregar, R$ 60 mil para cantar. É a realidade. O cara chega no evento e se tem menos de mil pessoas, ele não canta. Se o cachê é 60 mil e você pagou 59 mil, ele não canta”, disse.

 

A narrativa de Barreto encontra apoio na realidade. Anos atrás, Thalles Roberto se envolveu em uma polêmica que se encaixa nessa descrição, já que havia recebido mais da metade do valor combinado e não subiu ao palco pois o organizador do evento ainda não tinha conseguido quitar o restante.

 

A culpa da existência de “mercenários”, segundo ele, é da igreja: “Você pode até não cobrar para pregar, mas você sai do Rio de Janeiro e vai até a divisa do Amazonas, deixando sua família, sua igreja, deixando tudo e o cara não paga nem seu almoço? Te coloca para dormir com os cachorros?”, contextualizou.

 

Controverso, Barreto acredita que o “mercenário não nasce mercenário”, mas se torna um: “Ele começou bem, com boa intenção e com verdade. Mas é preciso que ele tenha passado por tanta necessidade com a igreja miserável que ele falou: ‘Quer saber? Agora eu vou cobrar’. Pagaram. ‘Dinheiro é sempre bem vindo. Vou aumentar um pouquinho para ver se dá certo’. Deu certo. A igreja miserável gera o mercenário”, concluiu.

 

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