Rui Car
13/06/2018 16h55 - Atualizado em 13/06/2018 16h56

Atentados em massa são causados por problemas mentais? Especialista explica

Algumas características podem estar associadas ao aumento de atentados

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A expressão “atentados em massa” é imprecisa, podendo se referir a quaisquer atentados contra um grande número de pessoas. Entretanto, a mídia geralmente se refere com estes termos àqueles casos nos quais o atentado ocorre com armas de fogo e em inglês são denominados de “rampage shooting”, cuja tradução aproximada seria “tiroteios de fúria” e na definição de trabalho do congresso americano, o termo designa eventos ocorridos em locais “razoavelmente públicos” e sem objetivos de roubo ou terrorismo.

 

 

O número de vítimas para que um evento destes seja considerado rampage shooting é arbitrário e, na literatura sobre o assunto, se sugere um mínimo de quatro pessoas alvejadas. Em relação ao termo “tiroteio”, ele é usado porque armas de fogo são usadas em quatro dentre cinco desses atentados. As armas de fogo são usadas em 95% dos casos de assassinatos múltiplos com seis ou mais vítimas, nos EUA. 

 

Isto, entretanto, deixa de fora uma grande quantidade de casos ocorridos com outras armas como, por exemplo, facas, especialmente em países nos quais há maior restrição à venda e posse de armas de fogo, como na China. Vários especialistas excluem também casos nos quais o homicida extermina múltiplos membros de sua família. 

 

Apesar das características próprias, a frequência deste tipo de eventos, nos EUA, tende a acompanhar a frequência geral de homicídios, ao longo dos anos, tendo havido picos nas décadas de vinte e trinta. 

 

 

A incidência de assassinatos em massa é bem menor que o de homicídios em geral, sendo que nos EUA ocorreram entre 1976 e 2016 cerca de vinte e oito, contra cerca de 14200 homicídios por ano, sendo assim responsáveis por apenas 0,2% dos incidentes. (1) Como, entretanto, o número de vítimas é maior, são responsáveis por 1% dos homicídios.

 

 

Se forem considerados os números absolutos, os EUA vêm em primeiro lugar, num grupo de 171 países (5), porém se o número for calculado proporcionalmente à população de cada país e se fizer uma comparação com a Europa, por exemplo, os EUA ficariam apenas em 11º lugar e a Noruega ficaria em primeiro. 

 

No Brasil, só foi registrado um evento com estas características, o “Massacre de Realengo”, no qual um adolescente matou a tiros doze alunos de uma escola, no Rio de Janeiro. Outra questão se refere ao aumento: como o número de atentados em massa é muito pequeno, fica difícil avaliar estatisticamente se houve um aumento real, ao longo dos anos. Mas, se for medida a distância temporal entre os eventos, entre 1982 e 2011 eles se tornaram três vezes mais frequentes, nos EUA .

 

A raridade, o fato de que vários dos criminosos se matam ou são mortos e a dificuldade de pesquisas acadêmicas em ambientes prisionais são alguns dos fatores que dificultam conclusões mais claras. Consequentemente, as generalizações são bastante vagas, mas sugerem características no sentido de perdas sociais recentes, sensibilidade a injustiças e ofensas, possivelmente alguma influência de atentados anteriores e uma tendência a doenças mentais – cerca de 60% apresentaram diagnóstico de transtorno psiquiátrico ou sintomas graves antes do atentado. 

 

Entretanto, as doenças mentais muitas vezes só são inferidas com base no histórico dos indivíduos, não tendo sido anteriormente diagnosticadas e tratadas. 

 

Por outro lado, os estudos não comprovam algumas das crenças populares sobre os antecedentes dos atentados: não há evidências de que os perpetradores provinham de lares desfeitos, que tenham sido consumidores de mídia especialmente violenta ou que tenham sofrido bullying extremo.

 

 

Como não se tem um perfil claro dos perpetradores de atentados em massa, pesquisadores do assunto sugerem que mais do que esforços de se elaborar este perfil, deve-se levar a sério as ameaças que frequentemente estes fazem previamente a suas ações.

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