Rui Car
03/08/2017 09h05 - Atualizado em 03/08/2017 08h14

Cada vez mais homens estão buscando ajuda para tratar transtornos alimentares

Homens são ainda menos encorajados do que as mulheres a reconhecer os sintomas

Assistência Familiar Alto Vale
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Os transtornos alimentares sempre foram considerados um problema feminino. A pressão para ser magra, ter um corpo “sarado” ou simplesmente viver com uma consciência exagerada a respeito do corpo, faz parte de uma sociedade patriarcal, que valoriza as mulheres mais pela sua aparência do que por qualquer outra coisa. As mulheres enfrentam seu próprio conjunto de estigmas e conflitos por procurar tratamentos para seus transtornos alimentares, mas novos dados mostram que cada vez mais homens estão buscando ajuda.

 

De acordo com dados do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), o número de homens internados em hospitais devido a transtornos alimentares aumentou 70% nos últimos seis anos, taxa semelhante à observada no caso das mulheres. O aumento mais significativo foi observado em homens com idades entre 41 e 60 anos. De acordo com o The Guardian, a pressão das redes sociais e a cultura popular estão afetando os homens, levando-os a fazer dietas e praticar exercícios excessivamente, desenvolvendo uma obsessão pelo peso e a aparência.

 

As estatísticas nos Estados Unidos são semelhantes. “As tendências norte-americanas mostram um aumento nos pedidos de ajuda dos homens, e parece haver um crescimento da atenção direcionada a homens que enfrentam dificuldades,” Lauren Smolar, Diretora de Programas da Associação Nacional de Transtornos Alimentares dos Estados Unidos, disse à ELLE.com por e-mail. Segundo ela, boa parte desta mudança é influenciada pelo fato de os homens estarem sentindo uma pressão para aderir a padrões corporais não realistas, sofrendo da mesma forma que as mulheres sofrem há anos. Ela explica: “É uma pressão para ter uma aparência ‘ideal’, comer de uma maneira considerada a mais saudável, ou fazer exercícios em excesso, para ter um determinado corpo”.

 

Como os transtornos alimentares são vistos como uma questão feminina, é provável que muitos homens tenham evitado buscar tratamento, ou nem tenham pensado que possam estar enfrentando este problema, porque não querem ser associados às mulheres. Este senso de masculinidade é tóxico e só os prejudica. “Infelizmente os homens sentem muita vergonha de buscar ajuda para tratar questões de saúde mental, principalmente no caso dos transtornos alimentares, que ainda são amplamente associados às mulheres,” disse Smolar.

 

Ela continuou: “Este estigma também significa que os comportamentos dos transtornos alimentares nos homens podem não ser reconhecidos como transtornos alimentares tão cedo quanto os de uma mulher seriam”. Embora as mulheres corram o risco de ser diagnosticadas com um distúrbio alimentar sem ter um (como Aubrey Hirsch discutiu recentemente), os médicos podem não pensar na hipótese de que um paciente do sexo masculino esteja precisando de tratamento para este problema.

 

Isso ocorre parcialmente porque os homens são ainda menos encorajados do que as mulheres a reconhecer os sintomas por si mesmos. “Uma diferença fundamental entre os homens e as mulheres é o fato de que as mulheres tendem a ser mais honestas em relação a seus sintomas, enquanto os homens tipicamente sugerem que estão numa jornada de transformação física,” disse Rhiannon Lambert, nutricionista, ao The Guardian.

 

Os dados do NHS mostram que o número de homens internados por distúrbios alimentares ainda é muito menor do que o de mulheres: 1.098 crianças e adultos do sexo masculino admitidos em 2015-16, comparados com 12.054 crianças e adultos do sexo feminino no mesmo período. O fato de que mais homens estão buscando tratamento pode significar que mais homens estão desenvolvendo transtornos alimentares, mas também pode indicar que mais homens, que nunca foram diagnosticados, estão buscando ajuda pela primeira vez. “Conforme a educação e a consciência aumentam, há mais pessoas vindas de diferentes contextos de vida procurando ajuda,” diz Smolar, “incluindo homens que poderiam não ter conhecimento de que há ajuda disponível para seus comportamentos disfuncionais”.

 

 

JAYA SAXENA

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