Rui Car
27/11/2019 09h50 - Atualizado em 27/11/2019 09h52

Chegou o momento de abandonarmos as redes sociais?

A tendência de se deslogar das redes sociais está ressignificando a relação das pessoas com a internet

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Falar em redes sociais sem discutir, hoje em dia, também a saúde mental parece totalmente inócuo. Talvez seja por isso que a tendência de abandonar as redes sociais esteja crescendo tanto. 

 

Para Isabela Cavalcanti, de 28 anos, as redes são apenas uma forma de manter contato com os amigos. Ela, que cresceu com a internet (assim como toda geração millennial), conheceu muita gente pela rede, e vê nas mídias uma forma de manter o contato – o que não significa que ela deixou de perceber ou de ser afetada pelo o que acontece de negativo dentro delas. 

 

“Parei de usar totalmente o Facebook, embora a conta ainda esteja ativa”, explica. “Eu sou uma pessoa absurdamente reservada e sempre me deixou meio nervosa essa mania que as pessoas têm de sair adicionando qualquer pessoa que viu uma vez na vida por lá”. 

 

Para a bibliotecária, o fato de brigas e discussões acontecerem com frequência na rede – uma das mais polêmicas – também colaborou para o afastamento. As outras redes, como o Twitter, ela também tem o costume de deixar de lado de tempos em tempos, até mesmo desinstalando o aplicativo do celular, antes de retomar o uso em busca de conteúdos mais leves ou novidades. 

 

O comportamento de Isabela é cada vez mais comum entre a geração mais falada de todas. Para os millennials, que cresceram com a internet e hoje a viram amadurecer, o boom de uso contínuo e muitas vezes nocivo agora dá lugar para uma outra tendência, chamada de “logged off”, segundo o jornal britânico The Guardian: o hábito de descontinuar o acesso a essas redes ou, simplesmente, não aderir à elas. 

 

A vida longe das redes

Segundo uma pesquisa feita pelo Ampere Analysis, os 9 mil participantes com idade entre 18 e 24 anos explicaram que mudaram significativamente a sua relação com as redes nos últimos dois anos. Não só isso, mas, desse número, um total de 56% conseguiu confirmar que, em 2018, as redes sociais ainda eram importantes para elas, ante 66% do ano anterior. 

 

“A gente vê muita gente da minha geração, e da geração que veio logo depois, com cabeça aberta para falar com as pessoas, e ajudar a se desligar um pouco também, porque estar sempre vidrado vendo só o que as pessoas querem mostrar e não o conjunto bagunça muito a cabeça da gente, né?”, diz Isabella. 

 

Para Karina Enésio, essa mudança de comportamento também fica clara. Aos 40 anos, ela usa hoje as redes apenas para se manter atualizada nos seus interesses, como músicas, filmes e séries, e não usa mais o Facebook. “Sentia que além de tomar boa parte do meu tempo, o interesse das pessoas em manter contato não era por amizade e, sim, curiosidade. Também deletei meu perfil pessoal no Instagram”, diz ela, que mantém ativas apenas as contas profissionais na rede, com um feed que mostra só o necessário para se manter antenada sobre o mercado.

 

Para ela, o interesse em voltar é praticamente nulo, e Karina diz se sentir muito mais mais livre sem esse hábito que, muito se sabe, tem um efeito direto na saúde mental das pessoas. “No meio em que vivo, ainda percebo que as pessoas ainda não conseguem se desligar. Atuo na área da educação e as redes sociais ainda são bem usadas. Sinto que as pessoas sentem vontade de se desligar, mas por medo de estarem sozinhos ou por fora de tudo que os mantém presos às redes. Conheço pessoas que só utilizam pra olhar a vida das pessoas e não para si próprios”, diz.   

 

Aliás, é bom lembrar que o FOMO – ou “fear of missing out”, o medo de ficar por fora -, é uma constante na vida de quem se vê o tempo inteiro online. Segundo um estudo feito em 2016 pela Universidade de Essex, 75% dos adultos já passaram por essa sensação.

 

Busca por conexão offline

Giovanni Beneditto foi além: ele tentou passar um ano completo longe de todas as redes sociais, inclusive o WhatsApp. Precisou retomar o uso antes do prazo (que acabaria em janeiro de 2020) para resolver algumas questões pessoais, mas a sua principal motivação foi, justamente, ver se essa quebra de hábito teria algum efeito no seu psicológico. 

 

“Senti muito como se estivesse me conectando mais com pessoas que estavam por perto. E aquelas realmente importantes, acabava dando outros jeitos de falar ou ver”, disse. Para ele, a experiência foi como um filtro – os amigos estranharam não ter o WhatsApp disponível para conversar, mas logo usavam ou as ligações comuns ou um e-mail para contatá-lo. 

 

Apesar de ter retomado o uso, o hábito promete não se firmar, e a tendência, segundo Giovanni, é se afastar cada vez mais de novo. Principalmente depois de perceber que esse tempo longe o ajudou a repensar a forma como produz conteúdo, o conteúdo que consome e, claro, como aproveitar o seu tempo. “Acho que em um sentido, acabei tendo mais tempo para pensar em projetos e me dedicar mais as minhas ideias”, disse.

 

Ele explica que fazer contatos, inclusive profissionais, ficou um pouco mais complicado, mas os benefícios ainda parecem mais atrativos do que a retomada de uma rotina tão centrada nas redes sociais: “O bom de não ter redes sociais e que você não é tão bombardeado todos os dias com tantas coisas, assim sobra tempo pra pensar nas importantes”, diz.

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