Rui Car
03/09/2019 10h45 - Atualizado em 03/09/2019 08h50

Cheirar secreção psicodélica de sapo em pó apenas uma vez faz as pessoas se sentirem mais felizes por um mês

Há um estudo sobre isso

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HypeScience

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Aposto que você nunca pensou em cheirar uma secreção de sapo em pó antes na vida, mas a substância psicodélica 5-MeO-DMT (5-metoxilo-dimetiltriptamina) pode ser uma boa opção.

 

Pelo menos foi o que constatou um estudo da Universidade de Maastricht (Holanda) e do Instituto Nacional de Saúde Mental em Praga (República Tcheca).

 

Em um experimento, os cientistas descobriram que cheirar o 5-MeO-DMT secretado pelo sapo-do-rio-colorado (Incilius alvarius) apenas uma vez levou a uma melhor satisfação com a vida e maior atenção plena, bem como a uma diminuição de sintomas psicopatológicos.

 

Metodologia

Primeiro, 42 participantes do mundo todo responderam a um questionário antes de inalar um vapor feito com o pó da secreção do sapo. 24 horas depois, todos refizeram o questionário. Quatro semanas depois, 24 desses participantes responderam às perguntas novamente.

 

Desses 24, a maioria relatou sentir-se melhor em relação à vida, mais atento e menos deprimido, ansioso e estressado, ainda que tivessem usado a substância apenas uma vez, um mês antes.

 

Segundo os pesquisadores, os usuários observaram que a secreção do sapo produziu um efeito psicodélico mais intenso do que outros psicodélicos à base de plantas ou fungos, como LSD, psilocibina e ayahuasca. Quanto mais forte foi a experiência psicodélica, mais pronunciados foram os efeitos quatro semanas depois.

 

Os cientistas também notaram, no entanto, que metade dos participantes não retornou para responder o questionário quatro semanas depois, o que pode significar que não tiveram uma boa experiência ou se decepcionaram com os resultados.

 

“Não se sabe se a experiência da inalação de vapor da secreção de sapo contendo 5-MeO-DMT atendeu às expectativas e motivações de todos os participantes”, disseram os pesquisadores. Essas motivações variavam de “entender melhor a si mesmo” a “resolver problemas”.

 

Psicodélicos e depressão

Esse tipo de motivação já era esperado. De acordo com os cientistas, uma pesquisa recente entre usuários de 5-MeO-DMT (sapo, sintético ou derivado de planta) indicou que a maioria dos entrevistados usava o 5-MeO-DMT para exploração espiritual e relatava “experiências do tipo místicas de intensidade moderada a alta”.

 

“Curiosamente, os entrevistados que relataram um distúrbio psiquiátrico mencionaram que o 5-MeO-DMT os ajudou a reduzir seus sintomas de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático, ou a lidar efetivamente com alcoolismo e abuso de drogas”, escreveram os pesquisadores em um artigo.

 

Nos últimos anos, diversas pesquisas têm demonstrado que psicodélicos parecem melhorar sintomas de condições como a depressão.

 

Por exemplo, um estudo descobriu um potencial terapêutico para o LSD, em outro drogas alucinógenas foram consideradas uma possível “intervenção cirúrgica” para depressão e ansiedade, bem como pesquisadores já catalogaram os benefícios da maconha para depressão, estresse e ansiedade.

 

Preliminar

Vale observar que, como ocorre com outras drogas, é possível ter uma “bad trip” com o 5-MeO-DMT, ou seja, ao invés de reagir positivamente, o usuário pode ter sentimentos negativos de aumento de ansiedade e paranoia.

 

Dito isso, o estudo deve ser considerado preliminar, pois há o risco de apenas as pessoas que tiveram uma boa experiência terem concluído as avaliações. Não houve grupo de controle, e as doses de secreção utilizadas não foram estritamente medidas.

 

“Os resultados atuais podem ser tomados apenas como uma indicação preliminar do impacto da inalação de vapor da secreção em pó de sapos contendo 5-MeO-DMT nos parâmetros de saúde mental”, concluíram os pesquisadores.

 

No momento, eles creem que os resultados sugerem que uma única dose de “5-MeO-DMT produz melhorias rápidas e persistentes na satisfação com a vida, atenção plena e sintomas psicopatológicos” e que por isso “fornecem evidências que apoiam pesquisas adicionais” sobre o potencial efeito terapêutico da substância.

 

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Psychopharmacology. [ScienceAlert]

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