Rui Car
21/12/2017 10h45 - Atualizado em 21/12/2017 08h41

Compartilhamento de leite materno nas redes sociais preocupa organizações de saúde

Cada vez mais sites de compartilhamento de leite estão surgindo na Internet

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Uma reportagem da BBC mostrou que mulheres estão compartilhando leite materno online, com o objetivo de ajudar outras mães.

 

O compartilhamento de leite materno não é um conceito novo. Anos atrás, amas de leite eram algo comum, e várias mulheres amamentavam bebês de outras mães que estavam impossibilitadas de fazê-lo.

 

Agora, as redes sociais facilitaram a tarefa de oferecer leite materno para mães que precisem dele, e cada vez mais sites de compartilhamento de leite estão surgindo na Internet.

 

Uma destas páginas se chama Human Milk for Human Babies UK (Leite Humano para Bebês Humanos no Reino Unido), e permite a doação de leite materno entre mães que têm muito e mães que precisam dele.

 

BBC afirma que o número de curtidas da página chegou aos 18 mil, quintuplicando ao longo dos últimos cinco anos.

 

A tendência de aumento é confirmada por uma recente pesquisa, realizada pelo site Netmums, que revelou que quase metade (44%) das mães que atualmente amamentam, pensam em compartilhar seu leite com outras mães online, enquanto 2% afirmaram já ter feito isso.

 

A pesquisa, que entrevistou 2.012 mães, também descobriu que uma em cada 50 lactantes já faz uso de sites gratuitos que promovem o compartilhamento de leite materno para encontrar mulheres que não conseguem amamentar.

 

Os serviços de compartilhamento de leite unem mães que têm um excedente para fornecer, e famílias na sua região que precisem de leite materno para seus bebês. As mães podem especificar se querem leite de mulheres vegetarianas, veganas, ou de alguém com um filho com idade semelhante à do seu, o que significa que o leite doado é o mais próximo possível de como seria seu próprio leite materno.

 

Celebridades apoiam estas iniciativas, como a atriz Alicia Silverstone, que recentemente fundou seu próprio serviço de compartilhamento de leite, chamado Kind Mama.

 

Um terço das mães que doam leite neste tipo de plataforma dizem que decidiram tomar a iniciativa para ajudar famílias, numa hora de necessidade. Outras 14% estavam produzindo mais leite do que seus bebês precisavam, e 4% haviam sido ajudadas anteriormente pelo compartilhamento de leite e queriam retribuir o favor. Uma em cada 11 mães gostou tanto da experiência que continuou doando seu leite mesmo depois de parar de amamentar seu próprio filho.

 

Comentando a tendência de compartilhamento de leite materno online, a editora do Netmums, Anne-Marie O’Leary, disse: “Num mundo em que quase tudo é comercializado, é maravilhoso ver famílias se unindo para ajudar umas às outras, gratuitamente. Todas as envolvidas – das mães doadoras às mulheres responsáveis pelos sites – dedicam tempo e esforço, sem cobrar nada, para garantir que os bebês comecem a vida da maneira mais saudável possível. Esta tendência pode ser nova, mas já está impactando positivamente a vida das pessoas e fazendo uma diferença significativa”.

 

No entanto, embora muitas mães apoiem a ideia de compartilhar leite materno online, existem algumas preocupações sobre segurança e higiene do processo.

 

BBC afirma que o Departamento de Saúde britânico está sob pressão para emitir diretrizes mais detalhadas a mães que atuam sem a supervisão do NHS (Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido), e alguns especialistas alegam que a falta de regulamentação pode espalhar infecções e vírus, como a hepatite e o HIV.

 

É seguro compartilhar leite materno online? [Foto: Getty]
 

As páginas de compartilhamento de leite materno no Facebook oferecem algumas orientações para qualquer mulher que pense em usá-las, pedindo que as envolvidas discutam o consumo de medicamentos, álcool e drogas e sugerindo que as participantes procurem unidades de saúde para fazer exames.

 

Apesar disso, para garantir a segurança do processo os especialistas aconselham que as mulheres usem os serviços de bancos de leite, que fazem análises mais profundas e seguem um conjunto de regras.

 

De acordo com o NHS, os bancos de leite materno são um serviço que coleta, analisa, processa e distribui leite materno doado por mães lactantes. Como o leite é distribuído para as beneficiárias, que não têm qualquer tipo de contato com a doadora, todas as precauções são tomadas para garantir um produto seguro.

 

De acordo com o site, as mães doadoras passam por análises de saúde e estilo de vida, além de fazerem exames de sangue para identificar HIV, hepatite B e C, sífilis e HTLV. O leite é retirado de forma higiênica, na casa da doadora, congelado e coletado regularmente por funcionários do banco. O leite é examinado e garrafas com níveis de bactérias acima do recomendado são descartadas.

 

O uso dos bancos de leite também parece ser uma tendência em crescimento. Cinco por cento das famílias entrevistadas pelo Netmums afirmaram ter recebido leite materno do banco de leite de um hospital. Uma em cada 11 mães lactantes está pensando em doar para o banco de leite de seu hospital local, enquanto 2,5% já fizeram isso.

 

Agora, há pedidos para que o governo britânico aumente o financiamento destinado aos bancos de leite materno. Alison Thewliss, do Partido Nacional Escocês, preside o grupo parlamentar voltado para a alimentação infantil, e acredita que o Departamento de Saúde deveria assumir o controle dos serviços de doação de leite no Reino Unido.

 

“No momento, os bancos de leite são subfinanciados e funcionam como projetos de hospitais individuais,” disse ela à BBC.

 

“Eu gostaria de ver o governo do Reino Unido trabalhando com a Associação Britânica de Bancos de Leite para investir em serviços que permitam que mulheres que desejam doar leite materno, possam fazer isso localmente, de uma forma regulamentada e segura, e que mães que precisam de leite para seus bebês possam obtê-lo com facilidade”.

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