Rui Car
06/02/2019 13h40

‘Criticar uma mulher faz com que outra se cale’, diz promotora sobre caso de Luísa Sonza

O invasor pode ficar até 5 anos detido

Assistência Familiar Alto Vale
Por Aline Nobre / Yahoo!

Por Aline Nobre / Yahoo!

Delta Ativa

A cantora Luísa Sonza, esposa do comediante Whindersson Nunes, se espantou ao ver seu nome e sua intimidade envolvidos em uma polêmica, na madrugada do último domingo (3). Sua conta do Instagram foi hackeada e uma foto sua nua foi publicada em seus stories da rede social.

 

A imagem era a mesma que ela havia enviado para o marido na noite anterior. Avisada por amigos pela manhã, imediatamente a cantora deletou (mas aí já era tarde, muitos tinham printado a imagem) e publicou alguns vídeos comentando o caso, além de mandar um recado para as mulheres.

 

“Meninas que passam por isso, não se abalem. É ruim, é difícil, todo mundo vai falar um monte de coisa, mas não deixe isso abalar vocês. Estou falando isso chorando, mas não vou ficar mal, é só mais um peito, só mais um corpo. Segundo sua assessoria de imprensa, todas as providências judiciais já estão sendo tomadas por sua equipe de advogados com relação a esta “exposição criminosa”. Mas, como se já não bastasse todo o constrangimento da situação, Luísa chegou até a ser acusada de postar a foto para se promover. E aí está o questionamento, o que fazer e não fazer com invasões deste tipo?

 

Pare com o ataque criminoso e o ataque social!

Para a promotora de Justiça Valéria Scarance, do Ministério Público de São Paulo, que tem atuação especializada em Gênero e Enfrentamento à Violência contra a Mulher, o caso serve como um alerta: a vítima nunca pode ser vista como a culpada.

 

“Tratar uma vítima como culpada gera a ‘revitimização’. Isso significa que a pessoa é vítima duas vezes: o ataque criminoso e o ataque social. Aqueles que julgam, criticam, devem saber que estão causando um mal para a pessoa, potencializando a dor e calando outras mulheres. Já ouvi de muitas mulheres quão doloroso foi sofrer os ataques públicos. Por isso, a crítica e o julgamento são importantes combustíveis para a violência no nosso país. Criticar uma mulher faz com que outra se cale. Apoiar uma mulher faz com que muitas se unam: isso é sororidade”, afirma a promotora.

 

Altere a senha

Daniel Nascimento, consultor digital e CEO da DNPontoCom, orienta que o primeiro passo é alterar imediatamente a senha de todos os serviços utilizados no celular.

 

“Imediatamente altere logins e senhas, senha das nuvens, serviços de hospedagem que é para não ocorrer mais vazamentos e comprometimento de dados ali. Em seguida procure a polícia ou uma empresa especializada para fazer o rastreamento disso.”

 

O invasor pode ficar até 5 anos detido

A promotora também orienta que a vítima preserve as provas (printar as telas) e registre Boletim de Ocorrência. Na Delegacia, forneça todos os elementos e informações que possam ser úteis para a apuração do fato, como números de telefone que compartilharam as imagens (se tiver), testemunhas. Ainda de acordo com Valéria, a punição nestes casos, pode ser de seis meses até cinco anos de detenção.

 

“No Brasil, aquele que invade um celular ou computador, pode ser punido com pena de seis meses a dois anos, aumentada de até dois, a três (Lei Carolina Dieckmann art. 154 A do Código Penal). Além disso, há o crime específico que consiste em divulgar, por qualquer meio, cena de nudez sem o consentimento da vítima, com pena de um a cinco anos de reclusão (art. 218 C, Código Penal). Ou seja, quem pratica essas condutas de hackear e divulga está cometendo um crime e pode ser punido. Não é so quem invade que é criminoso. Por isso, é preciso muito cuidado ao repostar e enviar fotos, vídeos ou imagens para outras pessoas. sem consentimento.”

 

Por que as mulheres são as mais afetadas?

De acordo com a promotora, as mulheres são os principais alvos do crime de conteúdo sexual ou íntimo, o que mostra como a sociedade ainda é machista. “Essas invasões e postagens ainda revelam como a sociedade é discriminatória e objetifica as mulheres, como se estivessem destinadas a servir ao homem. É importante relembrar que a responsabilidade por estas divulgações não é da vítima, mas de quem invade e compartilha.”

 

Contudo, o machismo também mora em muitas mulheres, que ao invés de darem apoio, julgam as demais como se elas tivessem provocado o fato. É preciso mudar o olhar, a forma de pensar. Nunca julgar e sempre apoiar quem sofre violência

 

Não repita a senha

“Para tentar diminuir os riscos, podem ser usados alguns mecanismos. O primeiro seria utilizar uma senha para cada serviço, nunca repita senha. O segundo é: procurar utilizar todo tipo de segurança possível, autenticação de dois fatores, perguntas e respostas secretas e recomendo que as senhas sejam anotadas em um papel, em um caderno, não deixe isso armazenado em computador nenhum”, alerta Nascimento.

 

Nada de wifi de graça!

Não use wifi público. O ideal é sempre usar pacote de dados ou uma rede de wifi seguro.

 

Não use aparelhos de terceiros

Não faça transações bancárias, financeiras, compra de passagens em equipamento de terceiros, não permita que coloquem discos externos ou pen-drives no seu computador, isso pode ter um vírus. O melhor antivírus que tem é você mesmo. São pequenas regras básicas mas que fazem a diferença.”

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