Basta irem à padaria, ao mercado ou visitarem a família para que as mãos do aposentado Leonildo Tragante se unam às da esposa Maria Madalena e o par atraia olhares por onde caminhe. “As pessoas falam ‘que casal bonito’ e nos elogiam por continuarmos sendo românticos após 70 anos de casados”, conta o casal de moradores de Curitiba, que comemorou Bodas de Vinho na última terça-feira (22). “Mal sabem eles que a gente também anda de mãos de dadas para nenhum dos dois cair”, brinca Maria.
O casamento aconteceu em 1949 – quando alguns pais ainda escolhiam o futuro cônjuge dos filhos. “Esse era o nosso caso”, recorda a curitibana. Por isso, ela e o noivo não tiveram oportunidade de se apaixonar um pelo outro antes de trocarem alianças e aprenderam o que era “amor” por meio da convivência. “Lembro que eu nem queria casar porque era muito nova, mas hoje vejo que nossa união foi um presente dado por nossos pais”.
E a confiança, paciência e amizade foram algumas chaves para isso. De acordo com a aposentada de 83 anos, logo no início do casamento eles passaram por um grande desafio e precisaram dessas características para superá-lo. “Nossa primeira filha teve meningite e faleceu aos dez meses de idade”, recorda Madalena, que contou com o apoio do marido durante a fase de luto e conseguiu recomeçar. “Depois, tivemos dois filhos: nossas maiores alegrias e nossa razão de viver”.
Com dois anos de diferença, Guilherme Tadeu e a irmã Gracia Tragante sempre viram o cuidado que os pais tinham um pelo outro e aprenderam, desde cedo, a respeitar outras pessoas. “A gente percebia isso de forma muito intensa em casa porque, mesmo que eles tivessem opiniões diferentes, nunca tiveram uma discussão mais pesada”, conta o caçula de 65 anos.
Além disso, Leônidas e Maria Madalena enfrentavam todos os problemas juntos e pensavam primeiro no bem estar do outro e dos filhos. “Quando eu tinha 16 anos, por exemplo, meu pai sofreu uma fratura exposta na perna durante o trabalho, e minha mãe cuidou dele vários meses com o maior carinho”, recorda o filho. “E hoje é meu pai quem retribui”.
De acordo com Madalena, essa retribuição tem acontecido desde agosto de 1992, quando ela descobriu que sofria de câncer no reto e que – além de passar por cinco cirurgias na tentativa de retirar o tumor – precisaria usar uma bolsa de colostomia pelo resto da vida. “Antigamente, quando o médico falava em câncer, a gente já pensava em morte. Então, chorei muito”, recorda. “Quem me ajudou a superar foi meu marido. Ele foi companheiro e amigo”.
Hoje, a aposentada não tem mais vestígios da doença, mas precisa usar a bolsa coletora e cuidar de outros problemas de saúde como pressão alta e as dores nas pernas. “Aí ele me ajuda porque, com 90 anos, tem muita saúde, graças a Deus”, afirma Madalena, que sempre passeia com o esposo e faz questão de ir com ele aos eventos que aparecem. “Gosto muito de festa e ele me acompanha”.
Grande evento
Por isso, o casal aproveitou cada momento da festa organizada por seus familiares para marcar os 70 anos de união. A comemoração aconteceu no último sábado (19) no bairro Rebouças, em Curitiba, e contou com muita música, um jantar especial e a companhia de quase 120 pessoas. “Vieram netos e bisnetos do Rio de Janeiro, São Paulo e do Norte do Paraná”, relatou o filho Guilherme.
A família também convidou o mesmo padre que celebrou as bodas de prata e de ouro do casal – Salvador Ramos Nogueira – para dirigir uma nova cerimônia de gratidão na última terça-feira (22). Nela, o casal reafirmou os votos feitos há sete décadas e garantiu que o amor continuará até o fim. “Somos muito felizes juntos e o segredo para isso é entender o outro, perdoar sempre e aproveitar os momentos juntos”, disse Leonildo ao Sempre Família. “Afinal, o tempo passa muito rápido e temos que viver bem o dia de hoje”, finalizou.