Rui Car
12/05/2017 15h10 - Atualizado em 12/05/2017 13h44

“Engravidei novamente para salvar minha filha”

"Por um filho a gente faz tudo mesmo. E vale a pena!"

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A administradora de empresas Juliana Santana descobriu que poderia curar a filha Giovanna, 3 anos, que nasceu com anemia falciforme, através de um transplante de medula de um filho compatível

 

Depoimento dado a Débora de Andrade

Ser mãe sempre foi um sonho. Quando eu e meu marido completamos 5 anos de casados, decidimos que era a hora de termos o nosso bebê. Avisamos nossos médicos e fizemos todos os chamados exames pré-nupciais. Os resultados estavam ótimos e logo engravidamos da Giovanna, em 2012. Foi uma gestação maravilhosa e, quando ela nasceu, em junho do ano seguinte, eu descobri um amor incondicional. Estávamos muito felizes! Eu me lembro do momento exato em que eu recebi a notícia de que minha bebê tinha um tipo grave de anemia. A Gigi estava mamando no meu peito quando o hospital me ligou com o resultado do teste do pezinho. Eles disseram que ela poderia ser portadora da anemia falciforme, doença que atinge os glóbulos vermelhos do sangue, impedindo o correto transporte de oxigênio para os órgãos do corpo. Também falaram que existiam graus variáveis, então teríamos que acompanhar para ver como a doença iria se desenvolver. Ficamos muito tristes. Nos exames pré-nupciais, não nos haviam solicitado uma análise simples de sangue (o Eletroforese de Hemoglobina), que poderia ter constatado que tanto eu quanto meu marido carregávamos traços da doença no nosso DNA — assim, nosso bebê já nascia com 25% de chances de ter a anemia falciforme, um percentual bem alto.

 

Em poucos meses a Gigi já passava a precisar de constantes transfusões de sangue: a cada 20 dias ela voltava para o hospital. E aí fomos percebendo que ela teria a forma mais grave da doença. Os médicos hematologistas nos diziam que era possível conviver com a anemia, mas eu não sentia segurança nisso. Com a imunidade baixa, minha bebê estava sempre suscetível a gripes e outras doenças. Pesquisei em vários grupos na internet e vi que com a anemia falciforme era difícil levar uma vida normal. Muitos adolescentes já haviam até se aposentado! Eu não queria que a minha filha tivesse uma rotina assim e não me conformava com as informações que recebia dos médicos. Dentro de mim eu tinha a certeza de que iria curar a minha filha. Eu faria qualquer coisa para vê-la saudável, qualquer coisa.

 

Giovanna e Matheus (Foto: Arquivo pessoal)
 

Comecei a pesquisar na internet sobre casos em outros países e descobri que nos Estados Unidos o filho do jogador da NBA, Carlos Boozer, havia nascido com a doença mas foi curado graças a um transplante de medula que recebeu dos irmãos, porque os pais decidiram ter mais filhos. Aquilo foi incrível para mim e me encheu de esperanças! Nenhum médico jamais havia me dito da cura da minha filha através de um transplante de medula. Afinal, ela não tinha irmãos. Mas, como mãe, eu fui além. Eu segui muito meu coração — o que fosse preciso, eu faria. Aí, descobri o primeiro caso no Brasil, em que a filha havia nascido com talassemia, outra doença grave, mas se curou ao receber o transplante do irmão mais novo. Entrei em contato com a mãe e no dia seguinte, eu estava na casa dela, querendo entender como eu poderia salvar a minha filha através da fertilização in vitro também.

 

Ficamos muito felizes porque também não queríamos ter um filho só. Então, mesmo quando engravidássemos do segundo, ele teria grandes chances de ter esse tipo grave de anemia. Foi uma dupla felicidade: a chance de salvar a minha filha e de poder engravidar de novo. Era dezembro de 2014 quando encontrei o Dr. Edson Borges, médico especializado em fertilização in vitro. Mas havia um detalhe: além de ter os óvulos fertilizados, também precisaríamos de uma seleção genética que pudesse escolher aquele embrião que não tivesse os traços da doença, já que era necessário gerar um irmão 100% compatível. Só que essa análise era feita no exterior e levaria meses! Eu acredito muito que as soluções vão aparecendo quando a gente acredita que é possível, e eu nunca duvidei de curar minha filha. Aí, conheci o Dr. Ciro Martinhago, um médico geneticista brasileiro que dominava a técnica e podia fazer a seleção no mesmo mês da fertilização. Aquilo era incrível e adiantaria muito o processo, pois enquanto isso, a Gigi seguia sempre com a imunidade baixa, e fazendo transfusões de sangue no hospital.

 

Fiz a primeira fertilização e comemoramos a minha gravidez, mas 10 dias depois da inseminação, descobrimos que aquele embrião não tinha vingado. Tentamos a segunda vez, mas naquela não houve nenhum embrião 100% compatível, para a nossa tristeza. Fomos para a terceira tentativa, quarta, quinta, sexta. E nada. Enquanto isso, minha bebê continuava sofrendo com as complicações da doença, mas isso me dava cada vez mais força. Eu não ia desistir de curá-la. Nossos recursos foram acabando, mas não pensava em desistir. Hoje eu sempre digo para as pessoas: é possível encontrar alternativas. Durante todas as tentativas frustradas, em vez de me desmotivar, eu buscava forças para continuar. Quando me perguntam o que me fez manter tão firme, eu digo que além do amor sem limites pela minha filha o que me ajudou também foi a minha fé. Eu sou devota de Nossa Senhora Aparecida e tenho certeza de que ela me ajudou.

 

É que já na sexta tentativa frustrada, eu contei a minha história para o padre da igreja a que frequento. Ele tinha acabado de voltar de Jerusalém trazendo um pozinho da gruta do leite, lugar onde Maria amamentou o menino Jesus. Acredita-se que muitas mulheres com dificuldades para engravidar alcançaram seu pedido através desse pó. O padre deu o pozinho para mim e orei muito. E na tentativa seguinte eu consegui engravidar! O mais mágico de tudo é que dos seis embriões fertilizados nesta vez, todos eram 100% compatíveis para serem implantados em mim! A clínica inteira não acreditava, a equipe toda estava em festa.

 

No dia 7 de novembro de 2016 nosso anjinho Matheus nasceu. E o sangue do cordão umbilical dele era tão bom que já foi o suficiente para salvar a Gigi. Caso contrário, teríamos que esperar ele crescer para retirar células da medula dele. Eu e meu marido sonhamos que assim como nossa filha foi a primeira criança a ser curada utilizando apenas o cordão umbilical do irmão selecionado geneticamente para a Doença Falciforme, que mais crianças consigam a cura também. O transplante aconteceu em março, e minha garotinha ficou quarenta dias no hospital e 30 dias longe do irmãozinho. Para receber o sangue novo, ela passou por sessões de quimioterapia para destruir as células doentes.  Quando meus filhos se reencontraram, foi a coisa mais linda!

 

Hoje, aos 3 anos, ela tem a imunidade de um bebê e precisa tomar todas as vacinas novamente. Mas está ótima e feliz. E meu coração cheio de gratidão. Por um filho a gente faz tudo mesmo. E vale a pena! Para todas as mães, eu digo: mesmo em meio a tristeza e dificuldades da vida, faça seu filho sorrir, pois isso trará força e fará a diferença durante o tratamento. Não desistam de tentar, até quando parece que as coisas não darão certo. Muita fé e determinação atraem anjos para nossa vida. Este é o dia das mães mais especial de todos, um ano marcado para sempre! Nossa família ficou completa com a vinda do Matheus e realizamos nosso maior sonho: curar a Gigi. Minha filha renasceu e eu e meu marido também.

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