Rui Car
30/05/2018 17h00 - Atualizado em 30/05/2018 14h17

Entenda como o corpo reflete os sinais da mente

A doença não é uma fatalidade, mas antes um sinal de desequilíbrio e uma tentativa de restabelecê-lo

Assistência Familiar Alto Vale
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Delta Ativa

O corpo é nossa memória mais arcaica. Cada acontecimento vivido deixa no corpo sua marca profunda“. (Jean-Yves Leloup, em O corpo e seus símbolos)

 

 

Foi Wilhelm Reich (1897-1957), médico austríaco discipulo de Freud, quem introduziu o conceito Corporal no meio psicanalítico. Com forte influência do pensamento oriental, percebeu que nosso corpo é a morada de nosso inconsciente e é onde todos os processos psíquicos se revelam.

 

Ele observou o que denominou de couraças musculares do caráter, ou seja, cada corpo adquire uma estrutura de tensão muscular e bloqueios energéticos específicos que se relacionam a emoções e atitudes não expressas e que demonstram comportamento emocional. A forma como as tensões se estruturam reflete a estrutura de nossa personalidade e, consequente, o comportamento.

 

 

O corpo sempre conta sua história, simplesmente porque guarda todas as emoções vividas. Para as terapias corporais, o corpo é a entidade física da mente. E tudo que ocorre no interior da pessoa é retratado por ele.

 

 

O poder do toque

Quando um corpo é tocado, algo mágico acontece. Desde que o homem é homem, instintivamente toca regiões de seu corpo quando sente dor. Nossa mãe nos acalenta em seus braços e aprendemos desta maneira a acariciar e tocar o outro. Isso porque não somos apenas músculos e nervos, mas toda uma gama de pensamentos e sentimentos que acabam aflorando com o toque – assim como medos que podem ser despertados, nossos sonhos, desejos, aspirações e frustrações. Tudo pode ser desbloqueado com o toque. E não é apenas a forma do corpo que se altera, mas também a forma que se rompe, para sermos mais autênticos. Esse processo de conscientização é o maior benefício de toda a psicoterapia.

 

 

Nesse processo de sensibilização corporal, o paciente entra em contato com áreas de tensão esquecidas, já que nosso sistema nervoso aciona um mecanismo de suspensão de dor para podermos sobreviver. Isso traz à tona conteúdos traumáticos e, através disso, libera a energia psíquica e promove a conscientização.

 

Na Psicoterapia Corporal, as intervenções e manipulações corporais – aliadas às elaborações verbais -, promovem desbloqueio energético e liberação das emoções contidas nos músculos, garantindo saúde, qualidade de vida e ampliando a capacidade do indivíduo de sentir prazer e realização.

 

Dentro desta abordagem, tudo o que ocorre tem um sentido e um significado e seu maior propósito é manter o equilíbrio entre as coisas. A doença não é uma fatalidade, mas antes um sinal de desequilíbrio e uma tentativa de restabelecê-lo. O corpo é uma entidade inteligente que tudo faz para manter seu equilíbrio dinâmico, e devemos confiar nessa inteligência.

 

Entender a linguagem do corpo nos serve de bússola para nossa liberação psíquica. Não existe nenhuma emoção que não traga uma reação corporal equivalente.

 

  • medo dá dor de barriga e tremores nas pernas
  • raiva faz nosso coração acelerar
  • tristeza comprime o ar em nossos pulmões
  • cada ruga relata e delata as marcas de nossas escolhas.
 

 

Nossos músculos reagem a cada nuance de cor e até mesmo a mais mínima vibração de som desperta um mundo de sensações e sentimentos onde nenhuma palavra nunca pisou.

 

 

Observar as partes do corpo

Para nos entendermos e conhecermos melhor basta observarmos nosso corpo.

 

Sistema respiratório

A respiração é nossa primeira via de acesso ao mundo material. Ela marca o início e o fim de nossas vidas, se alterando a cada emoção. Quando estamos com medo inspiramos forte e esquecemos de expirar – é como se fosse nos faltar o ar. Quando temos raiva, o processo é inverso: não suportamos mais nada dentro de nós e começamos a bufar feito loucos. Já na ansiedade, o coração acelera e a respiração fica ofegante como que se através dela pudéssemos alterar magicamente a cronologia dos fatos.

 

Mãos

Nosso segundo contato com o mundo se dá através do tato, das sensações corporais, da mão que acalenta, nos nutre e nos toca e, às vezes, limita, cumprindo sua função de contato com o outro. Por ela, somos amparados e protegidos e é através dela que obtemos os recursos que nos possibilitam agarrar o mundo.

 

Cabeça, peito e pescoço

Foi dada à cabeça a sede do pensamento, da racionalidade; para nosso peito, a morada das emoções, e para o “coitadinho” do pescoço a função de comunicar esses setores que, em seu equilíbrio dinâmico, dão a forma à vida.

 

 

Barriga

É na barriga que começa a fome. Fome de amar, de viver, de criar. E, ironicamente, na mesma barriga de onde nasce a vida mora também o medo (seu fiel escudeiro). Sim, o medo é nosso fiel escudeiro porque sem ele não teríamos guardiões internos que mensuram os perigos do caminho. É importante lembrar, porém, que medo em demasia nutre “fantasmas” que nos paralisam.

 

Coluna, pernas e pés

Nossa coluna garante a capacidade evolutiva de caminharmos e reflete nossa estrutura e flexibilidade. Nossas pernas e pés são ligados ao corpo através da pelve que, como o pescoço, faz a interligação de nossos desejos (barriga) com nossa capacidade de agir e caminhar dentre os caminhos escolhidos (pernas/pés). Ah, e pobre dos pés! Não é à toa que para os orientais os pés reflitam todas as outras áreas do corpo. Foi dada a eles a difícil missão de caminhar pelo mundo embasando nosso corpo. Um mínimo deslize e pumba! Tudo fica de ponta cabeça e por vezes sem pé e nem cabeça! Já nosso joelho carrega nossa paciência e estabilidade.

 

Olhos

Não podemos também deixar de citar nossos olhos (a janela da alma), que dão a direção para todo movimento – e os ouvidos, que precisam ouvir o externo e o interno e até mesmo o que a boca nunca teria coragem de falar. Quando nos realfabetizarmos na linguagem do corpo perceberemos que dor e doença são apenas a forma que nosso organismo encontra para nos fazer entender que precisamos redirecionar nossos comportamentos para atingirmos o equilíbrio e o prazer que tanto merecemos.

 

Só assim teremos certeza de que a melhor maneira de demonstrar afeto a ser entendido em qualquer lugar ou idioma, sem ser reduzido a por vezes pequenas e simples palavras como um “eu te amo” ou “eu te adoro”, é sempre um grande e caloroso abraço.

 

 

Abraços nos tocam, confortam, desbloqueiam, nos fazem nos percebermos, percebermos o outro – e nos curam. Abrace e deixe-se abraçar. Sempre. E muito!

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