Rui Car
13/04/2018 08h30

Escola acaba com provas e lição de casa para “reduzir o estresse”

Sistema de notas será baseado no trabalho desenvolvido durante as aulas

Assistência Familiar Alto Vale
Yahoo!

Yahoo!

Delta Ativa

Não é segredo que fazer lição de casa é estressante. No entanto, nas últimas décadas alguns pesquisadores começaram a se perguntar se a ansiedade causada por este tipo de tarefa supera seus benefícios. Inúmeros estudos sugerem que, infelizmente, os aspectos ruins podem ofuscar os bons. Um estudo em particular, realizado pela Universidade de Stanford em 2014, descobriu que o excesso de lição de casa não apenas aumenta o estresse, mas provoca dificuldades para dormir e agrava outras condições físicas, como as dores de cabeça.

 

Considerando estes resultados, era apenas uma questão de tempo até que as escolas começassem a fazer experimentos e implantassem uma solução radical: abolir a lição de casa. A primeira que chegou à mídia, por causa desta iniciativa, foi uma escola de ensino fundamental em Montreal, no Canadá, cujo diretor disse que queria que seus alunos estivessem “brincando” após as aulas, e não trabalhando.

 

Agora, uma escola na Suécia deu um passo a mais e baniu não apenas as tarefas de casa, mas também as provas. O colégio de ensino médio, localizado na pequena cidade chamada Boden, informou aos alunos que a nova política, implementada em fevereiro, tem como objetivo reduzir o nível de estresse dos adolescentes. “Foi minha ideia,” disse Petronella Sirkka, diretora da Sturenskolan School, ao Yahoo Lifestyle. “Os alunos disseram que estão aliviados, já que enfrentam muita pressão durante o ano escolar”.

 

A decisão da Sturenskolan foi recebida com elogios e críticas na cidade, mas isso não fez com que a diretora voltasse atrás. “Nós ouvimos relatos constantes de que nossas crianças não se sentem bem, e isso acontece porque elas estão sempre enfrentando um alto nível de estresse,” disse Sirkka ao SVT, canal de televisão nacional da Suécia. “Esta é a nossa forma de tentar reduzir este estresse”.

 

Sirkka também informou que o currículo seguido pelos alunos é “muito difícil” e “faz exigências individuais muito altas”. Eliminar a lição de casa e as provas (exceto no caso dos exames requeridos pelo governo nacional) é uma tentativa de transformar os estudos em algo “menos prejudicial para o seu bem-estar psicológico”, de acordo com um artigo do Sputnik News.

 

Sirkka conta que, desde que os alunos voltaram da semana de Páscoa, não estiveram em classe o tempo necessário para avaliar se a mudança fez diferença. No entanto, ela afirma que os estudantes estão felizes com a decisão. Para Sirkka, esta é uma boa notícia. Seu objetivo, se tudo der certo, é banir permanentemente as tarefas de casa e as provas na escola, em 2019.

 

A ansiedade que a solução de Sirkka tenta combater não está presente apenas na Suécia. Pesquisas mostram que os jovens norte-americanos estão mais ansiosos do que nunca. De acordo com o National Institute of Mental Health, 31,9% dos adolescentes dos Estados Unidos já foram diagnosticados com transtorno de ansiedade, em comparação com apenas 19% dos adultos. Na última década, segundo a American Academy of Pediatrics, o número de adolescentes internados em hospitais em decorrência de pensamentos suicidas dobrou.

 

Embora existam muitos fatores que contribuem para o aumento da ansiedade entre os adolescentes – a ameaça à saúde física é um deles – o fardo da lição de casa é algo muito real. O estudo de Stanford mencionado anteriormente, publicado no Journal of Experimental Education, avaliou mais de 4 mil estudantes em comunidades de classe média-alta na Califórnia (um grupo demográfico que, vale ressaltar, recebe mais ajuda com a lição de casa do que outros), e descobriu que o excesso de lição de casa, além de aumentar os níveis de estresse, reduz a socialização com amigos e familiares.

 

Estudos como este, combinados com evidências anedóticas dos pais, levaram a uma irritação cada vez maior com as tarefas após a escola. Em um livro intitulado ‘The Case Against Homework’ (O Caso Contra a Lição de Casa, em tradução livre), as autoras Sara Bennett e Nancy Kalish alegam que não há evidências dos benefícios da lição de casa para os alunos – e inúmeras evidências confirmam seus efeitos negativos.

 

Foto: Getty Images
 
 

“O excesso de lição de casa está comprometendo nossas escolhas como pais, prejudicando a saúde de nossos filhos, e reduzindo o precioso tempo que temos em família,” afirmam Bennett e Kalish. “Muitos ‘especialistas em lição de casa’ asseguram que um de seus benefícios é aumentar o envolvimento dos pais. Mas será que isso realmente é benéfico já que estamos sempre brigando por causa das tarefas, ou ficando acordados até mais tarde para terminá-las com nossos filhos – ou fazendo-as por eles?”

 

Em uma matéria que critica o livro de Bennett e Kalish, Jay Matthews, do Washington Post, afirmou que esta hipótese não leva em conta um fato crucial. “Quando os alunos não estão fazendo lição de casa, seus principais passatempos não são brincar ou ler por diversão, nem alguma outra atividade que os críticos consideram que estariam sendo prejudicadas pelo excesso de lições de casa,” escreve Matthews. “Em vez disso, eles estão assistindo muita televisão”.

 

Estes argumentos, escritos no meado de 2000, ainda são relevantes na atualidade. Apesar disso, embora a lição de casa há anos venha despertando debates, as escolas norte-americanas não reduziram a quantidade dessas tarefas. Um artigo mais recente no New York Times divulgou um subproduto deste fenômeno: uma tendência crescente de “terapeutas de lição de casa”. Estes especialistas, conforme o nome indica, são convocados para agir como tutores para as crianças e, ao mesmo tempo, oferecer “apoio emocional”.

 

Lisa Jacobson, uma das mulheres citadas no artigo do Times, é dona de uma empresa de tutores de alto nível em Nova Iorque, que já emprega oito terapeutas de lição de casa. Ela resume seu trabalho em uma frase: “O principal objetivo é acalmar as pessoas”. Esta é a mesma coisa que Sirkka e seus professores esperam fazer ao simplesmente eliminar as tarefas de casa.

 

Sirkka, que entende que os críticos podem desaprovar a iniciativa, diz que é importante observar que o fim da lição de casa e das provas não representa uma mudança completa na estrutura escolar. “Isso não significa que nós não avaliamos os nossos alunos,” disse ala ao Yahoo Lifestyle. “Nós simplesmente não exigimos que eles façam tarefas escolares ou estudem para provas em casa”.

 

Em vez disso, o sistema de notas da escola Sturenskolan será baseado no trabalho desenvolvido durante as aulas, nos horários normais. Resta saber se a solução vai funcionar a longo prazo.

 

 

Abby Haglage

Justen Celulares