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23/06/2017 09h50 - Atualizado em 23/06/2017 09h53

Escova progressiva pode matar, e a história de Andrea é o exemplo disso

Por L. Barbosa

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Uma das queridinhas entre os adeptos em manter os fios de cabelo lisos, a escova progressiva pode causar sérios danos à saúde. O vilão, que pode prejudicar tanto quem recebe o procedimento estético quanto quem o aplica, é o formol. Embora seja utilizado em produtos para alisamento, a substância só é liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como conservante, para uso da indústria, em concentração máxima de 0,2%. E esse percentual não é o suficiente para esticar as madeixas. De acordo com a tricologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Clínica Wulkan (São Paulo), Juliana Annunciato, os produtos com concentração de formol para alisar são ilegais.

 

Alerta para os sinais
Você pode fazer um teste na pele, mas não dá para saber se acontecerá alguma reação alérgica ao formol. E mesmo que nada ocorra na primeira vez, não significa que você está a salvo em aplicações futuras. Entre os sinais de que algo está errado, estão: vermelhidão na face, coceira intensa na cabeça, sensação de queimação, tosse, rouquidão e inchaço dos olhos. Os sintomas, em geral, aparecem na hora e a aplicação deve ser interrompida. Em seguida, deve-se buscar ajuda médica. “O consumidor tem que ficar atento a todo processo que precisa ser aquecido, seja por meio de chapinha ou secador, para ter efeito liso, pois é o calor que ativa o formol”, explica Juliana Annunciato.

 

Em um momento em que as selfies estão bombando, as pessoas querem mostrar apenas o recorte perfeito do dia a dia. Assim, o apelo pela estética e a imposição de um padrão de beleza é cada vez maior, alerta o cirurgião plástico, membro da Sociedade Brasileira de Plástica e do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo), Wendell Uguetto. Segundo Uguetto, outro risco está nos diversos lançamentos estéticos que prometem milagres: “depois de alguns meses, descobrimos que não passam de especulações. Claro que existem os tratamentos estéticos seguros e conceituados, mas é preciso pesquisar bem para não colocar a vida em risco por causa da vaidade”.

Sueli
Andrea aos 31 anos – Foto: Acervo
 

Sonhos interrompidos
Embora não seja comum, o uso errado do produto pode levar a morte. Alguns dos motivos para isso são alergias severas, exposição a grande quantidade de formol ou a criação caseira de receitas para alisamento – os dois últimos, responsáveis pelo óbito de Andrea (31). Tudo começou em 2007, época em que ela abrira um salão em São Paulo com a amiga Sueli, então com 28 anos. Como tinha menos experiência como cabeleireira, Sueli, hoje auxiliar administrativa, era responsável por fazer penteados. Já a sócia, cuidava das progressivas – procedimento mais pedido do estabelecimento (em média, eram feitos nove por semana). Para realizar o alisamento de sucesso, Andrea tinha uma fórmula própria: na receita dela, continham 0,90 ml de formol por litro de progressiva (45 vezes mais do que o permitido pela Anvisa). Mas, à medida em que aplicava a técnica nas clientes (protegidas por uma toalha úmida), a saúde da empresária se deteriorava, já que inalava o vapor liberado pelo aquecimento. “Ela sempre ficava exausta, tossia muito, tinha coriza e dores pelo corpo. Mas não ia ao médico ver o que estava acontecendo”, revela Sueli.

 

Sintomas de gripe
Com o passar dos meses, a situação se agravou ainda mais. “Apesar de sermos sócias, eu não tinha acesso a fórmula criada por ela e nem conhecimento dos riscos que aquilo causava para o corpo. Aliás, nem ela sabia disso. Os sintomas apresentados por minha amiga eram parecidos com o de uma gripe, mas nunca passavam. Depois de um tempo se automedicando, incluindo o uso de antibióticos sem prescrição médica, a saúde dela piorou. A Andrea chegou a ser internada e o diagnóstico foi de pneumonia. Após ser liberada, ela foi enfraquecendo ainda mais e facilmente ficava sem ar. Ela retornou ao hospital e novos exames foram pedidos, indicando a presença de muitas manchas pretas nos pulmões dela. Ao comentar que era cabeleireira, os médicos suspeitaram que o motivo para o problema era a frequente exposição ao excesso de formol. Depois de alguns meses internada, os órgãos começaram a falhar e minha amiga morreu. Ela faleceu no dia do meu aniversário e deixou três filhos”, lamenta a ex-sócia.

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