Rui Car
27/12/2018 08h59

Especialistas explicam por que a laqueadura está se tornando mais popular do que a pílula

A esterilização feminina vem se tornando mais popular do que a pílula anticoncepcional

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Em discussões sobre a contracepção feminina, genericamente se supõe que o principal contraceptivo é a pílula anticoncepcional. No entanto, novas descobertas divulgadas pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos) mostram que outro método está superando a popularidade dos comprimidos orais: a esterilização feminina.

 

De acordo com os dados da agência norte-americana, que foram coletados entre 2015 e 2017 e divulgados este mês, quase 65% das 5.500 mulheres com idades entre 15 e 49 anos, participantes da pesquisa, afirmaram ter usado alguma forma de contracepção no mês em que foram entrevistadas. Os métodos mais comuns foram a esterilização feminina (18,6%), contraceptivos orais (12,6%), contraceptivos reversíveis de ação prolongada, como os dispositivos intrauterinos (10,3%), e as camisinhas masculinas (8,7%).

 

Na última vez em que esta pesquisa foi realizada (entre 2011 e 2015), apenas 14% das mulheres afirmaram estar confiando na laqueadura, procedimento cirúrgico em que as trompas são fechadas para prevenir gestações futuras. Atualmente, cada vez mais mulheres estão optando por este método, à medida que se tornam mais velhas. Cerca de 4% das mulheres entre 20 e 29 anos escolhem esta alternativa, em comparação com quase 22% na faixa dos 30 aos 39 anos, e 39% entre as que tem de 40 a 49 anos. Os pesquisadores também descobriram que os índices de esterilização feminina diminuem, e o uso da pílula cresce, conforme o nível de escolaridade aumenta.

 

A laqueadura é uma decisão séria. Trata-se de uma forma permanente de contracepção que requer cirurgia, de acordo com o American College of Obstetrician and Gynecologists. Durante o procedimento, as trompas de Falópio são cortadas, ligadas ou bloqueadas para prevenir gestações futuras, impedindo que o óvulo viaje dos ovários até as trompas, ou que o espermatozoide do homem passe pelas trompas e chegue ao óvulo, segundo a Mayo Clinic. A cirurgia não costuma afetar o ciclo menstrual natural da mulher.

 

“A laqueadura previne a gravidez de forma permanente, fazendo com que as mulheres não precisem usar outro método contraceptivo,” disse ao Yahoo Lifestyle a Dra. Jennifer Wider, médica especialista em saúde feminina. “É uma opção conveniente e popular entre mulheres que já completaram suas famílias ou que não querem ter filhos”.

 

Jessica Shepherd, ginecologista do Texas que prefere utilizar tratamentos não invasivos, disse ao Yahoo Lifestyle que os números são “chocantes, considerando que se trata de um procedimento permanente”.

 

Esta escolha tem alguns riscos. Um deles é o aumento da chance de ter uma gravidez ectópica (na qual o feto se desenvolve fora do útero), algo que pode ser fatal para as mulheres, de acordo com Wider. “Outros efeitos colaterais incluem cólicas e sangramentos”, ela acrescenta. Como é necessário fazer uma cirurgia, também há o risco de complicações, incluindo dor crônica e até a morte, disse ao Yahoo Lifestyle a Dra Christine Greves, ginecologista do Winnie Palmer Hospital. “Algumas mulheres também reclamam que a menstruação fica menos regulada após a laqueadura, mas geralmente elas estavam usando um método de contracepção hormonal antes do procedimento, o que diminui bastante os desconfortos do período menstrual,” explica Greves.

 

Esta não é uma alternativa popular entre as mulheres mais jovens, mas é importante ter esta escolha. A coach de vida e hipnoterapeuta Bri Seeley disse ao Yahoo Lifestyle: “Eu sempre soube, praticamente durante toda a minha vida, que não quero ser mãe. Sinto que isso faz parte de quem eu sou”. Depois de passar anos tomando pílula, ela perguntou ao seu médico se poderia fazer uma laqueadura aos 24 anos, e a solicitação foi negada. Embora tenha feito a mesma pergunta repetidas vezes, o procedimento só foi autorizado quando ela estava com 30 anos.

 

“Foi frustrante porque eu me conheço. Ouvir alguém me dizer que eu não me conheço bem o suficiente para tomar esta decisão foi muito frustrante,” disse Seeley ao Yahoo Lifestyle. Ela acabou encontrando um médico que fez a cirurgia há seis anos. “Eu passei de estar sempre preocupada com a possibilidade de engravidar a nem pensar no assunto ao longo dos últimos seis anos,” conta. “Tenho amigas que já precisaram brigar para conseguir um método contraceptivo, e agradeço a Deus por não precisar passar por isso”.

 

“Já vi muitos casos de mulheres que estão perto dos 30 anos e tiveram filhos quando eram mais novas; após o terceiro ou quarto filho, elas podem pedir para fazer uma laqueadura,” diz Grevez. No entanto, ela também tem pacientes que, assim como Seeley, sabem que não querem ter filhos e se interessam pelo procedimento. Shepherd também está acostumada a ver casos assim. “Algumas pessoas dizem que não querem ter filhos, mas sempre voltamos aos contraceptivos reversíveis de longo prazo quando elas falam isso, porque queremos dar a essas mulheres a opção de mudar de ideia,” ela diz. Pesquisas mostram que há um percentual maior de mulheres que se arrependem de ter feito a cirurgia quando a mesma é realizada antes dos 30 anos, e os médicos sabem disso. “Há pessoas que dizem estar certas de que não querem mais filhos, mas depois iniciam um novo relacionamento ou se casam, e se arrependem da decisão,” diz Shepherd.

 

É por isso que alguns médicos se recusam a fazer o procedimento, principalmente se a paciente tem menos de 30 anos. Embora muitas mulheres entendam que a decisão não tem volta, Shepherd diz que, para algumas pessoas, “há uma percepção de que você está ligando as trompas como se estivesse amarrando o cadarço do tênis, e que se quiserem ter filhos novamente, basta desamarrá-las. Não, não funciona desta forma”.

 

Seeley ressalta que entende o ponto de vista dos médicos. “Há muitas mulheres que podem mudar de ideia no futuro, e eu entendo isso,” ela diz. É por isso que ela recomenda que as mulheres pensem no que fariam se mudassem de ideia e quisessem ter filhos no futuro. “Meu plano B se eu decidir ser mãe é adotar,” ela conta. “Eu prefiro adotar uma criança que não teve chance na vida do que trazer outra ao mundo. É importante que as mulheres façam essa pergunta a si mesmas”.

 

Apesar de casos como este, Greves explica que costuma realizar o procedimento em mulheres que já têm filhos, que tiveram gestações difíceis e de alto risco, que tentaram e não se adaptaram aos métodos reversíveis, como os implantes e o DIU, ou que têm parceiros que se recusam a fazer uma vasectomia. “Ainda assim, como médicos, devemos aconselhar as pacientes a levar em consideração outras alternativas, incluindo a vasectomia, que é menos arriscada,” diz ela.

 

Os especialistas recomendam que as mulheres tenham certeza de que este é um passo que elas querem tomar antes de passar pelo procedimento. “É algo irreversível, então é fundamental estar 100% certa,” ressalta Wider. Greves concorda: “Se você tem qualquer resquício de dúvida, não deve fazer a cirurgia”

 

 

Korin Miller

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