Rui Car
14/04/2017 07h15

Facebook não retira pornografia infantil do ar

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Uma investigação feita pelo jornal britânico “The Times” revelou que o Facebook vem falhando em retirar do ar conteúdo potencialmente ilegal, mesmo após denúncias de usuários. Um repórter do diário criou um perfil falso na rede social e identificou posts de pedofilia, vídeos com decapitações conduzidas pelo Estado Islâmico e publicações favoráveis aos recentes ataques terroristas na Inglaterra e no Egito. E o material não foi retirado do ar depois de o jornalista sinalizá-lo como indevido.

 

Na avaliação de um procurador do governo ouvido pelo “Times”, o Facebook pode ser processado por não ter agido da maneira devida nesses casos. Segundo Julian Knowles, as imagens compartilhadas “sem dúvida” desrespeitam as leis do Reino Unido.

 

Para Ricardo Pedreira, diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), no Brasil, o caso chama atenção para o fato de conteúdos falsos ou mesmo ilegais circularem livremente nas redes:

 

— As redes sociais são um território livre para informações falsas, boatos, conteúdo distorcido ou ilegal, como de pedofilia. É um fato já reconhecido pelo próprio Facebook e pelo Google, que estão buscando formas de corrigir isso, sob risco de enfrentar processos criminais.

 

REDE CULPA FALHA HUMANA

 

Identificando-se como um profissional de tecnologia da informação, o repórter do “Times” encontrou as publicações ofensivas e ainda se tornou amigo de mais de cem apoiadores do Estado Islâmico, enquanto encontrou grupos no Facebook que promovem “imagens obscenas ou pornográficas de crianças”, segundo a reportagem. A criação dessa rede de amigos é propiciada por uma característica do Facebook: sugerir pessoas que participam de grupos similares ou têm interesses parecidos.

 

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A rede social atribuiu o fato de não ter retirado do ar imagens e vídeos de pornografia infantil sinalizados como tal por usuários a uma falha humana, informou outro jornal britânico, o “Financial Times”.

 

O vice-presidente de Operações Globais do Facebook, Justin Osofsky, desculpou-se pelo ocorrido. “Está claro que nós podemos fazer melhor, continuaremos a trabalhar para atender aos altos padrões que as pessoas corretamente esperam do Facebook”, afirmou.

 

Pedreira, da ANJ, vê nos grupos de mídia que produzem conteúdo jornalístico de qualidade um contraponto a esse cenário:

 

— Empresas com foco em produção de conteúdo de qualidade, como jornais, revistas e redes de televisão, trabalham sob uma curadoria, dentro da legalidade, com foco na veracidade dos fatos. Nas redes sociais, porém, os usuários estão sendo expostos a informações falsas.

 

Quando um usuário informa ao Facebook que uma postagem tem conteúdo que não deveria estar na rede social, a publicação entra numa fila de itens denunciados. A ordem é determinada pela urgência do assunto, definida por um algoritmo. Temas como risco de suicídio ou abuso sexual contra crianças são considerados mais urgentes e ficam em destaque para os moderadores. O Facebook diz que a equipe é formada por milhares de pessoas em diferentes países e trabalha 24 horas por dia.

 

IMPACTO NOS ANÚNCIOS

 

A descoberta do “Times” é similar à feita pela BBC em março deste ano. Jornalistas da rede denunciaram grupos fechados de pornografia infantil, que não foram retirados do ar.

 

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As redes sociais têm estado sob pressão crescente na Europa em função da disseminação de notícias falsas e discurso de ódio. No mês passado, a Alemanha informou estar preparando uma lei que poderá impor multas de até € 50 milhões a redes sociais que não apagarem notícias falsas ou discursos de ódio, segundo o “Financial Times” e a rede alemã “Deutsche Welle”.

 

O impacto da forma como os gigantes Facebook e Google operam já se faz sentir no mercado de comunicação como um todo, explica Pedreira, da ANJ. Além dos problemas de confiabilidade do conteúdo, o uso de recursos como algoritmos para dimensionar a audiência está afetando os anunciantes.

 

— Ninguém quer arriscar ver sua marca associada a inverdades ou conteúdos ilegais — diz Pedreira, em referência ao boicote que grandes anunciantes vêm promovendo ao YouTube, depois que marcas apareceram junto a vídeos de conteúdo extremista.

 

 

O Globo

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