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09/05/2017 16h10 - Atualizado em 09/05/2017 13h43

Filhas contam sobre a nova rotina ao lidar com mães diagnosticadas com Alzheimer

Por: Juliana Gola

Assistência Familiar Alto Vale
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Esquecer o que conversou minutos atrás, faltar a compromissos, andar pela casa sem saber o que exatamente estava fazendo. São esses alguns dos principais sintomas do Alzheimer, doença progressiva que destrói a memória e outras funções mentais importantes, e que deve dobrar nos próximos 20 anos, segundo dados divulgados pelo Relatório da Associação Internacional de Alzheimer (ADI) de 2015.

 

“Esse aumento se deve ao envelhecimento da população de um modo geral, já que a doença é mais comum nos idosos”, explica o neurologista Dr. Leonardo Lo Duca. “Como o diagnóstico é completamente clínico, ou seja, atribuido pelo médico no atendimento, sem o respaldo de exames comprobatórios, é preciso ficar atento aos sinais. Atualmente, 80% das queixas de esquecimento são relacionadas ao estresse”, afirma.

 

Identficar e lidar com a doença não é tão simples assim. Aos 71 anos, Sonia Maria Alves dos Santos foi diagnosticada no ano passado, mas ainda não a reconhece. “Desde que me separei, um ano atrás, percebi as alterações no comportamento da minha mãe. Ela me liga várias vezes ao dia e não se lembra que já ligou. Ela pergunta pelo meu ex-marido, como se ainda fôssemos casados. Outro dia, colocou uma meia no microondas e nem se deu conta”, conta Kimberly Santos Fracari.

 

Sonia Maria com a filha Kimberly (Foto: Arquivo pessoal)
 

No próximo Dia das Mães, como todos os outros, desde que detectaram a doença, Kimberly irá visitar a mãe com os dois filhos e almoçar em família, com o irmão e o pai. “Trabalho muito, mas faço questão de passar na casa dela todos os dias. Meu pai também não reconhece a doença, então é uma forma de lidarmos com isso em família. Ouço as mesmas histórias, conversamos muito e a estimulo a praticar exercícios físicos. Ela teve sempre muita paciência comigo, agora é a minha vez”, diz a filha.

 

Entre os tratamentos recomendados estão os exercícios físicos, principalmente no início da doneça, que pode levar de 5 a 20 anos para evoluir. “Além do esquecimento, o Alzheimer normalmente vem junto de depressão, dificuldade de movimentação, falta de mobilidade e alteração do hábito intestinal, por isso a importância da medicação aliada às terapias complementares, como as atividades físicas e os exercícios de conhecimento para o cérebro”, explica Dr. Lonardo Lo Duca.

 

Hoje, já com uma boa rotina estabelecida, dez anos depois do diagnóstico, Maria Cecília Lacerda de Camargo conta que a caminhada no início da doença fez a diferença para a mãe dela, Gilda Maria Affonseca Pereira de Queiroz, de 90 anos. “Ela ainda pratica exercícios, mas hoje mais para mobilidade básica. Ela mora sozinha e tem o apoio de duas cuidadoras, que revezam na semana. As segundas, quartas e sextas-feiras, almoça na casa da minha irmã Ana, e na terça-feira, tentamos almoçar todos juntos, os cinco irmãos”, conta a filha.

 

A família grande, 17 netos, todos casados, e 29 bisnetos, sempre presente, ajuda e muito no tratamento. “Ela é curiosa e adora viver, vê os genros e noras como filhos e gosta estar rodeada de gente. No começo foi difícil pra ela e pra todos nós, mas com o passar do tempo, ela foi acalmando e hoje lidamos bem. Ficou mais fácil quando aceitei: é o que temos!”, completa a filha.

 

Para o médico Neurologista, Dr. Leonardo Lo Duca, o apoio psicológico para toda família é essencial. “Entre os protocolos do tratamento está o de instruir a família do que deverá ser feito. Esse apoio, junto das terapias complementares e os medicamentos, é o que pode diminuir a velocidade da progressão da doença, já que ainda não temos a cura. Com os anos, a dependência vai aumentando e os filhos precisam estar preparados. A grande dificuldade do Alzheimer é que o paciente nem vai saber o que está acontecendo, é a família que ficará no controle ”, diz.

 

Exame genético
Para alguns casos de Alzheimer já é sabido que a causa se deve a mutações genéticas. Se o paciente herdar o gene modificado, a doença surgirá por volta dos 50 anos. E seu filho terá 50% de chance de ter o mesmo destino. Atualmente, um exame de sangue pode revelar se a pessoa carrega o gene que sofreu mutação, mas ele ainda é pouco acessível e não recomendado por muitos médicos, já que o mal de Alzheimer não tem cura. “Os testes genéticos estão sendo desenvolvidos. Provavelmente em alguns anos serão realidade para todos. Hoje em dia, pode se dizer que são ‘experimentais’”, afirma o médico Dr. Leonardo Lo Duca.

 

Para os filhos de Gilda Maria Affonseca Pereira de Queiroz e Sonia Maria Alves dos Santos, o teste é ainda uma incógnita. “Nenhum dos irmãos foi atrás disso. Não é algo que pensamos”, afirma Maria Cecília. Enquanto Kimberly diz pensar muito no assunto desde que percebeu as alterações na mãe, mas não quer apressar nada. “O importante agora é cuidar da mamãe e da nova realidade para todos nós”, afirma.

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