Por Bruna Kalaes - Yahoo!
Foi-se o tempo que os casais dispostos a oficializar a relação em uma cerimônia intimista, durante uma viagem, tinham poucas opções além de uma capela em Las Vegas. Agora o casamento só com os noivos com poucos convidados, é a tendência do momento. O nome elopement wedding (elopement = fuga / wedding = casamento), que surgiu para designar os jovens que caiam na estrada para casar escondidos das famílias, foi repaginado e ganhou um novo sentido.
Giovana Duailibe, CEO da Belief Wedding Planners, uma comunidade global que reúne assessores de casamento de mais de 30 países, estima que cerca de 30% da atual demanda de seus associados é nesta modalidade. “Em sua grande maioria, quem opta pelo elopement wedding são casais modernos e decididos, geralmente millenials, que não querem pensar muito, mas aproveitar para viver a experiência do local onde vão casar. Eles querem guardar este momento como uma referência para, no futuro, mostrar para a família que fizeram algo diferente. E o pessoal adora ter fotos bonitas para postar“, explica.
Muitas vezes, o casamento a dois vem combinado com outra tendência no setor, o destination wedding (no qual a cerimônia é realizada fora da cidade de origem do casal). Foi assim que o elopement wedding entrou na vida da contadora Thaís Lobo, 35, e seu marido Anderson, 37. O casal havia combinado de comemorar o final do mestrado dela com uma viagem e compraram uma passagem promocional para as Ilhas Seychelles, na África.
Durante a organização do roteiro, Thaís começou a se deparar com inúmeras informações sobre casamentos no arquipélago. Parecia um sinal: “Eu queria muito casar, mas nunca tive o sonho de entrar na igreja. Ele tem oito irmãos, temos muitos amigos, então mesmo que fizéssemos uma celebração pequena, seria muita gente para convidar. Quando me deparei com a possibilidade de casar com o pé na areia em Seychelles, decidimos buscar as agências e no final foi tudo melhor do que eu esperava”, conta Thaís.
Diversas empresas e assessores de casamento no Brasil e pelo mundo oferecem pacotes para elopement wedding, que incluem itens como celebrante, florista, decoração, fotógrafo, músicos, buquê, cabelo e maquiagem. Mas, de acordo com a necessidade – e a verba – do casal, é possível acrescentar serviços como os trâmites da documentação para legalizar o casamento, que inclui até testemunhas profissionais. Por isso, é recomendado que a contratação seja feita entre 3 e 6 meses de antecedência.
Do início das pesquisas à data do casamento, no início de 2017, Thaís e Anderson demoraram cerca de 3 meses para decidirem todos os detalhes. O pacote escolhido custou 1350 euros e incluía a cerimônia, fotógrafo para o evento, sessão de fotos na praia, transfer entre o hotel e a praia, champanhe, bolo, decoração e taxas locais. Thaís optou por economizar arrumando o próprio cabelo, fazendo a maquiagem e abriu mão da filmagem, que praticamente dobraria seus gastos.
O valor de um sonho
Embora não seja determinante, o fator financeiro é um grande estímulo para a realização do elopement wedding. “Há casos em que os noivos não querem deixar de celebrar a união e ter o gosto do casamento, mas não têm condições de arcar com os custos de uma festa de grande porte. Sem falar que essa modalidade elimina o pior pesadelo dos casais, que é a lista de convidados; não tem saia justa”, explica Giovana.
Para quem pensa que a melhor maneira de economizar é fazendo a celebração no Brasil, Raquel Muller, sócia da agência de casamentos Casa de Dois, explica que não é bem assim: “Nem sempre ir para o exterior sai mais caro. Muitos hotéis no Caribe, já adaptados a essa cultura do casamento, oferecem pacotes padronizados que podem sair mais baratos do que um evento em Campos do Jordão, no qual seja preciso contratar todos os fornecedores separadamente”, exemplifica.
A equação economia x sonho levou o casal Patrícia e Sério Oliver, moradores de São Paulo, a realizar seu elopement wedding em um hotel-fazenda em Itupeva, a apenas 75 km de distância. A cerimônia intimista, que aconteceu em 2017, custou aproximadamente R$15 mil. “Eu sempre tive um lado muito religioso, queria me vestir de noiva e também gastar pouco. Nunca quis fazer uma festa grande, pensava em casar só no civil ou fazer uma viagem com ele”, explica Patrícia.
Nas buscas por elopement na internet, ela encontrava diversas fotos de famosos casando-se em praias paradisíacas no exterior, por isso, sequer cogitava que havia a possibilidade de celebrar a união nesses moldes no Brasil. Quando contatou a Casa de Dois, Patrícia encontrou exatamente o que queria: “Eu tive um casamento completo com dia da noiva, bolo, vestido, celebração religiosa, músicos e lua de mel. Foi tudo como eu sonhava, faria novamente e incentivo minhas amigas”.
Estilo de vida conta
É verdade que economizar sempre cai bem, mas, ainda assim, não é a única motivação para quem escolhe este estilo de casamento. Para Patrícia, a maior vantagem foi personalizar o momento 100% com a cara do casal: “Tudo saiu do jeitinho que queríamos, não precisamos nos importar se os convidados iam gostar do bolo, da decoração; nem sempre o melhor pros outros é o mesmo pra nós”.
Viajantes de carteirinha, Thaís e o marido também tiveram motivos maiores do que o saldo bancário: “Conheço gente que fez casamento de R$100 mil. Não sou contra, mas não tem a ver com a minha proposta de vida. Prefiro gastar esse dinheiro fazendo renovações de votos todos os anos, em viagens diferentes”, explica Thaís, que avalia a Austrália ou até mesmo outra ilha em Seychelles para a próxima benção.
Se num primeiro momento famílias e amigos costumam ter reações diversas, como as amigas de infância de Thaís que reclamaram que não seriam madrinhas do enlace ou o pai de Patrícia que questionou “que casamento é esse?”, no final, as pessoas entendem e aprovam a decisão. “Todos que viram meu vídeo depois do casamento gostaram e se emocionaram”, comove-se Patrícia.
Para onde ir?
No Brasil, Fernando de Noronha (PE), Trancoso (BA) e Búzios (RJ) encabeçam a lista de desejos, mas diversos hotéis de cidades do interior e litoral em todo o país já estão se adaptando a esta nova demanda. Para aqueles que querem aproveitar a oficialização da relação para desbravar o mundo, apesar de sempre haver um espaço para os apaixonados nas tradicionais Paris, Nova York, Santorini ou Toscana, há cada vez mais destinos de braços abertos para receber esse tipo de enlace.
“A Ásia está em alta, com destaque para a Tailândia, cuja moeda é mais acessível que o dólar e o euro. Portugal também é outra boa opção e a Ilha dos Açores é ótima para fugir do óbvio. A África do Sul com suas lindas paisagens também tem recebido muitos elopements”, conta Giovana. A assessora dá dicas para quem quer inovar: “Dois lugares maravilhosos que muitos ainda não conhecem são San Andrés (Colômbia) e a Ilha de Kunaiala (Panamá)”.
VALORES PARA O ELOPEMENT WEDDING
BRASIL :
– Búzios: entre R$5000 e R$10000
– Fernando de Noronha: a partir de R$12600*
– Trancoso: a partir de R$ 8000
EXTERIOR:
– Canadá: entre 3 e 5 mil dólares canadenses
– Estados Unidos: a partir de 1500 dólares, sendo Califórnia e Nova York os mais caros
– Grécia: a partir de 2500 euros
– Itália: a partir de 2 mil euros (Sicília); entre 8 e 10 mil euros (Alpes, Roma, Milão, Florença, Toscana) – – México: a partir de R$2390 (Cancún), entre 4 e 6 mil dólares (Riviera Maia)
– Portugal: entre 2500 e 5 mil euros
– Tailândia: a partir de 2500 dólares
Valores referentes à cerimônia, apurados em março/2019. Não incluem viagem, hospedagem e itens pessoais, como vestido e terno
* com 4 noites de hospedagem
Fontes : Belief Wedding Planners, Casa de Dois , Pousada Bahia Bonita , Senses Cancun, Thailand Wedding e Welcome Wedding.
