Rui Car
24/12/2019 10h45 - Atualizado em 24/12/2019 08h28

Método baseado em DNA sugere que os seres humanos têm uma vida útil “natural” de 38 anos

Confira o resultado para algumas espécies extintas

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HypeScience

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Um novo estudo da Organização de Ciência e Pesquisa Industrial da Commonwealth (Austrália) desenvolveu um método para descobrir a expectativa de vida natural das espécies, determinando a idade limite – biologicamente falando – de várias espécies vivas e extintas, como seres humanos (38 anos) e mamutes (60 anos).

 

Conservação e pesquisa biomédica

Conhecer a vida útil dos animais é um passo essencial na gestão e conservação da vida selvagem. Para espécies ameaçadas, por exemplo, a expectativa de vida pode ser usada para entender quais populações são viáveis. Já em indústrias como a pesca, a vida útil é usada em modelos populacionais para determinar os limites de captura.

 

O processo de envelhecimento também é muito importante na pesquisa biomédica. À medida que os animais envelhecem, passam por declínios nas funções biológicas, o que limita sua vida útil.

 

Até agora, tinha sido difícil determinar até quantos anos um animal podia viver. A maioria das estimativas vinham a partir de médias calculadas graças a pequenos números de indivíduos que viviam em cativeiro.

 

O que a nova pesquisa fez foi estudar como o DNA muda à medida que o animal envelhece, de que forma isso varia de espécie para espécie e como isso está relacionado a quanto tempo o animal provavelmente viverá.

 

Metilação do DNA

O DNA é uma pista óbvia para tentarmos desvendar o envelhecimento e a vida útil, mas, antes desse novo estudo, ninguém tinha sido capaz de encontrar diferenças nas sequências de DNA que explicassem as expectativas de vida.

 

Nos vertebrados, a vida útil varia demais. O pequeno peixe góbio pigmeu (Eviota sigillata), por exemplo, vive apenas oito semanas, enquanto tubarões-da-groenlândia (Somniosus microcephalus) podem passar dos 400 anos.

 

Para determinar de onde vinham essas diferenças, os pesquisadores usaram um processo chamado metilação do DNA, que não altera a sequência subjacente de um gene, mas controla se ele está ativo.

 

Muitas expectativas

Um dos autores do novo estudo, o biólogo molecular e bioinformático Benjamin Mayne explicou que 252 genomas (ou sequências completas de DNA) de espécies vertebradas foram analisados e comparados com um banco de dados de expectativas de vida animal conhecidas.

 

De acordo com estudos anteriores, a metilação em genes específicos está associada à vida útil máxima de alguns mamíferos, como os primatas.

 

Juntando esses conjuntos de informações, a equipe estimou a vida útil de algumas espécies a partir da observação do local onde a metilação do DNA ocorre em 42 genes específicos.

 

Confira o resultado para algumas espécies extintas:

  • Moa (ave não voadora do gênero Anomalopteryx): 23 anos;
  • Pombo-passageiro (Ectopistes migratorius): 28 anos;
  • Neandertais e hominídeos de Denisova: 37,8 anos;
  • Mamute-lanoso: 60 anos;
  • Elefante do Pleistoceno (Palaeoloxodon antiquus): 60 anos;
  • Tartaruga-das-galápagos-de-pinta: 120 anos.

 

E vivas:

  • Peixe-leite: 12 anos;
  • Rã-touro-africana: 19,8 anos;
  • Mabeco ou cão-selvagem-africano: 20 anos;
  • Rola-brava, uma ave da família dos pombos: 27 anos;
  • Humanos modernos: 38 anos.
  • Chipanzés: 39,7 anos;
  • Dragões-de-komodo: 48 anos;
  • Narvais (espécie de baleia dentada): 52 anos;
  • Baleia-cachalote: 92 anos;
  • Baleia-jubarte: 93 anos;
  • Baleia-da-groenlândia: 268 anos.

 

Medicina a nosso socorro

Os cientistas pensam que a baleia-da-groenlândia é o mamífero com a maior expectativa de vida natural do mundo. A estimativa do novo estudo é 57 anos mais alta que o indivíduo mais velho conhecido, de forma que a vida útil desse animal pode ser maior do que pensávamos.

 

Outras descobertas interessantes incluem a expectativa de vida do mamute, similar à de elefantes modernos, que vivem até os 65 anos, e da tartaruga-das-galápagos-de-pinta – o último membro conhecido da espécie, George Solitário, morreu em 2012 com 112 anos.

 

Por fim, a expectativa de vida de espécies humanas extintas, como neandertais e hominídeos de Denisova, é bem parecida com a de humanos modernos.

 

Nós somos exceções, no entanto. Nossa vida útil “natural” de 38 anos baseada em DNA é facilmente superada graças a avanços na medicina e no estilo de vida, fatores que certamente aumentam a expectativa de vida.

 

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Scientific Reports. [RealClearScience

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