Rui Car
20/11/2017 16h18

Meu bebê nasceu com 23 semanas – veja o que outros pais precisam saber

O bebê Eli nasceu com 23 semanas e seis dias de gestação

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Todos os anos 60.000 bebês prematuros nascem no Reino Unido, segundo a Bliss, uma instituição de caridade. O bebê é considerado prematuro quando nasce antes das 37 semanas e isto é a principal causa de mortalidade de recém nascidos, e também o segundo motivo das mortes de crianças abaixo de 5 anos.

 

No site World Prematurity Day, Lucy Flenagan nos relata a história de seu bebê, Eli, que nasceu antes das 23 semanas e seis dias de gestação…

 

 Quando descobri que estava grávida, em novembro do ano passado, tive uma grande surpresa, para não dizer outras coisas. Eu estava com 22 anos, num relacionamento sério com meu namorado Shaun, de 24 anos na época, há dois anos. Nós não estávamos planejando filhos por enquanto e eu tomava pílulas. Mas minha mãe estava tomando pílula quando ficou grávida da minha irmã – então, talvez eu não devesse estar tão surpresa.

 

Eu e Shaun decidimos seguir com a gravidez em frente e ela foi relativamente tranquila. Felizmente eu não tive aqueles enjoos matinais e todas as ultrassonografias diziam que tudo estava bem. No início de março, quando eu estava com 21 semanas, descobrimos que seria um menino.

 

Apenas 15 dias depois, acordei num sábado de manhã com um pouco de dor e mal estar. Não era intenso, mas achei que deveria ir ao hospital onde sou enfermeira infantil, dar uma olhada. Não que eu achasse que era algo grave, e comentei com Shaun que eu estava feliz de poder ir sozinha, e liguei para o trabalho avisando que chegaria um pouco atrasada.

 

A enfermeira que me examinou, disse que não estava muito claro o que havia de errado. Meu limiar de dor é bastante grande, então, mesmo que eu houvesse pedido um remédio para aliviar a dor, ela não tinha ideia o quanto doía. Só depois que o médico chegou é que eu soube o que estava acontecendo.

 

Lucy with baby Eli  - Credit: Shaun Frankland
Lucy com o bebê Eli. Credit: Shaun Frankland
 

“Você está com 5 cm de dilatação”, disse o médico. Eu estava com meu uniforme de enfermeira, e sozinha no hospital. Meu bebê tinha crescido por apenas 23 semanas e seis dias: ele não estava pronto para nascer.

 

Fui tomada por um horrível choque de realidade, e me dei conta de que se ele não estivesse respirando ao nascer, provavelmente os médicos não fariam muita coisa para salvá-lo. Vinte e quatro semanas é o limite para que os bebês sejam considerados “viáveis”, e acredita-se que este é o período em que eles estão aptos a sobreviver – por isso esse é o limite legal para o aborto na Inglaterra.

 

Antes desse prazo – por exemplo, bebês que nascem entre 22 e 23 semana – as normas determinam que “o procedimento padrão é de não tentar ressuscitar os bebês”. Se ele tivesse esperado apenas 1 dias mais, ele teria caído na categoria de 24 semanas, quando o “procedimento padrão” é de “tentar ao máximo todos os tipos de cuidados e apoio”, a menos que o tratamento não tenha sucesso.

 

Na ala que eu estava, não havia sinal de celular, então eu pedi à enfermeira para ligar para o Shaun.

 

“Oi, você poderia vir para o hospital para ficar com a Lucy?”, disse a enfermeira a ele. Como ela não mencionou que eu estava em trabalho de parto, ele não se apressou. Quando ele finalmente chegou, 3 horas e meia depois, ele se deparou comigo tentando fazer força para nosso bebê nascer. Dez minutos depois, Eli nasceu.

 

Para nosso alívio – e espanto – ele estava respirando e movimentando os bracinhos. A equipe médica o pegou rapidamente e o intubou, para ajudá-lo a respirar melhor.

 

Eli was just 20cm long when he was born - Credit: Lucy Flanagan
Eli tinha apenas 20 cm quando nasceu. Crédito: Lucy Flanagan
 
 

Demorou 25 minutos para que eu pudesse dar uma olhadinha no meu bebê, que parecia bastante normal, enrolado no cobertor. Mas quando fui visitá-lo na unidade de tratamentos intensivos, para onde ele foi levado, percebi o quanto ele era pequeno.

 

Deitado na incubadora, não parecia que aquele era meu filho. Sua pele era vermelha e podíamos ver todas as suas veias. Da cabeça aos pés, ele tinha 20 cm – do mesmo tamanho de uma girafa que compramos para ele, de presente. Suas mãozinhas eram minúsculas e sua cabeça era do tamanho de uma bola de tênis. Minha barriga nem havia crescido o suficiente para eu me considerar grávida e me lembrar que ele saiu de dentro de mim.

 

Eu e Shaun estávamos apavorados – mas congelados. Quando minha família chegou, uma hora depois, eles estavam arrasados. Meu pai, minha mãe e minha irmã, só choravam. Nenhum de nós acreditava que ele fosse sobreviver, e todas as vezes que saíamos do lado dele, tínhamos a terrível sensação que ele poderia não ter sobrevivido quando voltássemos para vê-lo.

 

Os médicos disseram que nosso bebê tinha 30% de chance de sobreviver, além de que, se ele tivesse uma infecção ou um problema pulmonar, as coisas poderiam piorar. Ambas essas coisas aconteceram nas primeiras 24 horas.  Pensamos que ele não fosse aguentar, e se conseguisse, poderia ter um problema permanente no futuro. Mas nos fizemos de fortes.

 

Quando nosso bebê estava com 27 horas de vida, os médicos perguntaram que nome daríamos a ele. Ficamos imaginando se daríamos o nome só por dar, ou se ele o carregaria por toda a sua vida. Precisávamos de um milagre, então, escolhemos um nome bíblico: Eli.

 

Eli was brought home after four and a half months with an oxygen tank  - Credit: Shaun Frankland
Eli foi para casa depois de 4 meses e meio, com um tanque de oxigênio. Crédito: Shaun Frankland.
 

Mesmo sabendo que ele fiaria no hospital por 4 meses e meio, eu e Shaun decidimos voltar para casa – em Frodshan, Chester – na noite seguinte ao parto. Nós queríamos voltar à normalidade o mais rápido possível, caso algo indescritível acontecesse.

 

Nos meses e dias seguintes, nós passávamos de 4 a 5 horas por dia com Eli. No final de casa visita, íamos para casa chorando. Não sabíamos o que dizer um ao outro.

 

Conversar com nossa família e com outros pais que passaram pela mesma situação, nos oferecia um certo conforto. Mas havia também outro estresse. Shaun tinha que voltar a trabalhar depois de uma semana, senão, não conseguiríamos sobreviver. E pelo fato de que Eli nasceu tão antes do esperado, eu não tinha conseguido pedir auxílio maternidade, e precisamos, juntos, arcar com todas as despesas.

 

Quando as semanas se tornaram meses, começamos aos poucos a acreditar que Eli conseguiria vir para casa. Começamos então a decorar seu quarto e comprar as coisinhas para ele. Para nos animar, começamos a nos dar certos luxos, de vez em quando, como um fim de semana num spa, ou um jantar especial, para ter certeza que estaríamos fortes o suficiente, e relaxados, quando Eli chegasse em casa.

 

Lucy, Eli and Shaun are now healthy and happy at home - Credit: Lucy Flanagan
Lucy, Eli e Shaun agora estão felizes e saudáveis, em casa. Crédito: Lucy Flanagan.
 

Então, depois de 128 dias, que pareceram uma vida toda, saímos do hospital com nosso bebê, pela porta da frente.

 

Eli agora está com 7 meses e meio, e pesa quase 5 Kg. Ele vai indo muito bem. Embora ele tenha um orifício em seu coração, ele tem atingido todas as metas, como pegar peso, comer e tentar rolar.

 

Nós estamos pensando, num futuro, um dia, em ter outro bebê, mas no momento, temos nosso foco em Eli. Infelizmente teremos que voltar a trabalhar em janeiro, quando ele terá o equivalente a apenas 5 meses. Seria interessante se a licença maternidade fosse modificada no caso de bebês prematuros.

 

Agora Eli está em casa e os meses no hospital parecem um pesadelo longínquo. Naqueles dias, eu achei que não conseguiria superar isso, mas agora vejo que é maravilhoso que eu esteja conseguindo vê-lo se desenvolver nas últimas semanas, como ele deveria ter feito na barriga. Não são todas as mães que podem vivenciar isso.

 

Lucy Flanagan

The Telegraph

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