Rui Car
18/12/2018 09h55 - Atualizado em 18/12/2018 09h00

“Meus implantes de mama me deixaram doente por anos. E ninguém acreditou em mim”

"A diferença era inacreditável"

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Dois implantes de mama de silicone estão em um saco plástico, atrás do meu armário. Os materiais claros, que são do tamanho de rosquinhas de creme, ficaram com uma cor amarela escura – sendo essa a única evidência que eles estavam dentro de mim. Uma parte minha quer dar um tiro neles e fazê-los explodir até o céu. Mas nesse caso eu perderia a recordação daquilo que me fez ficar tão doente por tanto tempo.

 

Foto por: Karissa Pukas
 
 

Ganhei meu primeiro sutiã quando estava na nona série, anos antes de lançar em 2011 o meu canal no YouTube. Na minha mente, todo mundo que fosse famoso tinha que ter seios grandes. E eu queria isso para mim também.

 

Por isso, aos 22 anos, depois de um ano após ter me mudado do Canadá para a Austrália para ir morar com o meu namorado Glen, eu decidi colocar implantes nas mamas, selecionando um cirurgião e escolhendo um par de implantes de silicone texturizados, de acordo com a recomendação do médico. A minha escolha, segundo ele, estava à frente dos dispositivos de primeira geração ligados à complicações como vazamento e câncer.

 

Quando fui para a sala de cirurgia, eu estava muito otimista. Ela custou AUD$ 8.800 (algo em torno de US$6.400 hoje em dia). Nas filmagens que fiz em minha página do YouTube durante o caminho para a sala de cirurgia, eu mostrava a minha empolgação. Não havia nenhum rastro de medo.

 

A cirurgia de várias horas ocorreu sem problemas. E enquanto eu acordava sem muita dor, a primeira coisa que notei foi uma sensação de aperto, como se um elefante estivesse sentado em meu peito. Primeiramente, eu usava um sutiã de pressão para controlar o inchaço e impedir que os implantes se movessem. Assim o meu corpo iria conseguir se cicatrizar o tecido que os prendia na parede e na caixa torácica. Embora eu tenha voltado com minhas atividades regulares cerca de um mês depois, eu tive um desconforto nas costas e comecei a me consultar com um quiroprático – trabalhando em meu computador com um peso extra fazendo pressão. Mas mesmo assim eu levava meus implantes para passear, usando as roupas apertadas que eu sempre sonhei.

 

Passados seis meses da cirurgia, comecei a achar que estava enlouquecendo: Primeiro era a ansiedade. Meu trabalho, meus amigos – tudo parecia esmagador. Inicialmente, achava que era por causa do estresse, mas tudo só fazia sentido no papel: Na época, Glen e eu estávamos no meio de uma mudança, mas nosso novo lugar ficava na mesma rua do antigo e mesmo já tendo cruzado o mundo sem perder o ritmo, eu não era mais a mesma. Talvez eu deveria dormir mais, pensei. Talvez meus hormônios estejam um pouco desregulados, eu pensava – especialmente quando comecei a menstruar várias vezes no mês e acordar no meio da noite com palpitações no coração. Glen estava muito preocupado e todo dia perguntava: “O que está acontecendo com você?”

 

Eu também desenvolvi um cheiro corporal muito ruim, predominantemente no lado esquerdo. O cheiro era metálico, mesmo com o uso de um desodorante sem adição de alumínio. Eu esfregava as minhas axilas no banho, mas o cheiro intruso persistia.

 

Então começaram as dores no corpo: Elas estavam em cada parte de mim, com dores crônicas nas articulações, quadris, mãos e pulsos. Embora eu sempre tenha sido muito ativa, comecei a notar que meus treinos típicos e aulas de ginástica me deixavam com dores musculares por três ou quatro dias – quase o dobro do tempo normal. Constantemente eu me sentia exausta. Meus amigos brincavam: “Karissa, você parece uma vovó… você não sai de casa e nem faz nada. Isso é muito sem noção!”

 

Foto por: Karissa Pukas
 
 

Ao longo de vários anos os sintomas iam aparecendo e eu visitei uma clínica de saúde local, onde os médicos me ouviram e fizeram um exame de sangue. Mas eles não descobriam o que havia de errado comigo. Um psicólogo me acusou de fabricar meus sintomas e parar de gastar seu tempo. Outro diagnosticou em mim uma depressão situacional – algo que nunca ocorreu comigo. A época foi estranha para mim: Eu morava na Austrália, que era meu sonho desde criança. Eu era bem-sucedida e amava a minha vida, mas não conseguia lidar com isso tão bem quanto costumava.

 

Com o passar do tempo, comecei a acreditar que tudo era culpa do meu envelhecimento de vinte e poucos anos. Mas pequenas coisas apareciam, como o forte cheiro na minha urina, o desaparecimento do meu desejo sexual, a queda do meu cabelo… além disso meu rosto ficou tão manchado que parecia que eu estava novamente na puberdade. Eu tive visão embaçada, vertigem e confusão cerebral. Também me esforçava para me concentrar e superar meu cansaço.

 

Mas a diarreia recorrente era o pior: Quando eu não correndo para o banheiro, ou dentro dele, sentia minha barriga fazendo barulho.

 

Na tentativa de controlar meus problemas digestivos, procurei uma nutricionista que me passou várias dietas a fim de identificar possíveis gatilhos que causavam esses problemas. Nada funcionou. “Eu não sei qual é o problema com você”, disse a nutricionista para mim, depois de meses ao meu lado. “Você deve ter um problema intestinal enorme.”

 

A minha qualidade de vida caiu tanto que começou a afetar meu relacionamento: A essa altura, Glen e eu já estávamos juntos por três ou quatro anos e, enquanto eu nunca duvidei que ficaríamos juntos para sempre, a minha saúde instável mudou nossa dinâmica. É difícil para ambas as partes quando alguém está o tempo todo doente, apenas lutando para passar o dia. Eu me sentia culpada sabendo que eu não era agradável quando estava perto dele – eu não tinha libido e nunca tinha bom humor ou vontade de sair. Eu não queria que Glen ficasse em casa me bajulando e por isso o encorajei a passar um tempo com os amigos.

 

Apesar de tudo, eu me maquiava e continuava a gravar os meus vídeos, suprimindo o que realmente estava acontecendo, pois era o meu trabalho. Sim, eu me sentia absolutamente sem autenticidade. Mas tinha que pensar positivo e ser otimista – pelo menos enquanto filmava: Semanas se passariam sem eu publicar meus vídeos, o que é mais difícil de fingir do que um sorriso para uma foto. Então comecei a fazer postagens no Instagram ao invés disso. Mesmo assim, eu lia comentários como: “Nem parece que é você.”

 

Num esforço para parecer transparente – meus seguidores já sabiam que eu tinha colocado implantes – postei alguns vídeos sobre saúde intestinal. Até hoje, acredito que foi isso que salvou a minha vida: na primavera de 2017, próximo dos cinco anos pós procedimento, alguém deixou um comentário pedindo para que eu pesquisasse sobre a “doença dos implantes de mama.”

 

No início, eu pensei: ”sem chance de isso ter alguma ligação com os meus seios!” Eu nunca tive problemas relacionado com os meus implantes. Além disso, eu gostava dos meus seios, paguei por eles e não queria acreditar que tinha feito isso comigo mesma.

 

Depois de um mês me informando sobre essa doença, comecei a sentir uma dor no peito e fui diagnosticada com costocondrite, ou inflamação do esterno. O problema estava tão perto dos meus seios que comecei a juntar as peças: Meus sintomas começaram seis meses após a colocação dos meus implantes. Será que tudo estava relacionado?

 

Minha pesquisa fez vir à tona intermináveis histórias de mulheres jovens, em boa forma, que tiveram a saúde deteriorada depois de seus implantes. Todas elas tiveram os mesmos problemas.

 

“Como não notei isso? Como qualquer um que tentava me ajudar não notou isso?” Pensei. Eu soube na hora que eu tinha a doença dos implantes de mama, caso encerrado.

 

A parte mais complicada foi o fato de não existir nenhum teste definitivo para a doença e ela também não é reconhecida pela comunidade médica. Quando levei o assunto aos meus médicos, eles citaram pesquisas dizendo que os meus implantes de silicone são perfeitamente seguros, disseminando qualquer preocupação minha. Para mim, isso não importava: eu queria tirá-los. E pensei: “Se a cirurgia de remoção não resolver os meus problemas, ao menos vai ajudar um pouco.”

 

Por conta própria, comecei a investigar no que implicaria a remoção: basicamente, um cirurgião utiliza o mesmo local das incisões e cauteriza – ou queima – a área ao redor do implante e do tecido da cicatriz para que você não sangre. Eles precisam ser cuidadosos porque estão trabalhando abaixo do músculo e perto dos pulmões, que poderia ser perfurado se as coisas derem errado. No geral, eles realizam um capsulectomia em bloco, o que significa que eles extraem todo o implante e a cápsula do tecido da cicatriz sem rachaduras ou vazamentos.

 

Ao invés de voltar ao cirurgião que realizou a minha primeira cirurgia, e que ainda realizava procedimentos de implantes mamários, encontrei um médico em Newport Beach, na Califórnia. Então voei de volta ao Canadá e fui para o sul com meus pais para a cirurgia, cujo o custo era US$ 6.800.

 

Foto por: Karissa Pukas
 

No caminho para o procedimento ambulatorial no início desse ano, eu estava visivelmente mais nervosa do que há seis anos atrás. Depois de tudo que passei, estava ciente do potencial de complicações, o que me deixou preocupada com o resultado.

 

O procedimento foi surpreendentemente fácil: eu acordei com os meus pais do meu lado e me senti grata que isso tinha acabado. Eles disseram que eu parecia melhor depois das três horas e meia de cirurgia e eu também notei a diferença: O brilho em meus olhos e a inflamação em meu rosto havia desaparecido. A diferença era inacreditável.

 

Peguei leve depois da cirurgia, só para garantir que não iria prejudica nenhum dos pontos na pele recém-costurada. As cicatrizes abaixo de cada seio eram aproximadamente duas vezes maiores – cerca de 3,5 polegadas – do que as do implante inicial.

 

Na sexta feira após a minha cirurgia, meu médico me entregou os implantes em um saco plástico. Eles eram tão desconfortáveis que eu não consegui entender como eu os carregava por aí. Eles eram os desgraçados que estavam acabando comigo?

 

Duas semanas após a cirurgia, e estava de volta a Vancouver no mais lindo e ensolarado dia de primavera, quando decidi caminhar de casa até o outro lado da cidade. E pensei: “Obviamente eu vou me cansar. Vou ter que pegar um táxi quando acabar.” Mas ao caminhar cerca de dezesseis quilômetros, lembro que liguei para minha mãe e disse: “Eu consegui! Eu me sinto muito bem!” Eu não estava nem mesmo dolorida no dia seguinte.

 

Então percebi que tinha de volta a minha vida.

 

Foto por: Karissa Pukas
 

Agora que seis meses se passaram desde que eu fiz a minha cirurgia, eu tenho 27 anos e não consigo acreditar que vivi por tanto tempo incompleta. A quantidade de energia que eu tenho agora é impressionante.

 

Eu ainda luto com minha saúde intestinal, mas posso ter uma dieta mais variada sem ficar doente. E enquanto os músculos do meu peito ainda estão fracos e meus hormônios ainda estão se regulando, as palpitações do meu coração, o cansaço e as dores nas articulações, que eram tão fortes dia após dia, desapareceram.

 

Depois de tudo o que passei, não me considero uma pessoa avessa à cirurgias plásticas ou à colocação de implantes de mama. Sou uma pessoa a favor da informação. Acredito que você deve saber sobre absolutamente todos os fatos que estão por aí, antes de modificar cirurgicamente o seu corpo e agora existem ainda mais informações disponíveis.

 

No final do dia, digo que escolhi colocar os implantes e não culpo ninguém por isso. Mas estou feliz por poder mirar novas conquistas.

 

Quando você achar que está doente e algo está errado, não deixe ninguém desacreditar você. Percebi que qualquer coisa pode deixar o seu corpo fora de controle, mas você não precisa se acomodar a se sentir assim.

 

Se você colocou implantes de silicone e acredita estar sofrendo por qualquer efeito adverso, informe isso ao seu médico e ao FDA, que realizará uma reunião pública no Comitê Consultivo de Dispositivos Médicos em 2019 para assegurar que pacientes e profissionais de saúde continuem a ter informações precisas, científicas e sólidas sobre segurança em implantes de mama e seus efeitos, de acordo com uma declaração da agência, em setembro de 2018.

 

 

As told to Elizabeth Narins

Women’s Health

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