Rui Car
07/12/2018 15h10 - Atualizado em 07/12/2018 14h07

Mulher dá à luz ao primeiro bebê concebido após transplante de útero de doadora falecida

A mulher tinha congelado seus óvulos antes da cirurgia inovadora

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Uma mãe deu à luz uma menina saudável depois de receber um transplante de útero de uma mulher falecida. Em um hospital, uma equipe no Brasil transplantou o órgão de uma doadora para uma jovem de 32 anos, que nasceu sem útero, devido a uma doença genética rara.

 

O nascimento é o primeiro relatado envolvendo um transplante de útero de doadora falecida. Dez tentativas anteriores, nos EUA, na República Tcheca e na Turquia, de conseguir um parto ao vivo usando um útero tirado de uma doadora já falecida, acabaram fracassando.

 

O primeiro nascimento após o transplante de útero de uma doadora viva ocorreu na Suécia em setembro de 2013, usando o útero da avó da mulher. Desde então, houve 39 procedimentos desse tipo, resultando em um total de 11 nascimentos.

 

Em setembro de 2016, a beneficiária do projeto inovador foi submetida ao transplante de útero no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Cirurgiões passaram 10 horas e meia ajeitando o órgão, conectando veias, artérias, ligamentos e canais vaginais.

 

A mulher que recebeu o útero já havia sido submetida à FIV (sigla para Fertilização In Vitro) e teve oito óvulos fertilizados congelados.

 

Após as verificações de que o útero estava se comportando normalmente, os óvulos congelados foram transplantados sete meses após a cirurgia, em abril de 2017, e uma menina saudável nasceu 35 semanas depois, por cesariana, pesando 2,5kg.

 

O sucesso da cirurgia abre a possibilidade de transplantar úteros de doadores, da mesma forma que outros órgãos de pacientes falecidos, reduzindo a necessidade de doadores vivos.

 

A mulher tinha congelado seus óvulos antes da cirurgia inovadora [Foto: Getty]
 
 

A notícia do procedimento foi divulgada na revista médica The Lancet.

 

Comentando sobre o avanço médico, Dr. Dani Ejzenberg, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que liderou a equipe, disse: “O uso de doadores falecidos pode ampliar bastante o acesso a esse tratamento, e nossos resultados fornecem a validação conceitual de uma nova opção para mulheres com infertilidade uterina”.

 

“Os primeiros transplantes de útero de doadores vivos foram um marco médico, criando a possibilidade de parto para muitas mulheres inférteis com acesso a doadoras adequadas e às instalações médicas necessárias.”

 

“No entanto, a necessidade de uma doadora viva é uma limitação importante, pois os doadores são raros, geralmente sendo membros da família dispostos ou  amigos íntimos.”

 

“O número de pessoas dispostas e comprometidas a doar órgãos após a própria morte é muito maior do que o de doadores vivos, oferecendo uma população de doadores em potencial muito maior”.

 

E agora os profissionais da área médica no Reino Unido esperam replicar o procedimento aqui para ajudar as mulheres que lutam contra a infertilidade, por não terem útero.

 

The Metro informa que cerca de uma em cada 500 mulheres tem útero anormal ou nenhum, devido à histerectomias, doenças hereditárias, malformações ou infecções.

 

Antes do transplante de útero se tornar uma possibilidade viável, suas únicas opções para ter um filho eram adoção ou barriga de aluguel.

 

O avanço no transplante de útero também melhora as chances de mulheres trans conseguirem engravidar.

 

Centenas de mulheres na Grã-Bretanha já se inscreveram para fazer transplantes de útero e os médicos estão agora à espera de tecidos compatíveis adequados e doadores para começar a funcionar.

 

“A equipe britânica de pesquisa de transplante de útero está absolutamente encantada com as notícias do Brasil”, disse Richard Smith, ginecologista do Queen Charlotte’s e do hospital Chelsea, em Londres, e líder clínico do Transplante de Útero do Reino Unido, ao The Telegraph..

 

“O transplante de útero usando órgãos de doadores vivos e doadores que acabaram de morrer é uma opção real para algumas das muitas mulheres no Reino Unido que não têm um útero viável.

 

“Esperamos replicar isso em um futuro não muito distante. Vamos aguardar.”

 

 

Marie Claire Dorking

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