Rui Car
06/03/2017 16h10 - Atualizado em 06/03/2017 13h46

A mulher indiana que planta árvores desde criança

Saalumarada vive com seu filho adotivo

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Seus vizinhos a chamam de Saalumarada, que na língua Kannada significa “fileira de árvores”. Essa é apenas uma das demonstrações de admiração pelo trabalho extraordinário dessa indiana de 105 anos de idade. Mas não foi sempre assim. Ela suportou muito desprezo por sua pobreza, pelo estigma de não conseguir ter filhos, pelo isolamento após ter ficado viúva, e pela mesquinhez de seus familiares.

 

Thimmakka nasceu na pobre cidade de Hulikal, mais de 2.000 quilômetros ao sul de Delhi, a capital. Em vez de ir para a escola e brincar, quando criança, ela pastoreava gado. Aos 10 anos, ela já trabalhava “da manhã até a noite, realizando tarefas esgotantes”, como descreveu para a rede de televisão Al Jazeera em 2013. Nada de estranho naquele país asiático, onde estima-se que mais de 4 milhões de crianças menores de idade trabalhem.

 

O desafio da infertilidade

Sua vida mudara quando ela conheceu Bikkala Chikkayya. O homem que a amou durante 25 anos como esposo, e a incentivou a plantar árvores. A sugestão surgiu como um alívio para uma dor profunda: após inúmeras tentativas, o casal percebeu que não poderia ter filhos. A infertilidade na Índia, assim como em outros países em desenvolvimento, é punida com rejeição social. Em casos extremos, o estigma se estende para o resto da família.

 

Bikkala Chikkayya disse que as árvores seriam as crianças que a natureza negara ao casal. A decisão de plantar uma semente na estrada que vai para a aldeia vizinha de Kudoor deu um sentido à vida dos dois.

 

No primeiro ano, ela plantou uma dúzia de figueiras de Bengala, uma árvore da família dos figos. Todos os dias, após a conclusão dos trabalhos, o casal carregava água para alimentar suas crias, fazendo um trajeto de 4 quilômetros. Essa tenacidade era a única opção, já que a terra era árida, empoeirada e só chovia de vez em quando. Além disso, o gado pode destruir plantas pequenas, caso elas não sejam protegidas com arbustos espinhosos. Saalumarada pedida todos os dias ao deus das tempestades, Indra, que mandasse um pouco de chuva.

 

Um dia, Bikkala Chikkayya morreu, levando a viúva a morar numa cabana, isolada do resto de seus vizinhos. Nem mesmo seus parentes sentiram compaixão da mulher. Eles a forçaram a vender o único pedaço de terra que ela tinha.

 

Saalumarada durante uma das cerimônias de homenagem, com seu filho adotado à direita
(Saalumarada Thimmakka International Foundation)
 

 

A mãe das árvores

Mas as árvores cresceram no caminho de Hulikal para Kudoor. Em 1996, cinco anos após a morte de seu cônjuge, a obra de Saalumarada finalmente saiu das sombras.

 

O destino a aproximou de um homem nascido em Karnataka, que atraiu a atenção da imprensa para a mulher. Um jornalista publicou a história de Saalumarad e quase imediatamente a elite do país se interessou pelo trabalho dela. O novo primeiro-ministro, H. M. Deve Gowda, concedeu a ela o Prêmio Nacional de Cidadãos Beneméritos. A partir desse momento, ela passou a ser reconhecida como uma heroína da natureza.

 

O governo de Karnataka construiu uma casa para ela. Também lhe deram uma modesta pensão. No ano passado, a BBC britânica a colocou entre as 100 mulheres do ano. Ela já plantou mais de 8.000 árvores (outras fontes apontam para uma quantidade entre 300 e 400). Seu perfil na revista trazia uma citação: “Todos, desde as crianças até os idosos, deviam plantar árvores: seria benéfico para todos nós.”

 

Aos 105 anos, uma idade de memórias e muita sabedoria, Saalumarada vive com seu filho adotivo, Sri Umesh B. S, que dirige uma fundação ambientalista inspirada no trabalho da mãe. Sua vida revela um ensinamento filosófico: se você plantar árvores na terra estéril, for paciente e não esperar nada em troca, receberá uma chuva de bênçãos. Poucos entendem esta verdade simples. Uma lástima.

 

Boris Leonardo Caro
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