Rui Car
01/07/2021 10h11

Neve de três dias surpreende SC, mas o fenômeno não é o único protagonista

Caçadores de neve, aventureiros, famílias de todos os cantos do Brasil: personagens e histórias contadas por trás das paisagens brancas da Serra Catarinense

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Localidade de cruzeiro, revestida pela neve durante a manhã desta quarta-feira (Foto: Felipe Bottamedi)

Localidade de cruzeiro, revestida pela neve durante a manhã desta quarta-feira (Foto: Felipe Bottamedi)

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Imprevisível, surpreendente, secundária. Faz parte da história desses três dias consecutivos de neve múltiplas facetas. Os personagens são tanto os que viram o fenômeno de perto, como os que passaram por todo tipo de aventura para testemunhá-lo – mas não acertaram o momento ideal.

 

Há ainda os que conterrâneos da neve que guardam um laço quase espiritual com ela, e as suas cidades que se adaptam para as novas maneiras de vivenciar o espetáculo em tempos de pandemia.

 

Foram cinco municípios de Santa Catarina que registraram o fenômeno entre os dias 28 e 30 de junho. Urupema, Urubici e São Joaquim, na Serra; Irani e Água Doce, no Meio-Oeste catarinense. Outros sete contaram com a chuva congelada. Os dados são da Epagri/Ciram.

 

O ND+ acompanhou de perto o fenômeno em São Joaquim. Foram três quedas de neve. A primeira ocorreu quando ainda não estávamos no município, na manhã de segunda-feira (28). As duas últimas pegaram todo mundo de surpresa – até os meteorologistas estavam sem expectativas.

 

A variante que fez a felicidade dos que aguardavam foi o deslocamento do ciclone Raoni na manhã terça-feira (29), que “lançou” a umidade necessária para a neve. Depois de uma tarde ensolarada e com as temperaturas aumentando, os flocos caíram entre às 17h e 17h40. As duas primeiras quedas foram tímidas comparadas com a terceira.

 

São Joaquim registra neve no fim da tarde desta terça-feira – Foto: Wagner Urbano/Divulgação

São Joaquim registra neve no fim da tarde desta terça-feira (Foto: Wagner Urbano / Divulgação)

Na quarta (30), os flocos pintaram a paisagem de branco entre às 00h30 e 6h. São Joaquim não registrava três dias consecutivos de neve há 23 anos, segundo o meteorologista Ronaldo Coutinho. Os acumulados chegaram a a 0,5cm. Fora o ano de 2017, quando os flocos acumularam 0,6cm, somente em 2001 a marca foi alcançada.

 

Caçadores da neve

 

O ponto de encontro eram as duas praças no coração da cidade, Cezário Amarante e João Ribeiro. Equipadas com termômetros e árvores com mangueiras que garantiam a água necessária para as folhas congelarem na madrugada, o cenário era de expectativa em meio às temperaturas abaixo de zero.

 

Apenas no primeiro dia, a Secretaria de Turismo estima que 1500 visitantes passaram pelas praças. Dentre eles estão Ricardo Antunes e Edna Rodrigues, que largaram o trabalho em Francisco Beltrão, no Paraná, e vieram com os dois filhos. Pegaram neve em Urubici, Urupema e, quando se dirigiam a Lages, deram a volta e foram para São Joaquim.

 

Mesmo com a pandemia, os visitantes vieram de todo o canto. O casal Cláudia e Felipe Barbosa partiram de Salvador, na Bahia. Souberam do fenômeno durante um congresso de cirurgia plástica, na Capital, e subiram a Serra. “Nem sabíamos que nevava no Brasil!”, conta a moça. Conversamos com visitantes do Amazonas, Piauí, São Paulo, Pernambuco, para citar alguns.

 

Comparada com a nevada de 2020, o aumento foi de 15%, segundo Ana Vieira, turismóloga da Amures (Associação dos Municípios da Serra). “As pessoas estavam represadas. A vacinação e as boas perspectivas oportunizaram a vinda”. Outro fator foi rede hoteleira operar com 100% de ocupação, enquanto em 2020 apenas 40% estavam disponíveis.

 

Memórias de outras nevadas

 

Ainda assim, as marcas da pandemia ainda permanecem. Além das máscaras, ou a falta delas, ela é percebida por quem já passou por outras nevadas. Como Aristeu da Silva Ramos, responsável pela limpeza das duas praças há quarenta anos. “Se não fosse essa pandemia, teria muito mais gente”, conta o faxineiro, de 75 anos.

 

Aristeu da Silva Ramos perdeu a conta das neves que já viu durante os 40 anos de trabalho – Foto: Felipe Bottamedi/ND

Aristeu da Silva Ramos perdeu a conta das neves que já viu durante os 40 anos de trabalho (Foto: Felipe Bottamedi)

Faltam excursões e pessoas exprimidas nas praças, acompanhando atentos as alterações no tempo e os detalhes no céu. Também faltam os festivais de neve, as exposições de carro, os encontros de jipeiros, entre tantos outros eventos, conta Adriana Schlichting, secretária de turismo de São Joaquim. Ela estima que a queda no número de pessoas é de 40%.

 

Segundo Schlichting, São Joaquim passa simultaneamente por uma queda e uma ampliação turística com a pandemia. As nevadas são menos concentradas, mas o município recebe mais pessoas durante o ano. “Com a pandemia, os turistas se espalharam. Apesar de termos essa queda atual, vemos um aumento em todo o período. A sazonalidade passou”.

 

Para Ademar Rodrigues de Lima, morador do distrito de Cruzeiro, a neve também remonta memórias da infância. O produtor de maçã viveu todos os seus 55 anos no distrito de Cruzeiro – com uma altitude 1518m, é um dos lugares maior frios do município. Na infância a família se reunia em frente a uma fogueira e fazia pinhão na brasa.

 

Ademar Rodrigues de Lima, 55 anos, mora no distrito de Cruzeiro, <a href="https://ndmais.com.br/tempo/tempo-real-mais-neve-temperaturas-negativas-e-campos-branquinhos-em-sc/" target="_blank" rel="noopener noreferrer">em São Joaquim e viu cerca de 20 nevadas</a> &#8211; Foto: Felipe Bottamedi/ND

Ademar Rodrigues de Lima, 55 anos, mora no distrito de Cruzeiro, em São Joaquim e viu cerca de 20 nevadas (Foto: Felipe Bottamedi)

Neve como pretexto

 

A nevada também ganha outros sentidos para quem visita. Não é exagero dizer que boa parte dos visitantes sequer viram a neve. A expectativa maior era que o fenômeno ocorresse na segunda-feira. Quando a neve cessou por mais de 24h, entre a manhã de segunda e início da noite de terça, muitos deixaram a Serra. Poucos contavam com a surpresa.

 

Teve ainda quem esbarrou em algum obstáculo. Os padres Ozeias Vieira e Gilberto Fraga, junto aos amigos Pedro Davi, Andrine Espíndola e Rafael Gomes, partiram do litoral gaúcho. A viagem de quatro horas foi ampliada para sete quando eles ficaram barrados na Serra do Rio do Rastro, até a liberação às 18h. Perderam a neve que caiu durante a tarde.

 

O casal Tarcísio e Vera Pederiva decidiu enfrentar temperaturas que chegaram a &#8211; 7ºC dentro de um motorhome, com os amigos, Arlei e Leia Soares, em São Joaquim &#8211; Foto: Felipe Bottamedi/ND

O casal Tarcísio e Vera Pederiva decidiu enfrentar temperaturas que chegaram a – 7ºC dentro de um motorhome, com os amigos, Arlei e Leia Soares, em São Joaquim (Foto: Felipe Bottamedi)

Já os casais Tarcísio e Vera Pederiva e Arlei e Leia Soares partiram de Gaspar em um motorhome improvisado. Estacionaram na noite de segunda-feira (28) próximo a Igreja Matriz, no Centro, junto a outros tantos que aguardaram a queda da neve dentro dos carros. Apesar das oito cobertas, luvas e muita força de vontade, voltaram sem ver flocos. Mas celebraram a amizade.

 

Onde ocorreram os fenômenos

 

Onde nevou, entre 28 e 30 de junho

 

  • Urupema
  • Urubici
  • São Joaquim
  • Água Doce
  • Irani

 

Onde teve chuva congelada

 

  • São Domingos
  • Abelardo Luz
  • Videira
  • Salete
  • Lages
  • Ituporanga
  • Rancho Queimado
  • Alfredo Wagner
  • São Bonifácio
  • Ituporanga
  • Joinville

POR: FELIPE BOTTAMEDI – ND+

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