Rui Car
05/06/2017 10h45 - Atualizado em 05/06/2017 08h19

No Everest, uma fraude a 8.848 metros de altitude

Casal recebeu uma grande atenção midiática no país

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O alpinista indiano Satyarup levou um susto ao constatar que suas fotos no topo do Everest haviam sido modificadas por um casal que queria dar a entender que havia escalado a maior montanha do mundo.

 

As subidas ao Everest sempre foram validadas com um sistema baseado essencialmente na confiança.

 

Mas o número crescente de montanhistas que tentam subir o Everest gerou um debate sobre a necessidade de recorrer a métodos mais científicos para comprovar as façanhas.

 

Dois policiais, Dinesh e Tarakeshwari Rathod, asseguraram no ano passado que tinham alcançado o cume mais alto do mundo (8.848 metros), tornando-se o primeiro casal indiano a consegui-lo.

 

As autoridades indianas comemoraram a conquista, e o casal recebeu uma grande atenção midiática no país.

 

Mas logo surgiram dúvidas em relação à suposta subida. Especialistas em montanhismo disseram que esta havia sido rápida demais e que, desse modo, o casal não teria tido tempo de se aclimatar à falta de oxigênio.

 

Para cumprir os requisitos das autoridades nepalesas e chinesas – o Everest se encontra na fronteira dos dois países -, o casal indiano teve que fornecer fotos deles no cume, assim como um relatório dos chefes da expedição e dos oficiais de ligação do Governo.

 

Ao ver as fotos na imprensa, Satyarup Siddhanta também duvidou. “Vi suas fotos e reconheci imediatamente as pessoas em volta”, conta o alpinista indiano à AFP. “Peguei minha própria foto para comparar. Fiquei chocado, era a minha foto”.

 

Em uma das imagens, o rosto de Tarakeshwari tinha sido trocado pelo de Satyarup, a cor das suas botas tinha sido modificada e uma bandeira indiana havia sido colocada nas suas mãos. Em outras fotos, Satyarup tinha sido substituído por Dinesh.

 

Após uma investigação, as autoridades retiraram o certificado de subida ao Everest dos dois policiais, já que nenhum alpinista os viu além do campo base, e lhes proibiu de escalar montanhas no Nepal por um prazo de 10 anos.

 

Um recorde de 509 pessoas pagaram e obtiveram autorização para subir o Everest neste ano durante a tradicional temporada de primavera.

 

O aumento do número de alpinistas, porém, diminuiu o carácter exclusivo do Everest e intensificou a pressão para chegar ao seu topo. Alguns alpinistas chegam a oferecer subornos para obter seu certificado apesar de terem fracassado na tentativa.

 

“Nos ofereceram dinheiro, mas teria sido estúpido aceitar”, conta Steven Sherpa, da empresa Asian Trekking, uma das mais antigas no Himalaia.

 

Há tanta concorrência entre as companhias de expedição que, segundo informações que circulam na comunidade dos montanhistas, algumas certificam a subida de alpinistas que não conseguiram chegar ao topo do Everest, com o objetivo de seduzir seus clientes com boas taxas de sucesso.

 

O sistema de autentificação tem falhas, reconhece o diretor do Departamento de Turismo do Nepal, que concede os certificados. As autoridades estão considerando equipar os alpinistas com um GPS, embora este método também possa ser fraudado dando o localizador a outro montanhista.

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