Rui Car
18/11/2021 16h02 - Atualizado em 18/11/2021 16h03

“Novo dinossauro brasileiro” é descoberto com apoio de pesquisadores de SC

Fósseis de espécie rara foram localizados no município de Cruzeiro do Oeste, no Paraná

Assistência Familiar Alto Vale
Animação da Bertha, que teria habitado a terra há aproximadamente 80 milhões de anos (Foto: Divulgação)

Animação da Bertha, que teria habitado a terra há aproximadamente 80 milhões de anos (Foto: Divulgação)

Delta Ativa

Fósseis de uma espécie rara de dinossauro na América Latina, denominado pelos estudiosos como “novo dinossauro brasileiro”, foram encontrados na pequena cidade de Cruzeiro do Oeste, no Paraná. A descoberta foi anunciada nesta quinta-feira (18) por pesquisadores do Museu Nacional do Rio de Janeiro e do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado de Mafra, que auxiliaram no estudo.

Luiz Weinschütz, geólogo de Mafra, explica que as escavações foram realizadas de 2011 a 2014 e, conforme os estudos realizados até o momento, a nova espécie, batizada como Berthasaura leopoldinae, viveu no período cretáceo da era Mesozóica, ou seja, há 70 a 80 milhões de anos.

 

Além disso, segundo apontam as pesquisas, o dinossauro encontrado é de porte pequeno e seu esqueleto é de aproximadamente 1 metro de comprimento, com peso estimado de oito a dez quilos. Mas, apesar do nome remeter ao gênero feminino, ainda não é possível saber se o réptil trata-se de uma fêmea.

 

Ainda faremos estudos para configuração do tecido ósseo da Bertha. Por ser ainda muito jovem, o dinossauro encontrado não estava em idade reprodutiva para colocar ovos. Análises futuras da histologia devem apontar se trata-se mesmo de uma fêmea – destaca a professora Marina Bento Soares.

 

Na última década, segundo Weinschütz, dezenas de fósseis foram coletados na região da cidade paranaense, o que levou à descrição de novas espécies, particularmente de pterossauros. Essa nova descoberta de um dinossauro, que é o segundo da região, mostra a importância daquele sítio fossilífero, que é chamado pelos estudiosos de “Cemitério dos pterossauros”.

 

Os materiais fósseis são muito bem preservados e, por isso, têm fornecido várias informações importantes a respeito desse ecossistema que representa um oásis no meio de um deserto do Cretáceo“, destaca Everton Wilner, também do Centro Paleontológico de Mafra.

 

Primeiro dino sem dentes do país

 

Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, explica que a maioria dos dinossauros encontrados no Brasil podem ser divididos em dois grandes grupos: os saurópodes e os terópodes. A Berthasaura, por exemplo, é um terópode pertencente aos abelissaurídeos, importantes componentes das faunas do hemisfério sul, região antigamente conhecida como Gondwana.

 

Temos restos do crânio e mandíbula, coluna vertebral, cinturas peitoral e pélvica e membros anteriores e posteriores, o que torna “Bertha” um dos dinos mais completos já encontrados no período Cretáceo brasileiro“, aponta

 

Mas, segundo Kellner, o que ele define como “uma grande surpresa” e torna esse dinossauro genuinamente raro, é o fato de ser um terópode desprovido de dentes – o primeiro encontrado no país.

 

Para se ter certeza dessa condição edêntula, foi realizado um estudo utilizando a microtomografia computadorizada. Segundo o aluno de doutorado do Museu Nacional, Geovane Alves Souza, além da Berthasaura não possuir dentes, a espécie também não apresentava qualquer sinal da existência de cavidades portadoras de dentes (alvéolos) na mandíbula e no maxilar e a microtomografia da mandíbula confirmou que não era apenas um artefato de preservação, mas sim uma feição desse “novo dinossauro.”

 

O pesquisador ainda acrescentou que foram identificadas marcas e sulcos sugerindo a presença de um bico córneo, semelhante ao que ocorre nas aves hoje em dia, mas o tipo de alimento ingerido pela espécie ainda é desconhecido.

 

O que se sabe é que, pela região à época ser muito restrita, semelhante a um deserto, esse dinossauro deveria se alimentar do que estivesse disponível, tendo provavelmente desenvolvido uma dieta onívora.

 

Mas é difícil confirmar se a Berthasaura poderia ter usado seu bico para rasgar nacos de carne, assim como os gaviões e urubus fazem hoje em dia, ou se o bico seria utilizado para cortar material vegetal“, completou.

 

Homenagem tripla

 

O nome escolhido, Berthasaura leopoldinae, é uma homenagem tripla a duas personalidades importantes para o país e a uma escola de samba, afirma a professora Marina Bento Soares. “Bertha se refere à professora e pesquisadora Bertha Maria Júlia Lutz, bióloga do Museu Nacional e uma das principais líderes na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras, além de filha do médico e cientista Adolfo Lutz.

 

Já o epíteto específico “leopoldinae” homenageia tanto a Imperatriz brasileira Maria Leopoldina, que foi uma grande entusiasta das ciências naturais e uma das principais responsáveis pela independência no Brasil, como também a escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, que honrou o Museu Nacional na sapucaí em seu desfile em 2018.

 

Perguntas a serem respondidas

 

Apesar dos avanços nas pesquisas, os estudiosos reforçaram que muitas perguntas sobre a espécie ainda precisam ser respondidas e os estudos permanecem ao longo dos próximos anos. 

 

Além disso, durante a coletiva, foi reforçado a importância do investimento na ciência, que proporciona descobertas importantes e raras como a da “Bertha”. Também foi mencionado que a pesquisa não iniciou antes por causa da tragédia ocorrida no Museu Nacional do Rio de Janeiro em 2018, quando parte do acervo foi perdido durante um incêndio. 

 

A ideia é que, quando a pesquisa for concluída, as peças sejam expostas para visitação no museu carioca. 

 

Fonte: Sabrina Quariniri / A Notícia / NSC Total


 

Justen Celulares