Rui Car
06/03/2017 15h10 - Atualizado em 06/03/2017 13h45

Os eclipses e as redes sociais

Será “o maior show do século”

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Já cansou de todos os anos ouvir alguém dizer que o ano seguinte trará o eclipse mais especial do século? Bem-vindo ao clube. Apesar disso, o eclipse que certamente será o mais esperado desse verão no hemisfério norte, atravessará o continente na diagonal, da costa do Pacífico para o Atlântico (seguindo o caminho que você pode ver na imagem acima). Se você ainda não cansou do assunto, as redes sociais estão cheias de postagens sobre o “grande eclipse americano”, como ele tem sido chamado nos Estados Unidos, que ocorrerá no dia primeiro de agosto de 2017.

 

Como adiantei recentemente em minha postagem Sete eclipses solares históricos, no dia 21 de agosto de 2017, os Estados Unidos terão seu primeiro eclipse solar total em 40 anos. Isso significa que a sombra da lua (de 110 quilômetros de diâmetro), será projetada integralmente em solo americano (claro que apenas uma parte da sombra se projetará sobre a Terra, com parte dela recaindo sobre o oceano, como ocorreu no Havaí em 1991).

 

Mas esta também será a primeira vez desde 1918 (quase um século) que a sombra do eclipse passa pela costa do Pacífico. Espera-se que isso ocorra às 10:17 no fuso horário de Los Angeles e no Atlântico às 2:47 no horário de Nova Iorque. As cidades que serão afetadas por esse corredor de sombras estão em polvorosa. Se você estiver pensando em reservar um hotel ou um voo para qualquer uma delas, pode esquecer, pois já está tudo lotado há semanas.

 

Imagine, por exemplo, a expectativa que um fenômeno dessa magnitude provoca em Hopskinville, uma cidade com menos de 50.000 habitantes no estado de Kentucky, que terá a honra de vivenciar o eclipse por mais tempo (2 minutos e 40 segundos). Imagine também o quanto as redes sociais ficarão saturadas de imagens e comentários sobre o dia. Alguns meios de comunicação, como o Washington Post, acreditam que se a internet não entrar em colapso nesse dia, não entrará nunca mais.

 

Eclipse lunar parcial
 
 

Mas voltemos o primeiro parágrafo deste artigo. Por que todas as notícias sobre eclipses “exclusivos” parecem tão iguais? Primeiro, cabe explicar que há dois tipos de eclipses: os solares e os lunares. O que veremos em agosto é um eclipse total solar, ou seja, a lua ficará entre o sol e o observador terrestre, causando um escurecimento completo em plena luz do dia, que será experimentado por algumas cidades sortudas.

 

Eclipse solar parcial
 
 

Também há os eclipses lunares, nos quais a Terra bloqueia a luz do sol, fazendo a sombra do nosso planeta escurecer a lua. Para o público em geral, é um evento menos espetacular, já que só torna a noite ainda mais escura, sempre que é total.

 

Eclipse solar total
 

Para complicar as coisas, tanto os eclipses solares quanto os lunares podem ser parciais. Nesse caso, apenas uma parte do disco solar ou lunar ficam ofuscados. O último caso é especialmente celebrado por caçadores de astrofotografias, permitindo que se admire os halos luminosos nos limites da sombra dos astros.

 
Por último, dado que a lua não está sempre na mesma distância da Terra, sua órbita é um pouco excêntrica, criando eclipses solares totais que podem ser anulares. Isso significa que, uma vez que a lua está mais distante da Terra do que o normal, o disco lunar não sela completamente a silhueta do sol, mas permite o surgimento de um anel de luz solar ao seu redor. Se você é um fã da astrofotografia, esse é o melhor dos melhores.
 

Eclipse solar anular
 
 

Levando em conta que o movimento dos astros fazem com que os eclipses sejam vistos apenas em alguns pontos do planeta, e que a popularização da publicação imediata de fotografias tem se tornado um fenômeno global recente (graças aos smartphones, que possuem boas câmeras e conexão com a internet), os fenômenos astronômicos têm se tornado eventos de massa. Assim, é normal que um país anuncie o “último eclipse lunar parcial da primavera” como uma atração turística, pois há fãs dispostos a viajar de vários locais do globo para tirar a foto perfeita do fenômeno.

 

Como a fotografia só existe há 200 anos e a ideia de transformar nossos celulares em pequenos computadores não foi popularizada até a chegada do primeiro iPhone em 2007, é normal que essa febre dure por alguns anos. Daqui a uns 10 anos, postar fotos de eclipses nas redes sociais provavelmente não vai estar tão na moda, especialmente como prova de que uma pessoa vivenciou “o maior show do século”.

 

É claro que eu também achava que as pessoas iriam cansar do bombardeio midiático semestral sobre o clássico Real Madrid/Barcelona, mas errei miseravelmente…

 

Miguel Artime
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