Rui Car
08/07/2019 14h00

Pacientes tetraplégicos recuperam movimento de mão e braço graças a “religação de nervos”

O foco é em duas áreas – abrir e fechar a mão e poder estender o cotovelo para alcançar algo

Assistência Familiar Alto Vale
HypeScience

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Um estudo australiano conseguiu devolver a pacientes tetraplégicos sua habilidade de mover mãos e braços após uma cirurgia para “religar” seus nervos.

 

A descoberta é muito promissora, embora não funcione para qualquer paciente tetraplégico. Se a lesão na medula espinhal tiver causado paralisia completa, a cirurgia não consegue reconectar nenhum nervo.

 

No entanto, os médicos afirmaram que cerca de 250.000 pessoas em todo o mundo com lesões na medula que levam à tetraplegia a cada ano podem se beneficiar do novo tratamento.

 

Como funciona

No estudo, cirurgiões australianos realizaram 59 “transferências de nervos” em 16 pacientes. A operação falhou em quatro ocasiões, incluindo dois pacientes que tiveram uma redução permanente de sensações. De acordo com os pesquisadores, a cirurgia tem mais chances de sucesso se for realizada entre seis meses a um ano da lesão inicial.

 

Nos demais pacientes, embora não tenham reganhado completamente função normal, as melhorias foram suficientes para mudar totalmente a vida das pessoas.

 

Esses pacientes, inicialmente, podiam mover apenas alguns músculos superiores do braço. Com a transferência de nervos – eles foram cortados e em seguida anexados a outros nervos que controlavam outros músculos -, os indivíduos se tornaram capazes de estender o braço e abrir e fechar a mão.

Por exemplo, nervos que uma vez serviam para virar a palma da mão para cima passaram a ser usados para estender todos os dedos da mão. Assim, quando um paciente pensava em girar a mão, seus dedos se estendiam.

 

 

“Acreditamos que a cirurgia de transferência de nervo oferece uma opção nova e empolgante aos indivíduos com paralisia, dando-lhes a possibilidade de recuperar as funções do braço e da mão para realizar tarefas cotidianas, ter maior independência e capacidade de participar mais facilmente da vida familiar e profissional”, resumiu a Dra. Natasha van Zyl, da Austin Health em Melbourne, à BBC.

 

Sucesso

Um dos pacientes que fez a cirurgia e recuperou movimentos cruciais foi Paul Robinson, de 36 anos. Sua lesão ocorreu quando ele caiu durante um passeio de motocross em 2015. Ele realizou a operação de transferência de nervos no mesmo ano, no que ele relatou ter sido uma das experiências mais dolorosas de sua vida.

 

Depois de um período de recuperação e fisioterapia, ele finalmente reganhou a habilidade de mover suas mãos e braços de uma maneira que transformou sua vida. Paul, que anteriormente havia tido que voltar a morar com os pais, pode novamente ter sua própria casa.

 

“Nunca pensei que seria possível viver sozinho, de forma independente. Eu pratico esporte (rugby em cadeira de rodas) e estou estudando engenharia. Isso fez uma diferença enorme na minha vida – poder cortar comida, segurar talheres normais e usar uma caneta para escrever na universidade”, contou à BBC.

 

Mudando vidas

Era exatamente este o objetivo dos pesquisadores – ajudar as pessoas a terem uma vida melhor, ainda que movimentos finos não possam ser totalmente recuperados.

 

“Ninguém será um pianista de concerto depois desse procedimento. Definitivamente, não estamos restaurando a função normal das mãos”, explicou a Dra. Van Zyl.

 

O foco é em duas áreas – abrir e fechar a mão e poder estender o cotovelo para alcançar algo. No entanto, isso ainda pode alterar de maneira radical a qualidade de vida de um paciente.

 

Um artigo sobre as descobertas do estudo foi publicado na revista científica Lancet. [BBC]

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