Rui Car
28/08/2020 08h52

Pesquisa revela que o brasileiro desperdiça 20% de carne bovina por ano

Pandemia deve fazer com que o número de pessoas no mundo em quadro grave de desnutrição e fome cheguem a 265 milhões

Assistência Familiar Alto Vale
Fonte: Canal Rural

Fonte: Canal Rural

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353 gramas ao dia, ou 128 quilos por família por ano, sendo que 22% desta quantidade são de arroz, 20% de carne bovina, 16% de feijão e 15% de frango. Este é o quadro de desperdício de alimentos do consumidor brasileiro, que foi descoberto por uma pesquisa realizada em 2018 por uma parceria entre a Embrapa e a Fundação Getúlio Vargas para o projeto “Diálogos Setoriais União Europeia – Brasil”.

 

Nesta quinta, 27, o engenheiro agrônomo, mestre e doutor em fitopatologia e pesquisador da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa, Gilmar Paulo Henz, falou ao Giro do Boi a respeito do tema e também comentou a nova lei nº 14.016, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em 23 de junho 2020, que pode contribuir para redução do desperdício de alimentos no Brasil.

 

Henz contextualizou em primeiro lugar a estimativa de desperdício de alimentos no aspecto global, em que a FAO aponta que cerca de ⅓ do total é perdido. “Esta é uma estimativa genérica da FAO, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Mas nós sabemos que estas perdas, este desperdício de alimento varia muito em função da região e do nível de desenvolvimento dos países.

 

Também outros fatores que influenciam muito são questões culturais, o tipo de alimento, a etapa de cada cadeia que a gente está considerando e, principalmente, os hábitos alimentares de cada nação. Só para dar um exemplo, em países mais desenvolvidos, como da Europa, Estados Unidos, Canadá e Japão, se considera que 40% das perdas ocorram nos domicílios e no varejo. Se você considerar, por exemplo, o continente africano, isso já muda muito porque o problema na África são as perdas no campo e do campo até chegar na comercialização, considerando que eles têm uma estrutura deficiente de estradas, eles não têm um sistema bom de armazenamento, têm muitos problemas de comercialização. Este é um número genérico, mas não reflete a realidade de cada região, cada região tem suas particularidades”, apresentou o agrônomo.

 

“A situação mais grave de perdas que a gente considera é, principalmente, em produtos que são mais perecíveis. Então, por exemplo, frutas e hortaliças, como têm bastante teor de água e são mais sensíveis, as perdas são muito grandes. Já grãos é um pouco o contrário, porque grãos você quer manter seco. Mas grão perde muito no transporte e na colheita”, acrescentou.

 

Conforme lamentou o pesquisador, o problema gera uma grave consequência. “O programa mundial de alimentos, que é uma organização ligada à FAO, estima que em 2019 mais ou menos 135 milhões de pessoas no mundo estavam em situação grave de fome e de desnutrição. Desses 135 milhões, 65% são concentrados em dez países que passam por problema sérios de guerra civil”, lastimou. Henz acrescentou ainda que, desta lista de dez países, cinco estão na África (entre eles o Iêmen), três no Oriente Médio (entre eles a Síria) e dois na América (Haiti e Venezuela).

 

O quadro, inclusive, deve se agravar, conforme estimativas da própria FAO. A pandemia deve fazer com que o número de pessoas no mundo em quadro grave de desnutrição e fome cheguem a 265 milhões. “A comida que existe hoje no mundo seria suficiente para você alimentar a população mundial inteira. Quer dizer que tem outros problemas, não só a questão de desperdício, de perdas, mas também a questão de distribuição. O acesso das pessoas à alimentação. O Brasil tem uma situação privilegiada porque nós passamos de importadores de alimentos nos anos 60 para exportado. Hoje talvez o Brasil seja o maior exportador mundial de alimentos”, ponderou Gilmar.

 

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