Rui Car
02/06/2021 14h04

Planta nativa da região de São Joaquim, canudo-de-pito produz um dos melhores méis do mundo

Mel proveniente das flores de canudo-de-pito já foi eleito o melhor do mundo e pode vir a ser mais um produto catarinense a receber o reconhecimento de indicação geográfica

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Foto: Divulgação / Epagri

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Entre os mais de 100  tipos de méis que a biodiversidade de Santa Catarina proporciona, um deles está chamando atenção dos profissionais de apicultura: o mel de canudo-de-pito. Essa planta (Escallonia sp.), nativa da região de São Joaquim, é frequente em regiões com altitude de 1000 a 1100 metros, comum no Planalto Catarinense. O mel proveniente das flores de canudo-de-pito já foi eleito o melhor do mundo e pode vir a ser mais um produto catarinense a receber o reconhecimento de indicação geográfica.

 

Segundo Rodrigo Durieux da Cunha, chefe da Divisão de Estudos Apícolas da Epagri, o mel de canudo-de-pito vem sendo considerado uma iguaria por suas características únicas. “É um mel monofloral, já que a maior parte da sua composição é proveniente de flores de uma mesma família, gênero e espécie. Outro destaque é o curto período de produção, devido ao pequeno ciclo de floração da planta, que vai de 10 de dezembro a 10 de janeiro. A limitação da localização geográfica onde essas plantas se desenvolvem, bem como a qualidade do produto torna esse produto singular”, diz ele.

 

O apicultor Joel de Souza Rosa, que soma 30 anos de experiência na área, afirma que colheita desse mel pode ser feita duas vezes por ano, se houver boas condições de tempo.  A produção total de todos os seus apiários chega a três mil quilos por ano. Já a produção por colmeia chega a atingir 50 quilos de mel.

 

Indicação Geográfica

 

O mel de canudo-de-pito já foi mundialmente reconhecido quando ganhou o concurso de melhor e mais doce mel do mundo no Congresso Internacional de apicultura em Atenas, na Grécia, em 1979.  A Epagri, em parceria com a UFSC busca agora outro reconhecimento do produto: a indicação geográfica (IG).

 

Foto: Governo de Santa Catarina / Divulgação

“A IG é uma forma de valorização de um produto. É uma garantia que o produto é genuíno e que possui qualidades particulares. São vários fatores que são analisados para uma IG, tais como: fitogeografia, clima, uso da terra, altitude, produção do mel e o saber fazer”, comenta Rodrigo.

 

Os estudos laboratoriais com o mel de canudo-de-pito ainda estão em fase inicial, mas os resultados levantados apontam que esse produto é um forte candidato ao processo de IG. Segundo a professora e pesquisadora da UFSC, Ana Carolina Costa, esse mel demonstrou ser rico no mineral potássio e possui maiores quantidades que as encontradas em méis de flores de vassoura e de macieira. “Outro resultado bem importante foi que o mel de canudo-de-pito apresentou substâncias antioxidantes em maior quantidade quando comparadas aos méis de flores de acácia, tília e de laranjeira”, explica a professora.

 

A pesquisadora da Epagri Mara Rúbia Romeu Pinto, doutoranda da UFSC, trabalha com técnicas avançadas para buscar a identidade desse mel através de seus compostos. Em seu projeto de pesquisa, ela busca um marcador, ou seja, uma impressão digital do mel de canudo-de-pito.

 

“Eu espero que juntamente com o trabalho desenvolvido pela professora Ana e o pessoal da Epagri a gente consiga construir todo esse processo de IG, levando o mel de Santa Catarina ao conhecimento do mundo todo e trazendo valorização ao produto e aos apicultores, que produzem esse mel com o maior carinho do mundo”, diz a pesquisadora.

 

Outros tipos de méis

 

A composição química do mel faz desse produto das abelhas um grande aliado para aumentar imunidade e assim tornar o organismo mais resistente aos processos infecciosos, como as gripes, resfriados  e dores de garganta. Dentre as substâncias estão vitaminas, minerais, enzimas e aminoácidos, considerados compostos bioativos, ou seja, que trazem benefícios à saúde dos consumidores.

 

Segundo o presidente da Federação das Associações de Apicultores de Santa Catarina (FAASC), extensionista da Epagri Ivanir Cella, as abelhas de Santa Catarina podem produzir mais de 100 tipos de méis silvestres com cor, aroma, sabor e consistência diferentes, devido à diversidade de plantas e tipos de solo. Conheça alguns deles e confira os benefícios de cada um para a saúde:

 

Mel silvestre – Responde pela maior parte do mel produzido em Santa Catarina. É multifloral, ou seja, é produzido pelas abelhas a partir do néctar coletado em uma grande variedade de plantas. Esse mel é considerado de excelente qualidade e seu sabor, aroma e consistência variam de acordo com as floradas predominantes na época em que é produzido.

 

Segundo Cella, a coloração mais escura indica maior concentração de sais minerais, enquanto os méis mais claros normalmente são mais suaves. Dentre os compostos bioativos destacam-se os ácidos gálicos e cinâmico e a quercetina, que contém propriedade antioxidantes.“Substâncias antioxidantes são usadas na prevenção e no tratamento de algumas doenças, como câncer, doenças cardiovasculares e Alzheimer”, explica a extensionista social de Florianópolis, nutricionista Cristina Ramos.

 

Mel de eucalipto – Produzido de março a maio no Sul do estado, região onde aconcentração dessa planta é maior, apresenta coloração âmbar e sabor mais forte. Nesse tipo de mel predominam os seguintes compostos ativos: quercetina e ácidos gálico e p-cumárico, que possuem propriedades antioxidantes e bacteriostáticas, ou seja, tem como princípio terapêutico impedir a proliferação dos micro-organismos como as bactérias. “É uma boa pedida para quem precisa de um expectorante”, destaca Cella.

 

Mel de uva-japão – Produzido principalmente no Oeste do estado nos meses de novembro e dezembro, época de floração dessa planta, tem cor clara e sabor extremamente suave. Cella explica que um peculiaridadedesse tipo de mel é o fato de dificilmente cristalizar quando armazenado em temperatura ambiente. O mel de uva-japãoé rico em ácido p-cumárico, que contém propriedades antioxidantes, antitumorais, anti-inflamatórias e antimicrobianas.

 

Melato – O melato não é produzido a partir do néctar das flores e sim a partir de exsudatos da bracatinga, misturados a enzimas produzidas por cochonilhas, que são pequenos insetos que atacam o tronco dessa planta. Ele é produzido no Planalto Catarinense entre os meses de março a maio dos anos pares, devido ao ciclo da cochonilha.

 

É um mel único, de coloração escura, bastante apreciado e valorizado no exterior. O mel de melato da bracatinga possui quercetina e os ácidos benzoico, cafeico,clorogênico, ferúlico e salicílico, compostos que dão ao produto propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e antitrombóticas.

 

O mel é um produto sensível e suas características podem ser alteradas se não houver os cuidados necessários na colheita, extração e processamento do mel, assim como, condições ideais de temperatura e umidade no armazenamento. Segundo a extensionista social de Imbituba, nutricionista Eloísa Rovaris Pinheiro, ao comprar mel, deve-se sempre observar a procedência, verificando se é inspecionado, identificado pelos selos referentes ao órgão de inspeção sanitária que é registrado, podendo ser Municipal (SIM), estadual (SIE) ou Federal (SIF). “A inspeção define e controla os padrões de qualidade do produto, assegurando sua pureza e as boas práticas tanto apícolas e como de processamento”, diz ela.

 

Produção de méis em SC

 

Santa Catarina é o quarto maior produtor de mel do país, com quase dez mil apicultores  e 323 mil colmeias.  A safra 2018/19 foi de 5,8 mil toneladas. O Estado tem a melhor produtividade do país, uma média de 68 quilos por quilômetro quadrado, enquanto no restante do Brasil a média é de cinco quilos.

 

Além do mel, outros produtos da apicultura catarinense são pólen, própolis, cera bruta, núcleos, rainhas e apitoxina. A polinização também é importante, por exemplo, para o cultivo de macieiras.

 

Nossos extensionistas dão uma mãozinha para você incluir o mel no cardápio e compartilham algumas receitas criadas por agricultores.


FONTE: SCC10

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