Rui Car
12/12/2018 09h04

“Por que eu decidi virar uma madrinha por contrato”

Jen Glantz passou mais de quarto anos como uma madrinha por contrato

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Os dois telefonemas que mudaram a minha vida aconteceram na mesma noite, quatro anos atrás, de duas pessoas diferentes que tinham a mesma coisa em mente. Em uma sexta feira a noite, atendi os dois telefonemas, com apenas uma hora de diferença, ansiosa para ver por que duas amigas distantes pegaram o telefone para me ligar. Mas para a minha surpresa, ambos me perguntaram a mesma coisa.

 

“Jen”, começaram eles em um tom lento e familiar. “Você quer ser minha madrinha?”

 

No ponto em que a minha vida estava, eu não estranharia essa pergunta. Aos 26 anos, eu já tinha andado no tapete vermelho usando uma infinidade de vestidos chiffon, brindando e dançando em casamentos uma dúzia de vezes. Eu sabia quando devia me afastar, dar espaço a ela, e sabia quando me aproximar dela – com uma caixa de lenços, band-aids e um Advil extraforte. Eu era confiável e seguia o fluxo. Jamais causei nenhuma confusão e encontrei diversas formas de romper a tensão entre as outras madrinhas, com humor, distrações e distribuição de tarefas.

 

É por isso que quando duas amigas com quem eu não converso há mais de três anos me pedem na mesma noite para ser a sua madrinha, a única conclusão lógica que posso tirar, é que eu me tornei uma excelente madrinha e todo mundo sabe disso. Depois de conversar com a minha colega de quarto naquela noite, ela olhou nos meus olhos e disse: “Uau, você se tornou de verdade uma madrinha profissional.”

 

Eu vi em primeira mão que os casamentos estavam se tornando maiores a cada dia, cada vez mais caros e também uma dor de cabeça para as noivas. Em 2017, o custo médio de um casamento era de US$ 25.764. Isso é mais do que um ano de ensino na maioria das faculdades estaduais.

 

Foi aí que eu tive a ideia. Eu poderia, sim, assumir esse papel – que as vezes parecia um trabalho de meio período que durava entre 6 a 9 meses e terminaria com uma celebração open bar com um pequeno grupo tendo um ataque de pânico. Se as amigas com que eu nem tinha muito contato me pediam para fazer isso por elas, porque elas queriam alguém que fosse praticamente um profissional nisso, talvez eu pudesse fazer a mesma coisa para estranhos.

 

Anos antes, me formei em poesia na faculdade e nessa época, eu trabalhava como redatora em uma startup de tecnologia na Times Square. Eu não tinha nenhuma experiência nesse negócio. Por isso resolvi testar a minha ideia, levando-a para um site e tentar descobrir se as pessoas achavam se isso era uma boa ideia ou apenas algo que era melhor deixar no passado.

 

Eu fui no site craigslist.org e escrevi um anúncio oferecendo os meus serviços como uma madrinha por contrato para estranhos ao redor do mundo. O anúncio mencionava que eu iria ajudar a noiva com os trabalhos pesados que suas verdadeiras amigos estariam muito ocupadas para fazer, pouco familiarizadas ou que queriam apenas se divertir – incluindo ajudar a noiva com o vestido a fazer xixi, dançar com os convidados, pegar o buquê e responder a longa lista de e-mail de outras madrinhas.

 

Postei o anúncio no fim de uma sexta feira a noite e dois dias depois, quando chequei minha Caixa de Entrada, eu tinha centenas de e-mails de pessoas ao redor do mundo que queriam me contratar.

 

Jen Glantz passou anos sendo uma madrinha por contrato – agora, ela ensina outras mulheres a fazer o mesmo. (Imagem: Jen Glantz)
 

Os e-mails foram pessoais. Eu ouvi histórias de noivas que se distanciaram de suas amigas e precisavam desesperadamente de alguém que as ajudassem a se sentir confiantes e desestressadas no dia do seu casamento. Eu ouvi noivas dizerem que suas melhores amigas viraram madrinhas-monstro, fazendo que o casamento fosse todo sobre elas. Finalmente, li o e-mail de Ashley, uma noiva de Minnesota, que pedia a minha ajuda. Ela se casaria em um mês e recentemente “demitiu” sua madrinha, uma amiga íntima que estava sufocando-a com sua inveja e tolice.

 

Decidi responder primeiro a Ashley, simpatizando com o quanto deveria ter sido difícil para ela romper com uma amizade de alguém que significava tanto para ela, faltando apenas um mês para o seu casamento. Depois de mais alguns e-mails e telefonemas, Ashley se tornou oficialmente a minha primeira cliente e reservei meu voo para trabalhar em seu casamento em Maple Grove, Minnesota.

 

Quanto ao restante dos e-mails, fiz com que virassem pesquisas. Eu li todos eles e montei um pacote básico com base em todas as necessidades que eu via em minha Caixa de Entrada. Comecei outro pacote que me permitia ser uma “madrinha por telefone” para todas as noivas ao redor do mundo que precisavam de alguém para desabafar em tempo real e obter conselhos. Também comecei mais um pacote para as noivas que precisavam de ajuda nos bastidores, do dia do seu casamento, garantindo que as tarefas de última hora e as crises de estresse da noiva fossem atendidas. Simplificando, para as noivas, eu me tornei um tipo de terapeuta, assistente pessoal, diretora social e sua pacificadora.

 

Algumas noivas me pedem para manter tudo isso em segredo, escolhendo um nome diferente, fingindo ter me conhecido no passado e fazendo esse papel na frente da família, seu noivo e amigos. Quando estou em um casamento, ando pelos corredores, coloco o vestido de madrinha – e frequentemente faço o brinde.

 

Eu também criei um pacote para madrinhas, oferecendo-me para escrever os votos de casamento para elas e fazer todo o planejamento para a sua festa de despedida de solteira e chá de panela, sem a noiva saber de nada. Meus pacotes variam de algumas centenas de dólares, até perto de US$ 4.000.

 

Após trabalhar com Ashley, eu trabalhei com quase cem clientes nos últimos quatro anos. Eu viajei ao redor do país, passando por Las Vegas, Seattle, Filadélfia e muitas outras cidades. Já lidei com muitas noivas hesitantes, inclusive uma que desistiu de casar faltando apenas três minutos para a cerimônia. Já fui encarregada de encontrar noivos desaparecidos, acalmar noivas histéricas e lidar com brigas familiares que aconteceram durante a recepção. Eu dei palestras para noivas que eu tinha acabado de conhecer e apertei as mãos de noivos fingindo que era uma amiga da noiva das aulas de ioga, ensino médio ou acampamento de verão. Eu tenho inúmeros nomes falsos e histórias falsas, mas por incrível que pareça, construí um relacionamento com muitas das noivas com que trabalhei – incluindo Ashley – que ainda é uma das minhas amigas queridas, mesmo depois de quatro anos.

 

Quase 30.000 pessoas se candidataram para trabalhar na minha empresa, Bridesmaid for Hire, e conseguimos contratar cerca de cinco pessoas nos últimos anos para trabalhar comigo (quando as noivas pediam por mais de uma madrinha) e para mim (nos fins de semana, quando vários casamentos acontecem). Recentemente, eu comecei um programa de treinamento para ensinar pessoas ao redor do mundo a como iniciar o seu próprio negócio de madrinhas profissionais, ou negócios de casamento de estranhos – em menos de 30 dias.

 

Quanto aos vestidos de madrinha, eu ainda tenho a maioria deles, amassados em sacos de lixo que tiro do meu armário de vez em quando e, enquanto vejo o tecido, os padrões e as manchas, fico rindo, pensando nas histórias e nos estranhos com quem tive a oportunidade de trabalhar nos últimos quatro anos.

 

 

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