Rui Car
14/11/2017 08h14

Preconceito e falta de informação são responsáveis por má fama de pit bull

Por Fabiana Bertganolli

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Olhinhos doces, pelo brilhante, testa enrugada: poucas pessoas resistiriam a um cão com essas características. A história muda de figura, no entanto, se o animal em questão for um pit bull. Marginalizados, esses cães conquistaram uma (má) fama que não condiz com o seu real temperamento e pagam um preço alto pelo mau emprego da raça.

 

Não é necessário ser um expert em cachorros para ter na ponta da língua uma lista de pontos negativos sobre os pit bulls – as notícias sobre ataques mortais e a quantidade de exemplares abandonados em ONGs falam por si só. A única verdade por trás do sensacionalismo que envolve a raça é que, em todos os casos, a culpa é exclusivamente do homem.

 

“Cada raça foi desenvolvida para um propósito. O golden retriever, por exemplo, foi criado para a caça, enquanto o shih-tzu para ficar ao lado do tutor. O pit bull foi desenvolvido para ser um cão de rinha. Mas é importante ter ciência que o comportamento do cão é a influência de três fatores: genética, ambiente e aprendizado”, explica o zootecnista especialista em comportamento animal, Renato Zanetti.

 

E o que isso significa?
Na prática, apesar de os pit bulls terem sido criados para a briga, o que determina atualmente a sua personalidade é a forma como eles são criados. “Um golden retriever, por exemplo, não vai ser um bom caçador se não receber esse estímulo. O mesmo acontece com os pitt bulls”, completa.

 

A mesma opinião é compartilhada por Evander Bueno de Lima, veterinário especialista em comportamento animal. “Na sua grande maioria, sua citada violência só existe por possuir proprietários que apenas o ensinam a atacar tudo e qualquer coisa que se aproxime, sendo ele apenas um reflexo de proprietários irresponsáveis”.

 

Ou seja: até um poodle fofinho pode apresentar comportamento agressivo. A diferença, nesse caso, é a força empregada por cada cão em caso de ataque. “Esse estigma vem de casos isolados de pit bulls que realmente mordem alguém, e nesse caso, o estrago pode ser fatal”, analisa Zanetti.

 

Por incrível que pareça, pit bulls são cães que gostam muito de humanos e se dão especialmente bem com crianças. “Mesmo no passado, ele foi selecionado para ser agressivo com cachorros e não com pessoas. Se ele brigasse com a gente, ele seria morto”, analisa Zanetti. “Se educado e socializado adequadamente, convive perfeitamente com crianças ou outros animais, sendo um companheiro amável e confiável, sempre pronto para dar e receber carinhos sem nunca perder sua característica de proteção”, pontua Lima.

 

Afinal, por que eles atacam?
Um pit bull só vai atacar se ele tiver sido mal socializado na infância. “O cara quer um cachorro para cuidar da casa e compra um cão forte, que passa a vida sem ver ninguém. Eventualmente ele escapa e vê uma criança ou outro animal, com certeza vai atacar. O ambiente vai fazer com que ele seja um cão reativo, pois ele aprende que esse é o comportamento correto”, declara Zanetti.

 

A única forma de evitar esse tipo de comportamento é a socialização adequada e adestramento. “Precisa haver reforço positivo. Você não pode punir o cão quando ele vê uma criança, pois você vai mudar a sua emoção e não o seu comportamento”, explica o especialista. “Quando o pit bull associa uma criança a um biscoito é a mesma sensação que temos ao ver uma latinha de cerveja em um dia quente”, brinca Zanetti.

 

“Podemos pegar como exemplo um discente. Tem alunos que entendem uma situação ou um problema logo de início enquanto outros podem demorar um pouco mais. Porém todos – cada qual no seu tempo e com a educação correta – irão assimilar a informação no final. Com os cães ocorre o mesmo”, exemplifica Lima.

 

E qual a melhor maneira de socializar um cão? Especialistas concordam que paciência é a melhor forma de evitar acidentes. “Apresentar à criança ou a um novo animal aos poucos, sempre de longe e recompensando o cão. Passear com ele em horários mais tranquilos e parques vazios e sempre recompensá-lo quando ele apresentar reações positivas”, orienta Zanetti, que também recomenda aulas de adestramento em grupo.

 

“Um cão faz muita companhia para outro cão desde que eles se gostem. Imagine você, humano com 30 anos, ganhando um irmãozinho de 6 meses. Toda a sua rotina muda com essa chegada e você pode ou não gostar da novidade”, exemplifica Zanetti. “Por esse motivo, há locais de adoção que permitem levar o cão para casa por um período e ver se dá ‘match’”, completa.

 

Cão feliz, cão obediente
Além das necessidades mentais, o tutor de um pit bull precisa ficar atento aos desafios físicos que a raça exige. De acordo com Lima, “por se tratar de uma raça de porte médio, espaço grande e atividade física são fundamentais para seu bem-estar”.

 

“Você pode ter um pit bull em apartamento desde que você ofereça a ele condições de expressar as características naturais da sua espécie. É preciso ponderar qual o seu estilo de vida e ver se o cão se adapta a ele. Se você deseja um cão de companhia mas não quer se comprometer com a suas necessidades, é melhor não ter um pit bull. Aliás, é melhor não ter nenhum cão”, adverte Zanetti.

 
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