Rui Car
03/08/2017 09h55 - Atualizado em 03/08/2017 08h16

Saiba por que não é seguro dar remédios para crianças durante um voo

Sonolência é um efeito muito conhecido do paracetamol líquido

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Pergunte a qualquer pessoa que goste de viajar: crianças são as piores companhias durante um voo. Mesmo que elas tenham idade e comportamento suficientes para não sair gritando pelos corredores, ainda há o risco de ficarem inquietas demais e chutarem o assento da frente o tempo todo.

 

No entanto, ao me tornar mãe, fiquei chocada depois de descobrir que alguns pais acham perfeitamente normal sedar seus filhos durante os voos. Por que não oferecer logo um gin com tônica para eles?

 

Uma rápida conversa com alguns amigos e um tour pela internet (desde a BBC até o Mumsnet) revelaram que a prática de sedar as crianças é bastante comum – às vezes até em casa, e particularmente durante voos.

 

“Dei o medicamento Calpol para o Ben nas duas últimas vezes que voamos”, disse uma amiga que viaja regularmente para a Irlanda. “Acho problemático fazer isso semanalmente, mas de vez em quando não tem problema. Ele não fica sonolento o tempo todo, mas certamente fica mais tranquilo”.

 

“Sophie nunca dormiu bem”, outra disse. “Prefiro dar algo para ajudá-la a relaxar a ter que suportar um ataque de birra na frente de centenas de estranhos”.

 

“Sinto que ter as pessoas julgando minhas habilidades como mãe poderia estragar nossas férias”.

 

É claro que esses pais não estão dando nada muito forte para os filhos. Só remédios comuns, como um anti-histamínico ou uma dose apropriada de Calpol (que contém paracetamol), dependendo da idade da criança. Esses dois são usados regularmente em bebês, para tratar dores de dente ou vírus e febres, quando eles pegam um desses de outras crianças na creche.

 

É por isso que muitos me perguntaram por que é tão ruim usar esses medicamentos durante voos.

 

Foi aí que eu decidi investigar.

 

É seguro dar remédios para crianças pequenas quando elas não apresentam quaisquer sintomas de doença? Para começar, o Calpol não é uma boa escolha.

 

Sonolência é um efeito muito conhecido do paracetamol líquido. O analgésico é ótimo para combater dores de dente ou febre em crianças, ajudando-as a dormir, tornando-as mais confortáveis e relaxadas.

 

Os anti-histamínicos, por outro lado, podem ser sedativos e não-sedativos. Um anti-histamínico para crianças de mais idade, vendido na rede de farmácias Boots, contém clorofenamina, que tem um efeito sedativo.

 

A Difenidramina, para crianças maiores de dois e seis anos, contem cetirizina, que não tem efeito soporífico. Alguns especialistas dizem que ele é mais seguro para as crianças por esse motivo.

 

Há uma chance dos remédios de alergia produzirem um resultado inesperado.

 

“Anti-histamínicos como promazetina, que podem ser comprados sem receita, podem deixar as crianças sonolentas por grande maioria do tempo de ação do remédio”, disse Seth Rankin, ex agente de saúde da NHS e fundador da London Doctor’s Clinic.

 

“No entanto, apenas como um lembrete da nossa fragilidade humana, às vezes o remédio pode ter o efeito oposto, tornando as crianças mais despertas e hiperativas, exatamente quando você não precisa disso”.

 

Dr. Richard Dawood, um especialista em medicações aplicadas durante viagens, concorda.

 

“Acredito que pode ser razoável usar uma pequena dose de anti-histamínico numa criança que realmente não consegue lidar com um voo longo e desconfortável”, disse ele. “Mas há algumas ressalvas. Em alguns casos, o remédio pode deixar a criança ainda mais inquieta”.

 

“Nunca vou esquecer uma experiência que tive com uma criança (medicada) que gritou o tempo todo durante 5 horas de voo, para finalmente ganhar uma salva de palmas dos nossos colegas de viagem quando parou de chorar enquanto o avião descia”.

 

“Eu não acho que nada menos do que uma anestesia geral – para o seu pai – teria ajudado naquele caso”.

 

O Dr. Rankin também questiona a ética de drogar crianças em benefício próprio, sugerindo que os pais induzam o sono de formas mais naturais”.

 

“A medicação não é a melhor opção”, ele disse.

Result! A sleeping child means less dirty looks - Credit: This content is subject to copyright./Vanya Dudumova / EyeEm
Resultado! Uma criança adormecida significa menos olhares de repreensão. Crédito: Esta imagem está sujeita a direitos autorais. /Vanya Dudumova / EyeEm
 

“Em vez disso, faça todo o possível para planejar um voo tranquilo, simulando o ambiente do avião em casa, levando pijamas, um cobertor leve, os brinquedos favoritos da criança, refeições e coisas que possam distraí-la”.

 

É errado medicar crianças

Eu também acho que seja imoral. Entendo o sentimento de medo da incapacidade de acalmar o próprio filho. Eu mesmo já senti um estranho tipo de orgulho quando, durante um voo, os outros passageiros disseram que não haviam notado que havia um bebê no avião.

 

Mas eu também valorizo muito a saúde dos meus filhos para medicá-los com o único intuito de não passar vergonha. Isso é tão britânico! Talvez eu devesse me preocupar um pouco mais em não perturbar as pessoas, mas essa não é a minha prioridade.

 

O excesso de medicação é uma realidade do mundo adulto, e sempre ouvimos falar das consequências dessa prática. Por que induzir nossos filhos ao mesmo erro?

 

Outra preocupação também é a possibilidade de as crianças ficarem resistentes a esses remédios, o que aumentará mais e mais a necessidade de medicá-las.

 

Além disso, há uma ameaça muito mais imediata em dar anti-histamínicos para crianças durante um voo.

 

Vou deixar uma amiga explicar com suas próprias palavras:

 

“Estávamos voando para a Grécia com a milha filha de seis meses de idade. Eram as primeiras férias dela, então eu estava nervosa. Ouvi dizer que anti-histamínicos deixavam os bebês sonolentos e eu mesmo os usava, todo verão, então pensei em dar um pouco para ele antes do embarque”.

 

“Tudo ficou bem no início e ela dormiu pelas primeiras duas horas, mas acordou chorando. Eu a levantei e fiquei horrorizada. Um ‘acidente’ em sua fralda, cheia, havia respingado no meu colo e eu não reparei”.

 

“Fiquei vermelha de tanta vergonha e caminhei vergonhosamente pelo corredor até o banheiro, torcendo para que ninguém notasse a mancha ou o cheiro. Então, no banheiro, tive que limpar tudo enquanto batia meus cotovelos nas paredes do avião e tentava não sujar todo o compartimento. Ninguém me avisou que o remédio também tinha um efeito laxante”.

 

Essa é a consequência mais indesejável dos anti-histamínicos. Alguns, como o da marca mencionada acima, da Boots, também age como um laxante. Certamente, nenhum pai quer uma emergência dessas em um espaço confinado.

 

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