Rui Car
30/01/2020 09h50

Ter amigos é fundamental para envelhecer bem e sem doenças

A família não basta?

Assistência Familiar Alto Vale
Por Cristiane Capuchinho  - (Foto: Getty Images)

Por Cristiane Capuchinho - (Foto: Getty Images)

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Ok, todos sabemos que ter amigos é fonte de bem-estar. Mas o que as pesquisas de saúde têm mostrado é que manter uma rede de amigos ao longo da vida está associado a menor risco de desenvolver hipertensão, doenças cardíacas coronarianas e diabetes. Mais, uma rica rede de laços sociais está relacionada com uma vida mais longa. 

 

“Durante toda a vida as redes sociais representam uma possibilidade de troca de ajuda. E essa troca tem sido considerada tão importante [para a saúde] quanto ser um indivíduo ativo, ter bons hábitos de vida ou um peso saudável”, explica Tábatta Brito, pesquisadora na área de geriatria e professora da Universidade Federal de Alfenas.

 

Com evidências de que isolamento social aumenta os riscos para o bem-estar, a amizade virou questão de saúde pública. E não é brincadeira, vínculos sociais são uma área de pesquisa em expansão entre geriatras e psicólogos

 

Faz bem para a saúde

O isolamento social, em outras palavras a falta de contato com pessoas, e a sensação de solidão estão associados com aumento da mortalidade na população mais velha. 

 

Em um estudo da Universidade College London, publicado na PNAS, foram examinados questionários sobre os laços sociais e o sentimento de solidão de 6,5 mil ingleses com mais de 52 anos. Os pesquisadores, então, monitoraram a mortalidade deste grupo ao longo de mais de sete anos. A taxa de mortalidade entre os grupos de pessoas mais isoladas socialmente e mais sozinhas foi mais alta do que aquela entre os que tinha muitos contatos sociais.  

 

 

Entre os mais isolados socialmente, 21,9% morreram durante o estudo. A taxa de morte entre os que foram classificados com mais laços sociais foi de 12,3%. A associação entre maior risco de morte e isolamento social se manteve mesmo quando os cientistas consideraram as doenças preexistentes e características sociais. 

 

O aumento da mortalidade vem acompanhado de evidências de que o isolamento social e a solidão ampliam o risco de doenças do coração. 

 

Os pesquisadores da Universidade de York analisaram dados de 23 estudos que associavam o isolamento social e a solidão com doenças coronarianas e infarto. A meta-análise mostra que redes sociais pobres estavam relacionadas com um aumento de 29% no risco de uma doença coronária e de 32% na probabilidade de um infarto.

 

Um outro estudo, publicado na revista científica The Journals of Gerontology, encontrou um risco 40% maior de desenvolver algum tipo de demência entre as pessoas que declararam se sentir sozinhas. A pesquisa acompanhou 12 mil pessoas com testes sobre sua saúde mental dos participantes ao longo de dez anos.

 

Isolamento social na terceira idade

Com o passar dos anos, o tamanho de nossas redes sociais tende a diminuir. Sem o contato com colegas trazidos pelo trabalho, ou através dos filhos, que já saíram de casa, com a perda natural de amigos ao longo da vida e muitas vezes morando em um lugar em que os vizinhos já não se conhecem mais, a lista de pessoas com quem os idosos conversam fica cada dia mais restrita.

 

Um estudo feito pela Fiocruz com mais de 7,6 mil idosos brasileiros (ELSI-Brasil), e publicado em 2018, mostrou que 14% deles dizem sentir solidão sempre e 29% não têm filhos ou os encontram menos de uma vez no ano.

 

Em sua pesquisa de doutorado, Brito analisou a rede social de idosos da cidade de São Paulo. A pesquisa mostrou que, em média, as pessoas com mais de 60 anos tem contato com 8 pessoas, a maioria delas são familiares com idade entre 15 e 59 anos. 

 

A família não basta

A questão é que só o contato com a família não basta para garantir o bem-estar na velhice, pois o apoio que temos de parentes costuma não ser equivalente a nossas trocas com amigos. 

 

“A família dá apoio material a esse idoso, cuida de sua saúde, faz as tarefas domésticas, mas não supre a demanda por apoio social e emocional”, explica a pesquisadora. “Os vínculos que temos de amizade são os que nós escolhemos, que tem relação com confiança, com pessoas que nos trazem segurança emocional. O vínculo familiar é estabelecido de outra maneira.”

 

Com amigos de longa data ou feitos recentemente, esse idoso consegue compartilhar coisas que ele não faz com a família, seja porque a família não está tão interessada em conversar com ele seja porque ele não ter quer trazer preocupações para os filhos.

 

A pesquisadora diz ainda que não é só uma questão de ter alguém para dar informações, afeto ou ouvir o idoso, mas também de reciprocidade. As pessoas mais velhas que diziam ajudar outras pessoas com apoio social ou emocional são mais independentes e vivem mais tempo. 

 

Essa diferença é percebida em outros estudos, como a pesquisa da Universidade de Massachusetts Boston com mais de 6,4 mil participantes e publicada em 2016. Os cientistas mostram que o contato com amigos estava mais associado a uma boa saúde mental do que o contato com parentes. 

 

“Se a gente quer envelhecer com qualidade, a gente precisa trabalhar as questões de relacionamento desde sempre. A gente precisa investir mais em se relacionar uns com os outros, se envolver e buscar relacionamentos que sejam satisfatórios ao longo da vida e cultivá-los”, aconselha.

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