Rui Car
18/12/2017 09h11

“Tudo que eu gostaria de ter ouvido antes de me tornar mãe”

As rotinas são uma ferramenta, não uma obrigação

Assistência Familiar Alto Vale
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Delta Ativa

Eu tive meu primeiro filho aos 28 anos. Esta pode parecer uma idade totalmente normal e adulta da vida para embarcar na viagem da maternidade, mas eu havia me formado na faculdade há apenas cinco anos, ainda saía à noite com frequência, trabalhava muito e gastava meu salário em sapatos Prada que usava apenas uma vez. Eu era casada – e sim, ter um bebê fazia parte do plano – mas nós não sabíamos que iria acontecer tão cedo. Quando aconteceu, meu marido e eu não tínhamos ideia dos desafios que teríamos que enfrentar.

 

Como eu fui a primeira do meu grupo de amigas a ter um bebê, me tornei uma espécie de “cobaia”. Enquanto elas estavam conquistando o mundo e progredindo, eu estava em casa assistindo Yo Gabba Gabba e sentindo meu cérebro sair pelas minhas orelhas. Eu sentia que estava desbravando um território novo, totalmente sozinha: quem poderia saber que meu filho só pararia de chorar no meio da madrugada se eu fizesse agachamentos com ele, preso num Baby Bjorn ao som de Bob Marley? Eu gostaria de ter recebido algumas pistas para chegar a esta solução extremamente específica, mas não tive nada disso.

 

Não há dúvida de que mães de primeira viagem sentem uma intensa pressão para alcançar certos padrões e cumprir expectativas, mas às vezes a pior cobrança vem de nós mesmas. Eu, certamente, senti a pressão para reinventar a roda e fazer tudo como se eu fosse a primeira, o que me fazia pensar que, de alguma maneira, ia ser diferente.

 

Mas em vez de ficar animada para criar meus novos métodos, eu sentia algo semelhante ao que vivenciei na minha vida profissional: Seria ótimo se os caras mais experientes tivessem me dado uma dica, em vez de observar enquanto eu dava cabeçadas na parede até encontrar a solução. Agora que já tenho nove anos de experiência, gostaria de poder voltar no tempo e dizer muitas coisas a mim mesma, quando tinha 28 anos. Como recordar pode ser uma ótima forma de seguir adiante, e como chegou a minha hora de transmitir sabedoria, vou explicar cada uma destas coisas.

 

Aquilo que você não quer ouvir.

É unanimidade: toda mãe que conheço diz que gostaria de pedir à sua versão mais jovem que não se estressasse pelas coisas pequenas. Tente se acalmar. Por que ele ainda não está andando? Eu brinquei com ele o suficiente esta semana? A cabeça dele está plana? Eu tirei leite suficiente? Ele está com fome? Esse restaurante não é barulhento demais? Você sente um medo constante de estragar aquela criança pura e perfeita. Mas na verdade, você não vai fazer isso. Eu costumava pensar que meus filhos conseguiam sentir minha ansiedade e medo, mesmo estando do outro lado do quarto, e por isso também ficavam estressados. Isso pode não ter sido cientificamente comprovado, mas quando eu estava calma, eles também se acalmavam. Você precisa pelo menos tentar.

 

As rotinas são uma ferramenta, não uma obrigação.

No meu estado de delírio, eu me convenci de que estava criando a criança mais perfeita do mundo, e de que a perfeição requeria uma aderência rígida a regras e rotinas. Eu me martirizava, acordava às 3 horas da madrugada para trabalhar na minha estratégia de capacitação de sono até que ficava exausta com o bebê mais acordado do mundo. Novidade: você não é a primeira pessoa que teve um filho. Seu filho não é o único com um padrão de sono insano. Então, não enlouqueça por pular uma soneca da tarde ou adiar a hora de dormir à noite. Mantenha uma rotina, se você achar que ela é útil, mas teste seus limites e faça alterações. Ser organizada pode parecer crucial para manter a sua sanidade, no início, mas também é uma ótima forma de pavimentar o caminho para o fracasso, quando você tem que sair do cronograma, por algum motivo.

 

As rotinas existem para tornar a sua vida mais fácil. O melhor conselho que eu já recebi é de que o bebê vai se adaptar à sua vida, e não o contrário. Além disso, nunca sinta que você tem que provar o quanto é desencanada levando seu bebê em situações nas quais você (ou ele) possa não se sentir confortável. Se um brunch de três horas, num restaurante minúsculo e barulhento, com um carrinho atrapalhando a passagem dos garçons lhe parece um pesadelo, fique em casa e convide suas amigas, ou marque para outro dia em que possa deixar seu filho com alguém.

A chupeta não irá trazer o apocalipse.

Você leu todos os livros – ou pelo menos deu uma olhada nos resultados do Google. Eu sei que você fez isso, eu era como você. Você leu como era importante permitir que seu bebê aprendesse a “se acalmar” sem qualquer tipo de ajuda. Mas quando ele está gritando a plenos pulmões por causa das cólicas, você vai começar a imaginar qual é o problema em lhe dar uma chupeta. Eu lhe digo: não há problema algum. Na verdade esta prática é recomendada pela Academia Americana de Pediatria. A chupeta não apenas pode ajudar a fazer com que o bebê pegue no sono, mas há pesquisas indicando que ela pode reduzir o risco de Síndrome da Morte Súbita e aliviar a dor depois de pequenos procedimentos. Quando uma chupeta está ao alcance e o bebê tem idade suficiente para pegá-la sozinho, isso é acalmar a si mesmo. Além disso, muitas crianças nem se apegam a ela. Ofereça se você quiser, e esta será a primeira escolha independente do seu bebê.

Por favor, não viva e morra pelos marcos alcançados.

Se seu filho quer continuar usando fraldas, dormindo no berço, ou não está falando muitas palavras, tudo bem. Ele vai fazer tudo isso quando estiver pronto. Às vezes um incentivo pode ajudar, mas ao dar à criança espaço para se desenvolver de acordo com seu próprio ritmo, você estará criando um ambiente saudável e acolhedor. Ficar estressada por causa do que ela deveria estar fazendo, pode acabar sendo uma forma de pressioná-la – e a vida se encarregará de fazer isso com frequência, no futuro.

É claro que a melhor maneira de acalmar verdadeiramente seu nervosismo em relação ao desenvolvimento da criança, é marcar uma consulta com o seu pediatra. Você é a melhor defensora do seu filho, e junto com seu médico, forma uma equipe para ajudá-lo, enquanto ele cresce. As crianças adoram sentir que têm controle e a habilidade de fazer escolhas. Às vezes elas podem exercer este controle de formas que nos enlouquecem ou preocupam, mas meu pequeno menino que já precisou de cinco chupetas no berço, agora faz ovos mexidos para mim todo final de semana.

Você não precisa amar ficar em casa com um bebê.

Se você está de licença-maternidade em casa, com um bebê recém-nascido, ou decidiu continuar assim como parte de um plano a longo prazo, não há problema em não amartudo que isso implica. Se você tem um parceiro que trabalha fora de casa, você pode sentir inveja do tempo que ele passa longe, mas não pode fazê-lo se sentir culpado por isso. Você passa seus dias falando com aquela voz de bebê e quando encontra um adulto na vida real não consegue formar uma frase inteira que faça sentido. Acredite ou não, isso é temporário! Se você está com inveja, a ponto de querer reorganizar sua situação de trabalho/vida, tenha uma conversa honesta com seu parceiro sobre isso. Caso contrário, lembre-se do que você está ganhando e proporcionando ao estar em casa durante este período, e reconheça também as contribuições do seu parceiro.

Sobre a amamentação.

Talvez você planejasse oferecer os melhores nutrientes para o seu bebê, mas as coisas nem sempre acontecem como gostaríamos. Se você alimentar seu filho de outra forma – porque era isso que queria fazer ou porque chegou a este ponto após muitas tentativas e erros – por favor tente ignorar aqueles que só querem criticar, envergonhar e policiar outras mães e pais e acredite: você está fazendo o melhor pelo seu bebê.

Um grande segredo sobre a leitura.

Em meio a todos aqueles livros apropriados para crianças que você já decorou de tanto ler em voz alta para o seu filho, não há problema em incluir aquele artigo da Vanity Fairque lhe interessava. Seu bebê só quer ouvir sua voz, independentemente do que você estiver dizendo. Você também precisa estimular o seu cérebro, então esqueça as histórias infantis por um tempo e leia algo do seu interesse para a criança. Além disso, nunca é cedo demais para começar a ficar a par das notícias mundiais.

Questione suas regras, porque as crianças certamente vão fazer isso.

Seu filho não é uma representação fiel de você, e você talvez note alguns de seus defeitos nele, mas não brigue por isso ou tente compensar algo, excessivamente. Use estas características da melhor maneira. Todo mundo nasce com suas forças e fraquezas individuais e únicas. Seus filhos vão responder, vão ser tão sensíveis que você vai querer bater a sua própria cabeça na parede às vezes, mas eles também terão crenças fortes definidas por si mesmos (como o fato de que todos os alimentos precisam ser comidos “grandes”, e não cortados em pedaços). Ensine a eles como defender seus argumentos e expor suas ideias. Isso vai trazer muito mais benefício do que dizer “não” ou responder “porque eu mandei”. Converse sobre o que você está pedindo para que eles se acostumem a este tipo de interação em suas vidas.

Cuide de si mesma.

Eu já estava com os cabelos completamente brancos aos 30 anos de idade. Eu queria ser aquelas mães cheias de estilo com um cabelo acinzentado moderno, sedoso e brilhante, mas aquilo não era para mim. E então eu encontrei um colorista porque queria uma mudança. Aprendi que aquelas minhas visitas mensais ao salão quebravam a monotonia e me proporcionavam a pausa necessária durante a qual eu não precisava ser produtiva. Estes se tornaram momentos de meditação para mim durante aqueles primeiros anos. Eles significavam que eu ia tomar uma xícara de café, ficar com meus cabelos maravilhosos, abrir meus e-mails e ler um pouco, se tivesse vontade.

Encontre algo que você possa transformar num compromisso semanal ou mensal, consigo mesma. Marque na agenda e aguarde com ansiedade aquele momento “só seu”. Seja uma aula de ioga ou um dia completo de tratamentos no spa, longe de casa, é muito importante cuidar de si mesma. Um aviso: você pode passar seu tempo “consigo mesma” olhando fotos fofas do seu filho no seu celular. Acontece.

Não leve as coisas para o lado pessoal.

Você vai perder o contato com cerca de 40% dos seus amigos atuais. Seja o grupo com quem você estudava na escola, a galera da faculdade que se juntava todos os finais de semana – talvez eles sejam inclusive padrinhos do seu primeiro filho – as pessoas vão seguir em frente. Elas não esqueceram que você existe, mas elas também precisam continuar com as suas próprias vidas. A questão não é você; todos têm seus próprios eventos acontecendo e não mantêm os mesmos horários e rotinas. Quando for necessário, eles estarão lá – talvez você precise chamá-los de tempos em tempos, ou fazer uma leve pressão para ser incluída nos planos novamente.

Revele as fotos.

Não deixe que a vida inteira do seu filho seja documentada unicamente dentro do seu celular. Você não tem ideia de quantas vezes meu telefone quebrou e eu perdi dois anos de lembranças junto com ele. Sim, você pode armazenar tudo “na nuvem”, mas há algo muito especial nas fotos reveladas. Uma solução simples é imprimir um álbum de fotos com o Chatbooks, que envia álbuns com base nas seleções de fotos do seu celular, Instagram ou Facebook. Uma opção fantástica quando você não tiver mais espaço nas paredes de casa.

Não seja tão dura com o mundo cor-de-rosa.

Esta pode não ser uma questão relevante para você, mas na minha casa o rosa se transformou num campo de batalha. Eu tentava evitá-lo – junto com qualquer coisa relacionada a princesas – a todo custo, mas minha filha praticamente mergulhava no rosa, sempre que tinha a oportunidade. Ela também acha que Rey de ‘Star Wars: O Despertar da Força’ é a melhor super-heroína do mundo, e acha que os contos de fada dos irmãos Grimm são “chatos porque as meninas sempre são salvas por estranhos ou se casam com eles”.

Se você também enfrentar um problema cor-de-rosa, tente se acalmar e incentive os dois lados na sua filha. Força, independência, ousadia, empatia e sensibilidade são ótimos traços para crianças de todos os gêneros. Nenhum deles deve ficar preso às meninas ou aos meninos, e o mesmo vale para as cores. Além disso, quantos pais de crianças criadas sem um gênero definido vestem seus filhos de rosa? Chegou a hora de entender por que exatamente nós costumávamos fugir desta cor, em primeiro lugar.

Não vire o rosto para as roupas confortáveis.

Ah, sei, você adora a Vogue e jurou que nunca usaria suas roupas de ginástica depois do meio-dia após ter filhos. Tente tirar seu filho da cama e alimentá-lo em 15 minutos enquanto o outro está praticando três acordes repetitivos na sua guitarra, mas, oops, ele esqueceu os sapatos e já está dentro do carro? O tempo é essencial. Use o que der e continue com a sua vida. Um dia, quando você menos esperar, vai estar se vestindo de forma estilosa novamente. Não se estresse com este assunto quando as roupas são a última coisa na sua cabeça.

Aquela outra coisa que você não quer ouvir: Aproveite este período!

Você pode se perguntar: Por que eu fiz faculdade? Para trocar fraldas e falar com essa voz ridícula? A monotonia que você está experimentando é, de novo, temporária. Você vai esquecer as noites sem dormir e se lembrar do quanto foi lindo quando seu bebê comeu uma pera pela primeira vez. Mas você não vai esquecer a habilidade de resolver certos problemas naquelas noites em claro, ou fazer as coisas com um sorriso no rosto, tão eficazmente e útil, umas 100 vezes ao dia, seja com filhos ou em qualquer outro lugar do “mundo real”. Tudo que você faz em seu papel de mãe é um treino prático, que pode ajudá-la na sua carreira, ou a continuar obtendo sucesso na criação dos seus filhos. Mas também é lindo, fofo, bobo e divertido. Então aproveite! Em vez de pensar na passagem do tempo de forma melancólica, tente fazer o melhor do seu caos diário. Um dia, em breve, você será como eu e estará dizendo às novas mães que o tempo voou.

Kelly Kasouf

Refinery 29 UK

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