Rui Car
28/02/2018 10h45 - Atualizado em 28/02/2018 09h18

Um em cada sete adolescentes envia sexting

Você sabe o que é isso?

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Sexting é um termo inglês que se refere a mensagens de texto de cunho sexual, geralmente com o uso de imagens e vídeos sexualmente explícitos (as famosas “nudes”), enviadas através de dispositivos eletrônicos, como smartphones. Com o aumento vertiginoso no uso destes dispositivos nos últimos anos, o termo passou a ser cada vez mais usado, e geralmente se refere a conversas saudáveis entre dois adultos. Mas o sexting também está no vocabulário dos adolescentes.

 

De acordo com uma pesquisa feita com mais de 110 mil adolescentes de todo o mundo, um de cada sete entre eles diz enviar este tipo de mensagem, e um em cada quatro as recebe.

 

Em um texto publicado no portal The Conversation, os autores da pesquisa, Sheri Madigan, da Universidade de Calgary, no Canadá, e Jeff Temple, da Universidade do Texas, nos EUA, avaliam os resultados e debatem se este é um motivo de preocupação para os pais.

 

Eles afirmam que, enquanto o sexting tem aumentado entre os adolescentes, o sexo adolescente propriamente dito, por outro lado, sofreu um declínio na última década. “Nossa equipe realizou uma meta-análise da literatura de pesquisa, com base em 39 estudos de pesquisa sobre sexting juvenil internacionalmente entre 2009 e 2016. Descobrimos que aproximadamente 15% dos adolescentes estão enviando sexting. Enquanto isso, cerca de 41% dos adolescentes estão tendo relações sexuais, de acordo com um relatório de 2018 do Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos”, apontam no texto.

 

Um dado interessante descoberto por eles é que não há diferença aparente entre os envios de imagens entre meninos e meninas. “Os meninos são frequentemente retratados como solicitantes, e meninas como remetentes, de imagens ou vídeos nus. Os achados do nosso estudo desmascaram essa suposição amplamente assumida e mostram que meninos e meninas são igualmente suscetíveis de participar do sexting”, apontam.

 

Perigo?

Os autores defendem que este é um comportamento natural e adaptado ao mundo virtual. “Com a onipresença dos smartphones e o aumento do uso digital em todas as categorias de idade, os pais não devem se surpreender que os adolescentes se envolvam em sexting com outros adolescentes. Os pesquisadores sugerem que o sexting adolescente consensual pode ser um componente normal do comportamento e do desenvolvimento sexual na era digital. O aumento da prevalência deste comportamento sexual, em indivíduos mais velhos em particular, corresponde ao seu crescente interesse pela exploração sexual e desenvolvimento de identidade”, apontam.

 

Eles esclarecem que, apesar do temor de que esse comportamento traga algum risco, há muito pouca ou nenhuma evidência de relação entre o sexting e problemas como solidão ou depressão. Para eles, o maior problema é se a troca de mensagens é consensual.

 

“Embora meninas e meninos tenham uma quantidade similar, há diferenças importantes na percepção desse comportamento entre os jovens. Em comparação com os meninos, as meninas relatam sentir mais pressão para enviar sexting, e também se preocupam se serão julgadas com dureza por mandar e por não mandar sexting”, relatam. “Garotos, por outro lado, podem ver o sexting como uma oportunidade para mostrar seu status social. Este padrão duplo pode criar níveis mais altos de angústia para meninas. No momento em que o jovem pressiona “enviar”, eles confiam em que o receptor não compartilhará as imagens ou vídeos sem o seu consentimento. Sexting pode se tornar um problema quando essa confiança é violada”, ponderam. “Nossa pesquisa sugere que 12,5% dos adolescentes estão encaminhando fotos íntimas sem o consentimento do remetente”.

 

Além deste problema, os autores apontam ainda outros desafios. “Primeiro, muitos adolescentes podem sentir como se houvesse uma expectativa pelo sexting. Embora provavelmente não seja uma expectativa garantida, a ideia de que ‘meus amigos estão fazendo isso, então talvez eu devesse fazer também’ poderia ser um forte motivador entre pares”.

 

Um segundo problema que eles sugerem que pode ocorrer é quando os adolescentes são coagidos ou chantageados, quando imagens ou vídeos são usados como uma forma de ameaça. “Outro problema é a ideia de segurança digital. Os cérebros adolescentes ainda estão em desenvolvimento; a capacidade de analisar criticamente as ferramentas e aplicativos digitais que eles estão usando pode não ser suficiente para mantê-los seguros. Onde essas imagens são armazenadas? Quem, além do destinatário pretendido, tem acesso a elas? Por quanto tempo elas são mantidas digitalmente? E, se mudar de ideia, posso pegá-las de volta?”

 

Eles argumentam que estas e outras questões simplesmente podem não passar pela mente de um adolescente – e às vezes nem na de adultos – especialmente quando esses pensamentos estão competindo com o interesse sexual e a intimidade.

 

Diálogo

Os pesquisadores sugerem que os pais têm um papel fundamental em que garantir que, independentemente do que façam, os jovens ajam com consciência e segurança. “Os pais podem manter seus adolescentes conscientes e informados ao ter discussões abertas – sobre relacionamentos de namoro saudáveis, pressão dos pares, segurança digital, sexualidade e cidadania de forma mais ampla”.

 

O consenso geral, segundo eles, é que os pais e cuidadores devem ser proativos, em vez de protetores e reativos, sobre conversar com seus adolescentes sobre sexo. “Pregar a abstinência não é eficaz. Tal como acontece com a questão do sexo seguro, esta deve ser uma conversa contínua com o seu filho em vez de uma ‘conversa’. Nessas discussões, é importante enfatizar a cidadania digital. Em geral, a cidadania digital incentiva os indivíduos a agir de forma segura, legal e ética – em suas interações e comportamentos online e digitais”, apontam. É importante enfatizar que a cidadania digital se aplica também aos adultos.

 

Além disso, tais conversas podem fornecer uma abertura para discutir outros problemas sensíveis com os adolescentes, como a sexualidade. [Scientific American]

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