Rui Car
24/01/2020 11h12 - Atualizado em 24/01/2020 08h50

Uma criança de 4 anos ficou cega devido a uma gripe: com que frequência isso acontece?

O que os pais precisam saber

Assistência Familiar Alto Vale
Por: Rachel Grumman Bender / Yahoo  (Foto: GoFundMe)

Por: Rachel Grumman Bender / Yahoo (Foto: GoFundMe)

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Uma criança de 4 anos ficou cega depois de contrair uma gripe. A garotinha Jade DeLucia não havia recebido a vacina contra gripe este ano, e agora sua mãe está compartilhando a história de Jade para ajudar na conscientização, com o objetivo de salvar outras famílias de um destino semelhante.

 

Em 19 de dezembro, Jade disse à mãe, Amanda Phillips, que não estava se sentindo bem. Nos dias seguintes, Jade teve uma febre baixa, que foi tratada com remédio. Sua mãe presumiu que era simplesmente “um pequeno resfriado – ela vai superar”, disse Amanda à CNN, acrescentando: “Não havia nenhum sinal que me dissesse que algo estivesse seriamente errado com ela”.

 

Mas, em 24 de dezembro, o pai de Jade, Stephen DeLucia, encontrou sua filha desmaiada em sua cama e com febre alta. A família correu para o Centro Médico Covenant em Waterloo, Iowa, e Jade teve uma convulsão logo após sua chegada. Os médicos concordaram que a menina precisava ser levada para o Hospital Infantil Stead Family da Universidade de Iowa.

 

“Naquele momento pensei que não iria vê-la novamente”, disse Amanda à CNN. “Realmente pensei. Só de olhar para ela, eu sinceramente não achei que iria vê-la outra vez.”

 

Felizmente, Amanda e o marido viram a filha novamente, mas o prognóstico não foi nada bom. Eles foram informados de que Jade havia sofrido “dano cerebral severo” e foi diagnosticada com encefalopatia necrosante aguda – um inchaço do cérebro causado pelo vírus da gripe, que pode ser grave e, em muitos casos, fatal.

 

De acordo com um estudo de 2006 da revista Archives of Disease in Childhood (Registros de Doenças na Infância), “a forma mais grave de encefalopatia por influenza é a encefalopatia necrosante aguda. É um distúrbio grave com uma fatalidade de cerca de 30% e neurodeficiência persistente em cerca de um terço dos sobreviventes, associado à atrofia cerebral”. O estudo acrescenta que na maioria dos casos há complicações devido à infecção por influenza A, mas a influenza B “é responsável por cerca de 10%” dos casos.

 

Um estudo mais recente, publicado no Pediatric Infectious Disease Journal (Jornal de Doenças Infecciosas Pediátricas) em 2017, analisou 13 casos de encefalite/encefalopatia associada à influenza em crianças australianas com menos de 14 anos e descobriu que os resultados são “ruins”, com 7 das 13 crianças morrendo por causa de complicações relacionadas à gripe.

 

No entanto, Jade desafiou as probabilidades. Depois de dias desacordada e recebendo esteroides para diminuir a inflamação, Jade finalmente abriu os olhos em 1º de janeiro, dizendo: “’Oi mamãe’ e ‘eu estou toda atrapalhada’”, conforme uma publicação de 5 de janeiro no Facebook de Amanda Phillips.

 

“Ela tem sorte de estar viva”, disse Theresa Czech, neurologista de Jade na Universidade de Iowa, à CNN. “Ela é uma pequena guerreira. E eu acho que ela teve muita sorte.”

 

Como a gripe pode causar cegueira

A condição de Jade continuou a melhorar, mas Amanda logo percebeu que sua filha não conseguia enxergar, mesmo que não houvesse danos aos olhos da criança de quatro anos.

 

“A gripe pode causar inflamação no cérebro”, disse ao Yahoo Vida & Estilo, o Dr. Aaron Milstone, epidemiologista do hospital associado do Hospital Johns Hopkins e professor de pediatria na Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins. “Sempre que o cérebro está inflamado, os nervos podem ser danificados.”

 

Com Jade, a gripe desencadeou a encefalopatia necrosante aguda da reação imune. “Às vezes, as pessoas têm um risco genético para esse tipo de reação, mas mais frequentemente isso acontece de modo aleatório”, disse a neurologista de Jade, Czech, ao Yahoo Vida & Estilo. “Qualquer parte do cérebro pode ser afetada. Existe um alto risco de morte quando isso acontece. Aqueles que se recuperam podem apresentar diversas sequelas. No caso de Jade, a inflamação causou danos nos seus nervos visuais, levando à cegueira”.

 

Não se sabe se Jade recuperará sua visão. “Daqui a três a seis meses, saberemos”, disse a neurologista pediátrica à CNN. “Qualquer que seja a recuperação que ela tenha daqui seis meses, é provável que vai ser o máximo que ela conseguirá recuperar.”

 

Czech diz ao Yahoo Vida & Estilo: “Espero que ela recupere sua visão à medida que seu cérebro se recupere dessa doença. Se ela melhorar, pode levar semanas ou meses e sua recuperação pode não ser completa”.

 

Depois de quase duas semanas no hospital, Jade recebeu alta no dia 9 de janeiro (a família tem um GoFundMe para ajudar nas despesas médicas). Amanda e seu marido estão felizes por sua filha estar viva e voltar para casa. “Somos muito abençoados porque, de tudo o que poderia ter acontecido, ela ainda está aqui conosco”, escreveu Amanda em uma postagem no dia 9 de janeiro no Facebook. “Nós não perdemos nossa filha”.

 

Jade DeLucia no hospital devido a complicações da gripe. (Foto: GoFundMe)
Jade DeLucia no hospital devido a complicações da gripe. (Foto: GoFundMe)
 

O que os pais precisam saber

Milstone diz ao Yahoo Vida & Estilo que as complicações da gripe de Jade não são comuns. “A cegueira é uma complicação muito rara da gripe”, diz ele.

 

Dito isto, existem certos sinais de que os pais devem estar cientes se o filho desenvolver uma gripe.

 

“Os pais devem levar o filho ao médico se desenvolverem sintomas de gripe como febre alta, tosse e dor de garganta”, disse Milstone ao Yahoo Vida & Estilo. “Se a gripe piorar ou a criança ficar desidratada, tiver problemas para respirar, ficar com muito sono e difícil de acordar, ou se os pais tiverem outras preocupações, eles também devem procurar atendimento médico”.

 

Milstone acrescenta: “Em raras ocasiões, o vírus da influenza pode ser mortal; portanto, os pais devem consultar o médico, se estiverem preocupados com os sintomas”.

 

A temporada de gripe 2019-2020 – que já está se tornando uma das piores que os EUA já viu em anos – foi particularmente prejudicial às crianças. Em meados de dezembro, o CDC informou que seis crianças haviam morrido de gripe. Mas as estatísticas mais recentes do CDC mostram que esse número subiu para 32 crianças.

 

“As crianças são particularmente vulneráveis porque seu sistema imunológico não está totalmente desenvolvido”, disse Randell Wexler, médico de medicina familiar do Centro Médico Wexner da Universidade Estadual de Ohio. “Além disso, crianças com asma – assim como outras doenças crônicas – são mais suscetíveis e não respondem a um vírus da mesma forma que os adultos. Crianças com menos de cinco anos em geral, e aquelas com menos de um ano de idade, estão em risco maior”.

 

As vacinas contra gripe podem ajudar significativamente a reduzir as hospitalizações. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, um estudo de 2014 descobriu que as vacinas contra a gripe reduziram o risco de crianças serem admitidas em unidades de terapia intensiva pediátricas contra influenza com risco de vida em 74% durante as temporadas de gripe 2010-2012. Além disso, a vacinação contra a gripe reduz o risco da doença entre 40% e 60%, de acordo com o CDC.

 

“Você pode contrair a gripe mesmo que tenha tomado a vacina, mas é menos provável que seja hospitalizado ou sofra complicações graves como a de Jade”, disse Czech ao Yahoo Vida & Estilo.

 

Amanda disse à CNN que Jade e sua irmã foram vacinadas contra a gripe em março de 2019, mas a mãe pensou, erroneamente, que a vacina era eficaz por um ano inteiro. Ela também não sabia que os vírus mudam a cada temporada de gripe, portanto, uma nova vacina seria necessária para a temporada 2019-2020. Agora, Amanda espera ajudar na conscientização sobre a importância de vacinar as crianças contra a gripe todo ano.

 

“Se eu puder impedir que uma criança fique doente, é isso que quero fazer”, disse Amanda à CNN. “É terrível ver seu filho sofrer assim

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