Rui Car
14/02/2019 11h30 - Atualizado em 14/02/2019 08h54

“Você só vê desesperança ao redor”, diz psicóloga que foi a Brumadinho

População local vem recebendo ajuda, mas teme que com o passar do tempo o fato caia no esquecimento

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Portal Minha Vida

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“Falta de vida”. A definição foi dada à primeira impressão sobre Brumadinho, cidade atingida por lama da barragem da mineradora Vale, pela psicóloga Cristina Arima. Ela esteve no local como voluntária no fim de semana seguinte à tragédia. Ao se aproximar da cidade, ainda na estrada, o que se via eram jornalistas, o rio de lama ao fundo e pessoas andando próximo a ele, bem como estabelecimentos abertos. “É como se a cidade estivesse lutando para continuar a vida normal”, relata.

 

 

Cristina trabalha no desenvolvimento de pessoas em uma empresa de bebidas, mas, por sua experiência em uma companhia aérea, já havia se especializado em lidar com tragédias. No entanto, a psicóloga foi até Brumadinho como voluntária de uma ONG, a SAS Brasil – Saúde e Alegria nos Sertões.

 

Apesar de ficar pertinho da capital de Minas Gerais, a pequena Brumadinho não seria tão conhecida se não tivesse acontecido lá o rompimento da barragem da Mina do Feijão, da mineradora Vale. O desastre fez com que uma maré de lama tóxica atingisse parte da cidade, cobrindo pessoas, casas e comércios. Até hoje, 19 dias após a tragédia, foram 160 mortos identificados, além de 155 com seu desaparecimento notificado.

 

Na prática, esses números fazem com que, na cidade de quase 37 mil habitantes, seja muito comum encontrar quem teve algum parente ou amigo levado pela lama. Cristina contou que, após um dia inteiro conversando com um voluntário do bairro que visitaram, descobriu que ele tinha perdido dois membros da família.

 

“Ao longo da estrada, já se vê uma dor muito grande na cidade. As pessoas ficam paradas olhando para o infinito”, lamenta.

 

 

Luto em conjunto

Ninguém pode ser substituído. Quem já perdeu alguém sabe que a dor do luto só é vivenciada por quem passa por ele. No entanto, a psicóloga reforça a importância de vivenciá-lo em meio a pessoas que ofereçam suporte e conforto. “Quando a gente está falando de morte, uma das formas de você elaborar é ver que tem pessoas que passaram por isso e que a vida, de alguma forma, vai seguir”, comenta Cristina.

 

No caso de Brumadinho, o luto generalizado pelo qual passa a cidade é um fator que torna esse processo ainda mais difícil. “Você só vê desesperança ao seu redor. Parece que vai no enterro do futuro. Todo mundo compartilha a mesma dor, mas também a mesma desesperança e o medo muito grande de que a cidade vá ficar assim para sempre”, lamenta a psicóloga.

 

A grande quantidade de desaparecidos agrava o entendimento dessas perdas. Você já parou para pensar por qual motivo cerimônias como velórios e enterros são comuns em tantas culturas? Mesmo sabendo que as chances de sobrevivências após a avalanche de lama são mínimas, quem não encontra um corpo pode ter dificuldade de entender que essas mortes ocorreram. “Fazer um luto sem o simbólico, como um enterro, torna mais difícil elaborar essa situação”, explica a psicóloga Cristina.

 

Medo do esquecimento

A tragédia levou a uma comoção nacional, o que fez Brumadinho ser motivo de doações e ajuda de todo o País.

 

Cristina relatou que, ao chegar na cidade, o grupo foi a um posto de recebimento de doações, quando foi informado que estava lotado. “Era uma imagem muito forte. Um anfiteatro lotado de roupa e água, mas muita desinformação”, completa. Disseram que era melhor levarem os itens que arrecadaram para outros lugares, ou entregar diretamente às famílias que precisavam.

 

 

Brumadinho ainda está no centro das atenções da mídia e os trabalhos de resgate e identificação dos corpos ainda não foram concluídos. No entanto, parece inevitável que os olhares diminuam quando o tempo for passando.

 

Segundo a psicóloga, impera na cidade um medo de que, quando essa atenção acabar, o que restou da cidade fique desamparado. Afinal, para que as famílias se reergam, irá levar tempo.

 

Como ajudar Brumadinho

Cristina foi até Brumadinho como parte da ONG SAS Brasil. A ideia era levar doações e fazer uma atividade com as crianças. No entanto, pelo grande número de interessados em ajudar, muitas instituições locais, como o Serviço Social Autônomo (Servas), estão encerrando o cadastro para ajuda humanitária e animal na região.

 

Só a plataforma Transforma Brasil recebeu 4663 pessoas inscritas para serem voluntárias na região.

 

Para quem quiser ajudar com doações, o Banco do Brasil abriu uma conta corrente em nome da prefeitura para receber valores. A agência é 1669-1 e a conta corrente é 200-3, em nome de SOS Brumadinho (CNPJ 18.363.929/0001-40).

 

 

A Caixa Econômica Federal teve a mesma iniciativa. Os dados da conta são: agência 2808, operação 013, conta: 3-5, em nome de Juntos por Brumadinho (CNPJ 18.363.929/0001-40).

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