Rui Car
25/12/2018 09h55 - Atualizado em 25/12/2018 09h15

Vou ter “aquela conversa” com meus filhos porque meus pais se recusaram a tê-la comigo

Uma hora, a conversa tem que sair

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“Quando você planeja ter ‘aquela conversa’?” uma mãe me perguntou no parquinho. Eu não entendi o que ela quis dizer. “Ah, falar com meus filhos sobre sexo? Conversamos sobre este assunto desde que eles eram pequenos,” respondi. Então vi uma expressão horrorizada tomar conta do seu rosto. Eu tentei explicar o meu raciocínio para ajudá-la a entender que eu não estava arruinando a inocência dos meus filhos, e sim tentando criar crianças saudáveis, de mente aberta e com um bom relacionamento com seus corpos,que não precisam cobrir os olhos ou rir de forma incontrolável aos 15 anos quando alguém fala a palavra “vagina”. Também faço isso porque vivi exatamente o oposto com meus próprios pais.

 

Quando eu era mais nova, era incrivelmente ingênua. “Deixe que ela mantenha a inocência enquanto for possível,” minha mãe costumava dizer às pessoas. Quando eu tinha 13 anos – depois de ficar confusa com a risada de todos no cinema quando Doofy entrou no quarto com um aspirador em ‘Todo Mundo em Pânico’ – ela me perguntou se eu sabia algo sobre sexo. Quando eu disse que não entendi por que todo mundo tinha achado aquela cena tão engraçada, minha mãe e minha irmã mais velha riram histericamente.

 

Demorei muito tempo para superar a vergonha e o trauma que envolviam o sexo em um estilo de criação tão restritivo.

 

“Se você planeja ter relações sexuais . . .” ela começou a falar mais tarde, naquele mesmo dia, na praça de alimentação de um shopping, com seu namorado sentado ao seu lado. Eu congelei por dentro e quase tampei os ouvidos dizendo “La la la, não consigo ouvir!” Meus familiares praticamente não se abraçavam, imagine então falar sobre relações físicas íntimas. Eu imagino que eles pensavam que se eu não soubesse, teria menos curiosidade. “É melhor esperar até se casar. Assim você terá menos chance de se machucar,” disse ela, depois que eu me recusei a ser submetida a uma experiência tão embaraçosa.

 

Vamos avançar para quando eu tinha 19 anos. Até então, eu evitava ter um namorado porque sempre me disseram para “nunca deitar ao lado de um menino porque eles só querem sexo”. Eu não sabia como o sexo funcionava, e muito menos qual era a aparência de um pênis. Crescendo em Arkansas, eu nem sabia que eu tinha “permissão” para ter relações físicas com mulheres também, embora já estivesse tendo relações emocionalmente íntimas com elas. Eu só sabia que o sexo era um tabu. Eu me lembro perfeitamente das mensagens conflitantes que vinham de todos os lados enquanto eu crescia em uma região tão conservadora dos Estados Unidos. “Não faça sexo antes do casamento, mas se fizer, assegure-se de usar um método contraceptivo. Mas você não vai conseguir um sem dizer que está fazendo sexo, e isso seria errado. Então, não faça sexo antes do casamento”. Era isso. A extensão total da minha educação sexual. Abstinência.

 

Demorei muito para superar a vergonha e o trauma que envolviam o sexo em um estilo de criação tão restritivo, mesmo depois de me mudar para uma área muito mais progressiva. Parte de tudo isso ainda está presente na minha psique, fazendo com que eu me sinta, de certa forma, errada ou quebrada. Mas o sexo é uma experiência saudável e natural que não precisa de todas estas regras e deste estigma ao seu redor, motivo pelo qual eu decidi manter as “conversas” sérias individuais fora da minha casa, e em vez disso, tenho discussões abertas com meus filhos sobre consentimento, identificação apropriada das partes do corpo, a mecânica da concepção de um bebê, e todos os diferentes tipos de relacionamentos e identidades que existem.

 

Meus filhos têm 8 e 4 anos, respectivamente, e ambos sabem o que é um pênis e o que é uma vulva. Eles sabem que o pênis tem espermatozoides e que eles viajam pelo canal vaginal em sua jornada para fertilizar o óvulo. Eles sabem que um homem e uma mulher, duas mulheres, dois homens, ou um pai ou mãe podem ter filhos de diversas formas diferentes. Eles sabem que algumas mulheres têm pênis. Eles sabem que algumas pessoas não querem ter filhos, e que não há problema nisso. Eles sabem que seus corpos são só seus, e são incentivados a decidir e assumir a responsabilidade pelo que querem fazer com eles. Conforme eles crescerem, as conversas vão evoluir e ser mais focadas no que eles estão passando em cada momento. Eu imagino que quando eles forem adolescentes, terão muitas ferramentas mentais a respeito de como o sexo pode ser, por prazer ou por propósito. Eles vão saber como praticar o sexo seguro, e vão saber que sempre poderão ter uma discussão aberta e segura com a mãe deles sobre suas experiências sexuais, caso queiram.

 

 

Sam Milam

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