Rui Car
13/11/2017 08h32

Zorra: A obsessão da Globo em fazer do cristianismo uma piada

Para criador do programa, preconceito só vale com a fé cristã

Assistência Familiar Alto Vale
Gospel Prime

Gospel Prime

Delta Ativa

Quando ainda se chamava Zorra Total, o humorístico de sábado da rede Globo ficou 15 anos no ar e era recheado de bordões e o humor “à moda antiga”. Considerado ultrapassado em tempos onde o politicamente correto predomina, saiu do ar para voltar “repaginado”. Com o nome encolhido para “Zorra”, apostou em quadros mais curtos, com atores mais novos, que fizeram sucesso em outras emissoras ou na internet.

 

Seu principal roteirista Marcius Melhem é o mesmo de “Tá no Ar”, ele disse em entrevistas que a proposta era fazer um humor “popular e inteligente”. Para alcançar esse objetivo, ele disse que orientou os escritores das esquetes a evitar “o sexismo, as piadas homofóbicas e preconceituosas”.

 

Já que não queria mais fazer piada com mulher burra e com homossexual, Melhem e sua equipe escolheram então satirizar a fé. Em uma entrevista ele afirmou: “Não estamos aqui para criticar religião. Quando fazemos uma crítica, geralmente é ao uso que se faz dela, não à religião em si. Ela a gente respeita”.

 

A promessa de que não haveria críticas cai por terra quando se nota que nas últimas semanas, o programa vem incluindo a fé cristã regularmente como tema das piadas.

 

Em 14 de outubro, no quadro “Pastor moderno”, o líder evangélico interpretado por Welder Rodrigues, diz que o dízimo é o momento “mais importante do culto”. O tema da piada é a comparação da igreja com um táxi, forçado a competir com outras igrejas novas, as “do aplicativo”.

 

Uma semana depois, em 21 de outubro, no esquete “Milagre de Jesus”, o Cristo vivido pelo ator George Sauma se comporta como um jogador de futebol, fazendo milagres como quem marca um gol e corre para se exibir para a torcida.

 

No programa seguinte, de 28 de outubro, apresenta-se um “Jesus prafrentex” no esquete onde ele critica a Deus pelo conteúdo da Bíblia, dizendo que estava ultrapassada e precisaria ser reescrita.

 

O Zorra mais recente, que foi ao ar em 11 de novembro apresentou o quadro “Jesus voltará” mostrando a mesma igreja de outros programas. Jesus vai visitar os fiéis no templo e o pastor vivido por Welder Rodrigues manda que o expulsem. “Vai estragar o nosso negócio”, diz o líder religioso a um dos seus assistentes.

 

Essa aparente obsessão da rede Globo em fazer do cristianismo uma piada não é novidade. A diferença parece ser o tipo de reação que ela causa nas pessoas.

 

Em dezembro de 2015, três esquetes do Zorra fazendo piadas Nossa Senhora de Fátima Zorra revoltaram católicos do país todo. Imediatamente, a Arquidiocese de São Paulo publicou uma nota de repúdio criticando a emissora, afirmando que não ficava bem “fazer zorra da mãe dos outros, nem das pessoas e coisas sagradas”.

 

A Globo respondeu, também em nota, afirmando que o Zorra deseja apenas entreter e que “respeita a diversidade, a liberdade de expressão e repudia qualquer tipo de intolerância e preconceito”. Desde então não houve mais piadas com zombaria à igreja católica.

 

Aparentemente, falta aos líderes evangélicos a mesma capacidade de indignação da Arquidiocese pela maneira estereotipada como foram retratados. A emissora, por sua vez, continua repudiando “intolerância e preconceito”, menos quando se trata da fé cristã. Afinal, nenhum quadro do Zorra neste mesmo período fez piadas, por exemplo, com Maomé ou com as religiões afro-brasileiras.

Justen Celulares