Rui Car
09/03/2017 11h11 - Atualizado em 09/03/2017 08h39

100 dias da tragédia: com feridas ainda abertas, Chapecoense busca evolução

Famílias ainda esperam respostas sobre seguro da LaMia

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Globo Esporte

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Há exatamente 100 dias o mundo se abraçava em luto pelo trágico acidente com o avião que levava a Chapecoense para a disputa da final da Copa Sul-americana. Resultado: 71 vítimas fatais, seis sobreviventes, famílias desoladas e uma cidade tendo que lidar sem o carismático grupo que tantas alegrias lhe trouxe. Depois da insegurança de não saber o que seria de seu clube, a torcida vê a Chape aos poucos se reerguer em campo. Enquanto isso, as questões burocráticas seguem sem um desfecho. 

 

Confira abaixo como está a Chape passados 100 dias da tragédia

EM CAMPO

Dentro dos gramados, a reconstrução da Chapecoense tem surpreendido. Após o acidente, o clube precisou rapidamente montar um novo departamento de Futebol e também um grupo de jogadores. Foram contratados 24 atletas, que se juntaram com 11 jogadores da base e também  três remanescentes, além de Alan Ruschel e Neto, sobreviventes do acidente, que fazem sua recuperação em Chapecó e devem voltar a jogar.

Com um time montado às pressas, a equipe verde e branca fez um bom turno de Campeonato Catarinense, ficando na segunda colocação, atrás apenas de Avaí – depois de um começo bom, teve uma fase de baixa produção, mas voltou a crescer na hora certa. Já na Libertadores, a Chape começou com o pé direito. Pela primeira vez disputando a competição, o time verde e branco estreou com vitória fora de casa em cima do Zulia, da Venezuela, na última terça. 

 

SEGURO DA LAMIA

No final de fevereiro, os responsáveis pelas questões jurídicas da Chapecoense participaram de uma reunião em Buenos Aires com as seguradoras contratadas pela LaMia, empresa aérea que levava a delegação para a final da Sul-Americana. Por conta de cláusulas de sigilo presentes no contrato entre a empresa aérea e seguradoras, os assuntos debatidos no encontro são mantidos em segredo. Nem mesmo os familiares dos mortos e os sobreviventes receberam orientações sobre isso.

 

De acordo com o vice-presidente jurídico da Chapecoense, o advogado Luiz Antônio Palaoro, o clube fará uma reunião com todas as famílias das vítimas fatais e sobreviventes no próximo dia 15, em Florianópolis. Segundo o dirigente, neste encontro será repassado aos envolvidos as informações recebidas das seguradoras.

 

– Algumas questões têm cláusula de confidencialidade e as seguradoras são exigentes em relação a isso. Até agora não se tem certeza absoluta de nada, mas também não estão encerradas as negociações com as seguradoras – afirma Luiz Antônio Palaoro.

 

A Chapecoense ainda aguarda, de acordo com Palaoro, o encerramento do inquérito que investiga o acidente, de responsabilidade dos Ministérios Públicos do Brasil, da Bolívia e da Colômbia. O resultado definirá quais os próximos passos da Chapecoense na esfera jurídica.

 

APOIO ÀS FAMÍLIAS

Família Danilo Chapecoense Velório Chapecó (Foto: David Abramvezt)Família de Danilo no velório em Chapecó (Foto: David Abramvezt)

 

Desde o momento inicial da tragédia, a Chapecoense se mostrou muito solícita com os familiares. O clube criou grupos de apoio específicos para prestar o apoio necessário. A indenização que era prevista em contrato com os atletas já foi repassada para as famílias. O clube possuía um seguro para cada jogador equivalente a 14 salários, com uma cláusula que dobraria o valor em caso de morte trágica. Portanto, cada família de atleta recebeu 28 salários da Chapecoense e outros 12, previstos em lei, pagos pela CBF, totalizando 40 salários.

 

No entanto, essas indenizações não se aplicam em todos os casos, já que abrange apenas atletas. Assim, o clube recebeu diversas doações e também realizou eventos, como o jogo da amizade, contra o Palmeiras, em janeiro, com o intuito de arrecadar fundos para as famílias. O clube divulgou nesta quarta-feira os valores arrecadados e também os que foram repassados para cada vítima, inclusive as sobreviventes. De acordo com a nota, foram arrecadados R$2.977.360,37, divididos para as famílias de 64 morto e de quatro sobreviventes, totalizando 68 partes. Assim, cada beneficiado recebeu o montante de R$43.784,71.

 

FINANÇAS

Sócios
Depois do acidente de 29 de novembro, a Chape ganhou cerca de 3.000 novos associados e chegou à marca de 11.890 sócios-torcedores. Nesta modalidade, os participantes têm o direito de acessar o estádio gratuitamente nos jogos em que ao clube é mandante. A Arena Condá tem capacidade para 20.085 torcedores, o que gerou preocupação em não atender a demanda de torcedores. Assim, o clube encerrou temporariamente o plano para novas adesões e criou um novo modelo para atende a demanda de sócios contribuintes sensibilizados pela tragédia. No entanto, no último mês, o clube retomou o cadastro para sócios-torcedores. A principal meta do  nesta área é subsidiar a folha salarial com os valores arrecadados. Hoje o Verdão conta com cerca de 28.500 associados.

 

Camisa Chapecoense (Foto: GloboEsporte.com)Camisa usada na Libertadores (Foto: GloboEsporte.com)

 

Patrocínios
Em função da tragédia, a Chapecoense ganhou grande repercussão mundial e fez do clube um dos mais conhecidos no planeta. Com isso, também se aumentou a especulação em torno dos valores possíveis de arrecadar com o novo patrocinador master da equipe, já que o contrato com a Caixa Econômica Federal se encerrou no final de dezembro. 

 

A troca de visitas entre o xeque Hamad Bin Khalifa Bin Ahmad Al Thani, presidente da Federação de Futebol do Catar, e Plínio David De Nes Filho, presidente da Chapecoense criou na torcida a expectativa de que o clube teria, em 2017, o patrocínio de uma grande empresa catari, o que injetaria grandes valores na agremiação. No entanto, a Chape fechou acordo com a Aurora Alimentos, que já tinha sua marca exposta nas omoplatas da camisa do Verdão e a principal parceira do clube na campanha da Série B, em 2014. O valor que o clube receberá com o novo patrocinador master é de R$4,5 mi por ano, pouco mais que o arrecadado na última temporada. Clube ainda busca novas parcerias em ano com grande exposição, não apenas pela Libertadores.

 

SOBREVIVENTES

Follmann
O goleiro, que teve parte de uma perna amputada em função do acidente, já fez a colocação de uma prótese. Agora, faz o trabalho de adaptação e já consegue caminhar sem a ajuda de muletas.

 

Alan Ruschel
O lateral-esquerdo é o que está em estágio mais avançado de recuperação. O jogador já faz trabalhos de fisioterapia com bola nos gramados e planeja seu retorno aos campos em breve.

 

Neto
Em situação mais delicada do que Alan Ruschel, Neto ainda não voltou a fazer trabalhos com bola, mas programa seu retorno aos gramados na metade do ano. A equipe médica cogitou fazer uma cirurgia em seus joelhos para recuperação dos ligamentos, mas por enquanto o zagueiro não vai precisar passar pelo procedimento.

 

Rafael Henzel
O único dos 21 profissionais de imprensa que sobreviveu à queda do avião, Rafael Henzel já leva uma vida quase normal. O jornalista voltou a fazer narrações dos jogos da Chapecoense desde janeiro e recentemente passou a comentar a caminhada da Chape na Libertadores nós veículos de comunicação da RBS/SC, emissora afiliada da Rede Globo. 

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