Rui Car
25/02/2019 08h53

Advogados rebatem declarações do Flamengo, mas deixam aberta possibilidade de novo diálogo

Ao menos uma família tem interesse em retomar conversas

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Devido ao fracasso na mediação coletiva com as famílias das 10 vítimas do incêndio no Ninho do Urubu, o Flamengo parte agora para negociações individuais. Segundo o presidente Rodolfo Landim, os próprios familiares procuraram o clube para que as conversas continuassem. Na última sexta-feira, houve a primeira tratativa. Outras estão previstas para esta semana. No entanto, advogados das vítimas contestam a versão.

 

Em um grupo no aplicativo Whatsapp, com a participação dos representantes legais das vítimas, os advogados das famílias dos 10 mortos, além dos defensores de Jhonata Ventura – ferido que continua internado -, negaram qualquer contato com o Flamengo após o encontro de quinta-feira, no Tribunal de Justiça.

 

O GloboEsporte.com teve contato com advogados de seis das 10 famílias que tiveram perdas. Se houve qualquer movimento por parte de seus clientes, eles não souberam.

 

– Muita coisa dita não corresponde à realidade. Pelo o que apuramos hoje (domingo), nenhuma das 10 famílias procurou pelo Flamengo ou marcou qualquer reunião com eles – disse a advogada Paula Wolff, que representa a família do volante Jorge Eduardo.

– As duas famílias que represento não se reuniram com o clube, ainda que eu não ache a individualização das conversas uma má ideia. Não posso lhe garantir que família alguma foi procurada ou se reuniu com o clube. Falando pelas de Bernardo e Vitor, posso garantir que não houve reunião – afirmou Thiago d’Ivanenko, advogado das famílias de Bernardo Pisetta e Vitor Isaias.

 

– Conversamos e nenhuma das famílias teve encontro com o Flamengo. A avaliação que fazemos é que jogaram para a galera, que queriam dar uma resposta para a torcida, os patrocinadores. Em nenhum momento, eles disseram que aquela proposta feita era só o início da conversa. Não vai ter acordo se o Flamengo não voltar atrás. Entendemos que o presidente está há pouco tempo no cargo, mas isso não justifica – disse o advogado Márcio Costa, que representa a família de Christian Esmério.

 

 

Mariju Maciel e Paula Wolff: advogadas dizem que famílias das vítimas não retomaram conversas com o Flamengo — Foto: Vicente SedaMariju Maciel e Paula Wolff: advogadas dizem que famílias das vítimas não retomaram conversas com o Flamengo — Foto: Vicente Seda

Mariju Maciel e Paula Wolff: advogadas dizem que famílias das vítimas não retomaram conversas com o Flamengo — Foto: Vicente Seda

 

O Flamengo não dá detalhes para não expor os envolvidos, mas garante estar em negociação. Landim afirmou que os advogados do clube se reuniram com apenas uma família na sexta-feira – após o episódio no Tribunal de Justiça -, mas não citou nomes. Outros encontros devem acontecer nos próximos dias.

 

– Algumas famílias nos procuraram para voltar o processo de mediação na Justiça. Isso já voltou a ocorrer na sexta-feira. Longas reuniões. Há outras famílias agendadas para essa semana, o que nos deixa muito feliz. Dou minha palavra de honra que houve uma nova reunião com uma família na sexta-feira. Não posso expor a família. E temos outras reuniões marcadas – confirmou Landim.

 

Videoconferência e possibilidade de diálogo com Flamengo

Após a mediação no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, na última terça-feira, familiares das vítimas deixaram o encontro irritados e afirmaram que as negociações estavam encerradas. Em conversa com advogados, no entanto, o GloboEsporte.com apurou que ao menos uma das famílias está interessada em se reunir novamente com o Flamengo, o que deve acontecer em breve.

 

Os demais defensores criticaram a postura do clube, mas deixaram as portas abertas para uma nova rodada de negociações. Em alguns casos, no entanto, somente se o Flamengo topar iniciar as conversas com o valor mínimo estipulado pelo Ministério Público: R$ 2 milhões, além de R$ 10 mil até que período em que as vítimas completassem 45 anos, se estivessem vivas.

 

 

Incêndio no Ninho do Urubu matou 10 jovens das categorias de base do Flamengo — Foto: InfoesporteIncêndio no Ninho do Urubu matou 10 jovens das categorias de base do Flamengo — Foto: Infoesporte

Incêndio no Ninho do Urubu matou 10 jovens das categorias de base do Flamengo — Foto: Infoesporte

 

O grupo de advogados planeja uma videoconferência nesta segunda-feira e prepara uma ação coletiva. Indagada se já se movimentam para entrar na Justiça, Paula Wolff deixou aberta a possibilidade de diálogo, apesar das críticas ao Flamengo.

 

– Estamos tentando o diálogo, mas após essa coletiva do presidente do Flamengo ficou ainda mais complicado. Está ficando cada vez mais difícil – frisou a advogada.

Outros também não descartam uma nova mediação.

 

– É uma possibilidade. Nesse momento não dá para descartar nada. É um momento inicial, onde tudo pode acontecer. Cada família tem sua realidade e sua necessidade emergencial – ressaltou Thiago d’Ivanenko, advogado das famílias de Bernardo Pisetta e Vitor Isaias.

 

– Podemos sentar para conversar, negociar forma de pagamento, tudo certinho. Desde que o Flamengo nos garanta o piso (estipulado pelo MP) – afirmou Mariju Maciel, representante da família de Jorge Eduardo.

 

– Há possibilidade de se estabelecer diálogos para acordo. Pois, na verdade, isto já está sendo muito desgastante para as famílias. Com coerência e dignidade, se for entabulado um bom acordo para ambas as partes, não vejo porque não fazê-lo – avaliou Claudionor Beltrão, advogado da família de Gedson Santos, o Gedinho,

 

Flamengo quer ouvir necessidades e prioridades das famílias

 

Flamengo busca acordos individuais e quer ouvir prioridades de cada família  — Foto: Marcelo Cortes / FlamengoFlamengo busca acordos individuais e quer ouvir prioridades de cada família  — Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

Flamengo busca acordos individuais e quer ouvir prioridades de cada família — Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

 

Individualizar as negociações, por ora, tornou-se a única opção do Flamengo. Sempre foi, no entanto, a ideia dos advogados do clube, que deseja ouvir a necessidade de cada família. Indenização alta na mão? Um valor mensal significativo? Casa? Bolsa de estudos para um irmão? O plano é entender a necessidade de cada um e, possivelmente, individualizar as tratativas, embora não esteja descartado um acordo coletivo.

 

– Minha orientação é: busquem as necessidades e interesses individuais com as famílias. Vamos fazer acordos superiores do que os que já foram feitos. Levaremos isso para outro patamar – disse Alvaro Piquet Pessoa, advogado especializado em responsabilidade civil, contratado pelo Flamengo.

– Em relação às famílias querendo um acordo coletivo, não é o que estamos sentindo. As famílias estão vindo conversar conosco e estamos querendo ouvir as necessidades de cada uma… Nossa esperança é que consigamos chegar a um acordo rápido com todas as famílias. Algumas famílias já têm advogados para judicializar. É o direito delas. Não é o que queríamos, mas estão no direito delas – concluiu o presidente Rodolfo Landim.

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