Rui Car
21/04/2022 17h57

Após denúncias contra empresários, Tubarão se manifesta e promete buscar retratações

Empresa que administra a equipe está sendo investigada por um esquema milionário de estelionato

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Foto: Reprodução / Record TV

Foto: Reprodução / Record TV

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O Clube Atlético Tubarão se manifestou após denúncia de um esquema milionário de estelionato envolvendo seus principais investidores e prometeu buscar retratações na Justiça. O caso foi revelado com exclusividade pela NDTV | Record TV e repercutiu em todo o país no Fala Brasil.

 

Em nota, o clube esclareceu que segue trabalhando normalmente desde a retomada das suas atividades, no começo deste ano, e está empenhado no processo de reestruturação.

 

Também informou que iniciou em março a montagem do elenco para a disputa do Campeonato Catarinense Série B profissional e destacou a campanha do time de Base Sub-20, que está invicto na competição.

 

O clube ainda disse no comunicado que todos esses jogadores apoiam a gestão e entendem o momento de reestruturação e ressaltou o apoio que vem recebendo nos últimos dias de seus principais investidores, em resposta ao envolvimento do clube em supostas denúncias de estelionato.

 

Além disso, rechaçou as acusações e reafirmou seu compromisso com todos os investidores. Informou também que buscará na Justiça as retratações devidas.

 

Dívida com jogadores

 

Já sobre as 73 ações trabalhistas movidas, o clube informou que aconteceram em 2021 e 2022, quando as atividades do time estavam interrompidas por conta da pandemia.

 

Em nota, a gestão também garantiu que 20% delas já estão com os acordos individuais pagos ou em andamento. No momento, o clube só estaria aguardando a homologação de um acordo coletivo para as demais ações pela Justiça do Trabalho de Tubarão.

 

O clube também informou que já foram pagos mais de R$ 1 milhão em acordos e indenizações até o momento. Ainda alegou que o próprio jogador Wellington, volante do Fluminense e responsável pela primeira denúncia, já teria se manifestado e esclarecido que já está com todos os seus direitos assegurados em recente negociação.

 

Jogador Wellington ‘risadinha’ – Foto: Paulo Fernandes/Vasco/Divulgação/ND

Jogador Wellington “risadinha” (Foto: Paulo Fernandes / Vasco / Divulgação)

 

Por fim, o clube esclareceu que continua trabalhando com transparência, humildade e responsabilidade para voltar a conquistar títulos e ser motivo de orgulho para todos.

 

Entenda o caso

 

A crise financeira no Clube Atlético Tubarão trouxe à tona um esquema milionário de estelionato envolvendo a empresa que administra o administra. O caso foi revelado com exclusividade pela NDTV | Record TV.

 

 

Conforme mostrou a reportagem, o grupo Baltoro, detentor da K2 Soccer S.A que administra o clube do Sul catarinense, está sendo investigado por se apropriar do dinheiro dos investidores.

 

Ung Zoo Kim, dono da empresa K2 Soccer, criada para atuar na compra e venda de jogadores de futebol e em negócios do mercado esportivo, é investigado pela polícia.

 

O outro nome citado na reportagem é de Roberto Minuzzi, ex-jogador de vôlei da seleção brasileira, e vice-presidente da Baltoro.

 

Entre as vítimas, está um professor norte-americano. Ele teria investido 300 mil dólares, com a promessa de ter uma remuneração de 2% ao mês. Contudo, não obteve retorno e quando tentou resgatar o dinheiro, o equivalente a R$ 1,5 milhão, não conseguiu.

 

A empresa falou que não dispunha de recursos, na época, para pagar. Embora, lá nos Estados Unidos, a remuneração do professor seja melhor do que aqui no Brasil. 300 mil dólares para ele era um volume bem grande de dinheiro para investir”, comenta a advogada Ana Maria de Carvalho.

 

O objetivo dessas empresas era fazer vendas/transferências definitivas de jogadores para que com esses valores milionários pudessem reverter nos investimentos feitos pelo grupo Baltoro”, explica a advogada.

 

Nossa expectativa é receber da Baltoro, porque com a falência da K2 e ela sendo proprietária de 99% do Tubarão, sabemos que desta empresa não vamos receber. Nossa expectativa é que a Baltoro, que é empresa sede do Kim, responda por essas dívidas”, completa.

 

Ponto de encontro

 

Com uma câmera escondida, a reportagem da Record TV foi conhecer um ponto de encontro dessas negociações, uma charutaria de luxo do grupo Baltoro na capital do Rio Grande do Sul.

 

Charutaria em Porto Alegre – Foto: Reprodução/Record TV

Charutaria em Porto Alegre (Foto: Reprodução / Record TV)

 

O garçom recebeu a reportagem e levou até a sala onde os charutos eram escolhidos. Ali também ficam os gaveteiros com o número de frequentadores assíduos onde os fumos são armazenados até a próxima visita, como um cofre de um banco.

 

Perguntado sobre Kim, o atendente respondeu: “Ele vem bastante sim, pra fechar negócio, geralmente à noite, depois que fecha”.

 

A charutaria fica dentro de um centro comercial em uma área nobre de Porto Alegre, frequentada pela elite da região, ela também atrai clientes de outros estados e até países.

 

Um suíço teria investido 200 mil dólares no esquema depois de ser apresentado a Kim por um grupo de italianos em uma reunião que aconteceu no local.

 

Imaginando ter feito um bom negócio, ele ainda teria indicado conhecidos da Europa, pessoas com muito poder aquisitivo. Eles, no entanto, viram seus investimentos virarem fumaça.

 

Armadilhas

 

Uma das armadilhas da empresa foi colocar uma cláusula nos contratos que estipula que os possíveis processos ocorram no país de origem da vítima, o que na prática dificulta e deixa a defesa mais lenta.

 

Quando eles fizeram esse contrato, como o nosso cliente era leigo, eles colocaram que esse valor poderia ser cobrado lá nos Estados Unidos. Se for procurar essa ação lá, vai demorar 10 anos e eles não vão ser citados”, explica de Carvalho.

 

Outra amarra no documento foi estipular que em caso de conflito, o problema deverá ser resolvido em uma câmara arbitral, uma espécie de justiça particular, o que faz com que qualquer solução seja mais cara que a justiça comum.

 

A parte financeiramente mais fraca não tem como arcar com os custos e despesas. Então, por ser um procedimento caro, às vezes pessoas mais leigas, sem a assessoria de um advogado, acabam assinando o contrato com eleição de um foro arbitral e depois não tem como arcar com os custos deste tipo de demanda”, explica o advogado João Vestim Grande.

 

Contraponto

 

O núcleo de jornalismo investigativo da Record TV procurou pelos dois empresários no escritório de Porto Alegre (RS) da empresa. A reportagem foi avisada que Kim estaria em Curitiba (PR).

 

Quem recebeu a Record TV foi uma pessoa que se apresentou como um “faz tudo” e estaria ali apenas para buscar correspondência.

 

A equipe foi embora sem ter sido atendida, apenas com números de telefone para contato. A reportagem tentou contato com Minuzzi e Kim, por telefone, porém, ambos não atenderam.

 

Em posicionamento oficial, a assessoria de Kim alega que ele só tomou ciência do inquérito há poucos dias e se colocou à disposição das autoridades para apresentar toda a documentação e provar que as denúncias são inverídicas.

 

A denúncia

 

A história veio à tona a partir de uma denúncia do atleta Wellington Aparecido Martins, mais conhecido como Wellington Risadinha.

 

Atualmente o jogador está no Fluminense e foi um dos investidores ocultos da empresa. Wellington teria investido R$ 1,5 milhão. A promessa era um retorno de 108% em três anos.

 

Quando o jogador tentou resgatar o dinheiro, ele simplesmente não conseguiu. Os advogados da vítima pediram investigação por estelionato e fraude.

 

Em novo contato com a Record TV, o advogado do jogador afirmou que um acordo foi feito.

 

Fonte: ND+
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